Fotografia: Junta de Freguesia do Ferro
campo, para que te quero?
O país rural de Orlando Ribeiro há muito que acabou. Vivemos, quase todos, amontoados na faixa litoral em aglomerados urbanos, na generalidade, sem qualidade e voltámos as costas ao campo. Todavia, lentamente, o contexto atual vai-nos mostrando que todo esse território despovoado, mas recheado de património, natural e construído, e de tradição tem um enorme potencial.
Aqui e ali, os bons exemplos tornam-se evidentes e a agricultura empresarial mostra-se viável. O associativismo no Oeste, um sucesso, vai muito para além da pêra rocha e está em franca expansão. A floresta, apesar de falada apenas quando arde, evidencia números que sustentam uma irrefutável mais valia. A par de tudo isto, temos um grande número de produtos de excelência com um enorme valor acrescentado. As fileiras do vinho e do azeite são um sucesso e mostram como se deve fazer. Interrogamo-nos, porque outros não seguem o mesmo caminho?
Mais uma vez temos um excelente potencial, subaproveitado, que se traduz em oportunidades que tendencialmente ignoramos. Quando assim não é, e algum empreendedor quer avançar, as dificuldades administrativas e licenciadoras são grandes e a cultura de risco é escassa. Isto é, tudo o que depende do homem parece querer contrariar as condições naturais que temos para o sucesso agrícola. É um jeito bem português, conseguir transformar uma equação positiva num resultado negativo. Assim, continuamos, alegremente, dependentes do exterior e a nossa produtividade, apesar das condições favoráveis de que dispomos, é muito abaixo da dos nossos parceiros e concorrentes.
Segundo as últimas noticias, até os consensos conseguidos no âmbito da PAC parecem ser-nos favoráveis, designadamente, no apoio às pequenas explorações e às medidas ambientais, tais como, as culturas permanentes extensíveis e os espaços agroflorestais com maior investimento em tecnologia florestal.
O aumento da procura alimentar aponta para que o sector primário possa ser uma parcela francamente positiva para o crescimento, emprego e conservação da natureza. Alguns investimentos de monta, nomeadamente ao nível do regadio, estão assegurados; isto é, existe um contexto favorável para o campo ter uma palavra na sustentabilidade do país.
É tempo de os empresários olharem para o campo e de os agricultores serem empresários.
Carlos A Cupeto
Professor na Universidade de Évora
Carteira de Jornalista nº 4846