natalando

Esta é aquela época maravilhosa em que tudo parece mudar para pequenos e grandes. Como já aqui escrevi, para além de patetas e insustentáveis relvados, temos agora pistas de gelo. Esta das pistas de gelo é das modas mais estúpidas de que me recordo. Não consigo ver nenhum jeito nisto.

Este é o tempo em que ficamos bem retratados, sucedem-se os jantares e almoços de paz e amor e compramos o que não necessitamos muitas vezes com o dinheiro que não temos. Por uns dias vivemos no mundo do pai natal para depois voltar tudo à mesma.

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desperdício

Se há uma só palavra que caracteriza o nosso tempo e modo de vida é, sem dúvida, desperdício. É certo que é no desperdício que somos verdadeiramente eficazes. Mal usamos tudo o que tocamos: alimentos, energia, água e até o tempo. Vivíamos perto do local de trabalho, íamos almoçar a casa e agora é o que sabemos. Lembro-me de a minha mãe estar algumas vezes sem ferro de passar a roupa porque o aparelho tinha ido arranjar ao eletricista, que por acaso até vivia por cima. Parece um mundo de ficção, mas não foi assim há tanto tempo. Entretanto, fazem-nos crer que os recursos são infinitos e gratuitos. Os limões chegam-nos do Chile e as reservas de petróleo são inesgotáveis, é mais fácil acreditar no Pai Natal.

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ambiente na Europa (LIFE)

Há muitos anos que o financiamento mais importante na Europa para a área do ambiente se consubstancia no programa LIFE. O LIFE tem tradição e, atualmente, um nível de exigência bastante grande. Ou seja, não é qualquer grupo de amigos que se juntam, têm uma ideia, esboçam um programa de trabalhos e conseguem um financiamento. Diga-se, ainda em jeito de informação geral, que os montantes do LIFE são na generalidade significativos; projetos acima de um milhão de euros são comuns. Um milhão de euros é dinheiro que, se bem aplicado, pode traduzir-se em consideráveis benefícios.

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sempre o Tejo

Conversas da garrafa

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Como quase sempre acontece um “tremor de terra” pessoal empurrou a Lígia Horta para a olaria.

O ambiente, a cor, o cheiro, o barulho da roda… o barro, elevou a nova barrista para a inspiração e motivação que criou a  garrafa: “o barro invadiu a minha vida”.

Mais uma interessante conversa no fim da tarde de domingo – todos os meses no segundo e quarto domingo.

Dia 23, 18:00, excepcionalmente no Centro Cultural de Cascais falaremos de sustentabilidade à volta do livro Cancioneiro da Sustentabilidade.

Sinta-se convidado e convide.

vindima

Nos nossos campos é agora o tempo da vindima. O fim, ou início, de um ano trabalho; como alguém disse um dia “um ano inteiro à espera dela e um mês à espera que ela acabe”, tal não é a intensidade de trabalho da colheita e trabalho da uva na adega.

Vem isto a propósito de um recente artigo onde li “se as vinhas dessem dinheiro não havia tanto terreno abandonado”. Parece que há algo contraditório. Tudo o resto me diz o contrário. Mais, tenho a convicção que o vinho é um dos setores em que o nosso país se pode orgulhar e seguir o exemplo: empresariou-se e modernizou-se. Mas não, ambas as visões são bem verdadeiras. Por um lado há um país, autêntico, rural, próximo, que tende a desaparecer, sem escala competitiva num modelo global, e por outro, há o sector do vinho bem organizado e estruturado. O país próximo que alguns ainda vivem é bem expresso no texto do O Mirante, onde se lê “pela generosidade do Ribatejo mesmo nos dias mais tristes”. Abençoados homens e mulheres que cuidam da vinha para os 200 litros de vinho que garantem o consumo doméstico para o ano, “porque bebo pouco”.

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a europa e o nosso campo

Cork é uma média cidade no litoral do sul da Irlanda, com cerca de 130 mil pessoas. Nunca lá estive mas deve viver-se bem em Cork. Vem isto a propósito desta cidade ter acolhido em 1996 e 2016 (5 e 6 de setembro) uma “Conferência europeia sobre o desenvolvimento rural” promovida por Phil Hogan, Comissário Europeu para a Agricultura e Desenvolvimento Rural. Seria interessante comparar as conclusões de 96 com as de 2016 e, sobretudo, avaliar resultados após 20 anos de trabalho – desde 96 até hoje. Não vamos por aí, pois a conclusão fundamental é bem conhecida de nós, portugueses: “aos costumes disse nada”. Afinal não somos assim tão diferentes dos povos mais a norte.

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arquitectura e arte religiosas (centro UNESCO)

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entre a Terra e o Céu – “que coisa estranha são as nuvens” de José Tolentino Mendonça inspirado num filme de Paolo Pasolini.  (fotografia da Diocese de Beja)

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) é a organização de cúpula do património cultural, tendo intervenção pioneira em diversos campos, sobretudo ao nível da cooperação internacional, decisiva para a protecção de heranças culturais em risco. Com sede em Paris, está a consagrar uma atenção crescente ao património religioso, também ele a braços com sérios problemas. Em Portugal acaba de ser criado o Centro UNESCO para a Arquitectura e a Arte Religiosas, em Santiago do Cacém. Este organismo não-governamental, fruto da colaboração de mais de três dezenas de especialistas na herança religiosa não só do Cristianismo, mas também do Judaísmo e do Islão, representa igualmente um reconhecimento do trabalho pioneiro que tem vindo a ser feito, em terras do Baixo Alentejo, na defesa do património sacro, enfrentando com determinação alguns dos seus adversários: os pseudo-restauros por santeiros e curiosos, as obras feitas sem acompanhamento técnico, os furtos, o vandalismo ou, simplesmente, o desleixo e o abandono.

UNESCO

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vida de proximidade

Como sabemos vivemos num mundo global sem escala e sem rosto, onde é fácil parecer sério e conveniente e não o ser. Não é possível e aceitável viajar para Londres por 30 €, ou comprar uma cadeira, feita do outro lado do mundo, provavelmente por uma criança, a dois Euros; estas, como muitas outras, são enormes mentiras. Obviamente que isto vai acabar. Por isto, e muito mais, sou um fervoroso adepto do local, o que chamo o valor do local, o up local; a terra onde vivemos, os seus recursos e saberes. Na verdade trata-se dos recursos e patrimónios da nossa terra, naturais e culturais, que todos conhecemos, vemos, apalpamos e cheiramos.

borba 41 º C

25 de julho, 15:00, em Borba 41ºC. Na escada de acesso ao Centro Cultural um homem afia sábia e calmamente a navalha. Que mais pode fazer?

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arraial do largo

cartaz_ARRAIAL (1) A Ana Luísa, minha amiga de há quarenta anos, tem uma loja na Av. Guerra Junqueiro em Lisboa – a avenida que sai da Praça de Londres para a Almirante Reis. Outrora, a Guerra Junqueiro tinha nome, e o comércio de rua vivia de algum charme. Os tempos ficaram difíceis e a Ana há uns anos decidiu esquecer a lamúria e dedicar a sua energia a um movimento de comerciantes da avenida. Ao longo dos anos fui sabendo de algumas histórias incríveis, na verdade, só com muita força e persistência se consegue chegar a bom porto. Mas lá conseguiram. Há dias vi na TV o enorme sucesso de mais uma iniciativa deste movimento de comerciantes, uma open night. É assim, este exemplo que conheço com alguma proximidade mostra como se faz, como se tem de fazer. O centro UNESCO de Évora só pode renascer, com movimentos deste tipo, que façam a sua parte e que deixem de reclamar junto de outros as causas de todos os males.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan