mudança climática

Em meados de fevereiro anunciou-se o Plano Local de Adaptação às Alterações Climáticas para a Arrábida. Por essa mesma altura, Bill Gates, a propósito do lançamento mundial do seu último livro sobre o clima, afirmou que “vai ser mais difícil que qualquer outra cosia que a humanidade alguma teve de fazer.” É verdade.  Independentemente de se gostar ou não do homem que marcou a revolução digital, temos um enorme, complexo e gravíssimo problema que põe em causa o modo de vida tal como o conhecemos. Para melhor ilustrar a gravidade da coisa, recorro ainda ao americano que afirma perentoriamente que mudar de vida não chega, não resolve. A minoria, na qual me incluo, confortavelmente sentada, com água potável na torneira, alimentos no frigorífico e ar condicionado, por conveniência acredita no golpe de asa da ciência e da tecnologia; entretanto, não nos damos conta das centenas de milhões de pessoas que não têm os recursos básicos para viver. Assistimos às sucessivas cimeiras depois das quais nada acontece e, para descansar a consciência, premiamos a Greta. Na verdade, infelizmente, não temos alternativa, nem vamos ter nos próximos muitos anos, à energia fóssil. Como é que se vai reduzir drasticamente o consumo de combustíveis fósseis se é a base de tudo, por cá incluindo a vida do Estado – impostos?  Embora à beira do precipício, querem que acreditemos que vamos resolver a questão, só não sabemos como. Tudo o que por aí anda é uma panaceia para alimentar a máquina que nos trouxe até aqui. O plano anunciado para a Arrábida é, mais ou menos, o mesmo. Serve para o Estado fingir que faz e alimentar o novo mercado dos estudos e planos de adaptação e mitigação climática. Excelente para estragar dinheiro, nada mais. Por muito que me esforce não consigo imaginar o que seja “sensibilizar e capacitar os técnicos municipais e a comunidade local e os atores com relevância estratégica” e, muito menos, saber como vai esta ação contribuir para a causa. Nada na Terra é estável, o problema é quando a mudança é desequilibrada e brusca. Acresce que Portugal é particularmente vulnerável, devido à sua localização (Atlântico e latitude), e apesar de todos os sucessos do setor primário permanecemos na insuficiência alimentar. Enquanto isto, o tal vírus ocupa-nos e o Estadão, que cuida de nós, empurra-nos para o litoral e aposta na transição digital. É preciso trabalhar em todas as atividades que geram emissões e em todos os países, incluindo os que ainda andam atrás das necessidades básicas. É honesto que se lhes peça para consumir menos? Por cá talvez valha a pena pensar seriamente na menina dos nossos olhos, a atividade turística, a mais depredadora de todas as atividades. E, já agora, por associação, no novo aeroporto e outras coisas tais. Enquanto a Europa desenha o Pacto para o Clima e Emprego, era muito bom que Portugal fosse fazendo alguma coisa, séria.

democracia da diferença

Primeiro a declaração de interesse: direitos e deveres iguais para todos, esta é a democracia que me basta.

O vírus não está, obviamente, sozinho e não surge do nada num qualquer mercado chinês. Chegámos ao ponto onde estamos em consequência de um largo conjunto de equívocos e enganos demagógicos. Felizmente surgem algumas luzes que nos trazem a tão necessária esperança. Já aqui citei o clarividente socialista António Barreto que todos os sábados, no Público, partilha excelente matéria de reflexão. Escreveu António Barreto, um destes dias, que “cidadão do mundo não é cidadão de parte alguma” – diz tanto com tão poucas palavras. Quase que de nada mais necessitamos para compreender o triste ponto em que nos encontramos. Obviamente que a classe política vigente, fortemente condicionada por tabus ideológicos, foge disto como o diabo da cruz. Algum dia, com mais dados, alguns habilitados farão um balanço trágico deste tempo. Por enquanto, poucos, mas felizmente cada vez mais, começam a desconfiar do modelo global, sem limites, sem fronteiras, de recursos não tangíveis, do low cost, dos limões do Chile a 2€/kg, do “todos iguais”, etc., que nos trouxe ao agora. Estas e muitas outras mentiras estruturam o mundo em que vivemos. “Os homens e as mulheres procuram bem-estar, segurança e liberdade nos seus grupos de referência, de pertença e de identidade. Há dois mil anos que se conhece a reflexão dos filósofos sobre a tendência gregária das pessoas. Família, grupo, associação, comunidade, tribo, culto, país, Estado e nação… A história da humanidade é, em parte, a história destes agrupamentos e das suas glórias”, escreve A. Barreto. Na verdade, numa simples página, Orlando Ribeiro já nos tinha demonstrado por que razões o minhoto é, naturalmente, diferente do alentejano. Li há pouco tempo o soberbo ex-estudante de metalurgia coreano Byung-Chul Han, radicado na Alemanha, onde se afirmou como eminente filósofo do nosso tempo, sintetizar a coisa como o “inferno do igual”. Neste inferno, vivemos sem raízes na hipercultura do nada. Que excelente ilusória liberdade democrática esta! Na verdade, sem lugar, o Homem fica vulnerável e frágil; a vida necessita de raízes e cultura própria, onde está o tempo necessário à autenticidade e à comunidade. Entretanto, tudo isto e algo mais ajuda a perceber o “fenómeno Ventura” no Alentejo e porque morrem mais velhos vítimas de covid aqui do que no norte? A causa é a mesma, queira-se ou não; apesar de tudo, a estrutura familiar e a identidade do lugar estão mais presentes no norte, sentem-se e fazem parte do quotidiano, o que é uma boa vacina para os inúmeros vírus que nos batem à porta. Neste tempo faz a diferença.

Mais uma vez, viva o up local, onde estão os únicos recursos que contam: solo, água e pessoas.

Só vê quem quer e pode, até nisto somos todos diferentes.

saúde e interior

Como assumido convicto do valor do interior tudo me conduz ao up local, em oposição ao modelo que nos trouxe até aqui: globalização – produzir, consumir e crescer, o tal ciclo diabólico.

Acredito convictamente na vida local porque tudo o essencial à vida, como os recursos indispensáveis (solo e água), são locais. Entretanto, este país é inundado por estudos e estratégias para tudo o que se possa imaginar e que só servem para produzir papel e nos distanciar do importante, da vida. O interior, aquela coisa pobre, cinzenta e velha, até teve direito a uma Unidade de Missão que entretanto, como sempre, se esfumou sem deixar rasto. Agora mesmo, com o Dr. Ceia da Silva, o Presidente da CCDR – Alentejo “democraticamente” eleito, é que vai ser: vamos tornar esta região colorida, rica e jovem. As oportunidades não vão faltar e casais jovens, portugueses e estrangeiros, sem filhos, vão-se acotovelar para viver e trabalhar no interior. Sem filhos porque, entretanto, algumas más línguas, dizem que a “pediatria retrocedeu em Évora”. Como povoamos com jovens uma região que não responde satisfatoriamente nos cuidados pediátricos? E no resto da saúde, será que estamos bem? Tenho a certeza que o “competentíssimo” Concelho de Administração do Hospital do Espírito Santo de Évora e Administração Regional de Saúde respondem com um inequívoco sim. Esta miséria governativa vai-se perpetuando e consolidando aos mais variados níveis. Trata-se de uma enorme classe inútil e incompetente que assaltou os lugares de decisão e gestão e se protege e sustenta com todas as armas que tem sem olhar a meios e processos. Enquanto isto, idosos doentes aguardam em filas à porta dos centros de saúde, e o número de óbitos dispara; para compensar somos inundados por uma agressiva campanha de marketing para a vacina da gripe que não está nas farmácias.

Até quando este povo assobia para lado? Depois queixem-se dos populismos.

o futuro do passado

O “futuro do passado” não é meu mas ajusta-se perfeitamente aos infinitos ridículos mentirosos a que vamos assistindo no presente. Nunca como agora é essencial pensarmos pelas nossas cabeças. Leitor, por si e pelos seus mais queridos, por favor, pense pela sua cabeça. Na verdade “não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos”(Anais Nin, 1903-1977, escritora francesa). Neste tempo de crise, isto é, de oportunidade, segundo a ancestral língua e saber grego, o essencial é um apelo à verdade. Poucos ou nenhuns estão interessados em esquerda-direita, queremos é viver em segurança. A minoria, muito minoria, privilegiada, que vive da politica, sim, esses esses sim interessam-se pelas aparentes questões “esquerda-direita”. Segurança é a palavra mais importante. E deixem-se de mentiras democráticas tipo “vamos ficar todos bem”, “ninguém pode ficar para trás”. Democracia é a última palavra que este vírus conhece; não querem? Paciência, é assim. Os arautos da democracia, juízes da santíssima trindade, direitos, garantias e liberdades, não se questionam? Uma miragem mentirosa e conveniente para nos manipularem. Talvez fosse uma boa oportunidade para lhes explicar o excelente momento para começarmos a assumir os deveres. Será que eles têm deveres? Onde fica a verdade que a crise nos exige?  É bom gozar a liberdade, quem a pode ter, mas é incontornável validá-la com a responsabilidade perante os outros. Será que os juízes do “certo-errado” (esquerda – direita) nos deixam acreditar em nós próprios, nos nossos recursos e na nossa capacidade para criar riqueza? A verdade, isto é, a crise, exige-nos que deixemos de assobiar para o lado, a olhar para Bruxelas e a esquecer significativas franjas do submundo português que diariamente navegam à tona da miséria para sobreviver. São milhões os portugueses reféns da pobreza à espera da caridade pública e privada. Com ou sem mala de cartão, cada vez mais distantes da sua terra, os melhores partiram. Não nos interrogamos? Dizem-nos que foi a troika e dormimos todos bem? Que raio de fatalismo é este que nos obriga a ser pobres? Sem estudos, estratégias e consultores, que já nada acrescentam e só servem para entornar muitos milhões em cima dos problemas, uma boa verdade seria escolher sermos remediados e felizes na terra onde nascemos e que amamos, honrando a cultura e os saberes dos nossos antepassados. Pode ser?

minas para quê?

sim, sim, um país carregado de hipocrisia mas “livre” de petróleo e de minerais/metais.
vamos acabar com os pacemaker, certo?
se os metais vierem de longe não tem problema?
com o petróleo idem.
ainda acreditamos nos estudos de impacte ambiental?

https://www.dropbox.com/s/q8li2ohnu8dm6h6/avalia%C3%A7%C3%A3o%20ambiental%20-%20Expresso%20-%2022%20dez%2018%20-%20carlos%20cupeto-pages-35.pdf?dl=0


grande aposta nacional esta de pobres mas honrados, perdão, patetas e vigaristas.

alterações climáticas

pacto ecológico europeu

ao longo de décadas quantas “boas intenções” destas já houve? o que aconteceu? porque vai agora ser diferente?

Borba, um ano depois

… um ano depois aos costumes disse nada. A aposta é sermos um país pobre e quando assim é estragamos recursos.

no jornal Público uma reflexão:

https://www.dropbox.com/s/1mzg6p8r4frln2d/Borba%20um%20ano%20depois%20-%20c%20cupeto%20-%20P%C3%BAblico%20-%209%20dez%202019.pdf?dl=0

interior

O interior é aquela coisa a preto e branco, triste, envelhecida e pobre em oposição a outra, colorida, jovem, alegre e rica, o litoral.

Já tudo aconteceu a favor do interior: um Movimento pelo Interior (ilustres personalidades, desde ex-ministros a autarcas, empresários e professores, como se nenhum deles jamais tivesse a ver com decisões sobre a governança do país), uma Unidade de Missão para a Valorização do Interior, e agora, com o atual governo, um emaranhado de Ministérios e Secretarias de Estado que se sobrepõem e atropelam pela nobre causa. Deseja-se “diferenciar positivamente o interior”. Antes disto tudo, em sucessivos ciclos de governação, já houve dezenas de cangalhadas destas.  O resultado está à vista. Recordo que o anterior governo criou o Programa Nacional para a Coesão Territorial, para que serviu?

Alguns factos: o interior tem tudo, está excelentemente infraestruturado; desde sempre, e cada vez mais, há famílias de estrangeiros que se instalaram no interior onde vivem ricas e felizes; emigraram 2,5 milhões de portugueses; trinta por cento da população do Luxemburgo são portugueses, este país tem um dos maiores PIB da Europa. Tão pouco nos faltou dinheiro para o interior, em variadíssimos e originais programas; o Eurodeputado Zorrinho e ex-Comissário Moedas sabem-no bem.

Sempre me interroguei sobre o que distingue um jovem casal de holandeses que há umas dezenas de anos se instalou no interior? São felizes e criam riqueza sobejante. Interrogo-me também sobre o que falta fazer ao inexcedível Armindo Jacinto, Presidente de Idanha -a – Nova, para ter sucesso na revitalização da sua terra, uma das mais despovoadas do país? Precisamente por iniciativa do autarca de Idanha, em dezembro de 2017, em Lisboa foi apresentada uma estratégia para o interior: O mundo rural e o desenvolvimento económico e social de Portugal, que o inevitável Prof. Augusto Mateus, coordenador da equipa autora, apresentou com o habitual entusiasmo. Para além do “mundo rural, porque sim”, digam lá que não soa bem, como sempre, nada mais. Tudo, mas tudo, sobretudo a realidade e os factos, conduzem-me cada vez mais a uma resposta: a cabeça das pessoas, isto é, a mentalidade, o nível de consciência. A isto chama-se atitude; os portugueses valorizam os bons automóveis e as luzes dos shoppings. A diferença é a atitude das pessoas, moldadas durante muitos anos pela educação e cultura. E isto, meus amigos, não se altera com Movimentos e Programas. Será que temos de continuar pobres?


Borba um ano depois

o país que somos. Necessitamos de melhor Estado e melhores empresários.

https://www.publico.pt/2019/12/09/sociedade/opiniao/borba-ano-1896143

a neve da Greta

A Greta chegou à doca de Santos e ali perto, em Algés, há neve, gelo e tudo o mais a que um povo pobre tem direito. Greta trouxe neve. Em Algés, como em todo o país, o Natal  é a oportunidade para uma grande, cara e escandalosa parvoíce: pistas de gelo, arte em gelo e até neve. Enquanto isto, uma gaiata de 16 anos vem cá dizer-nos o que temos de fazer e é recebida com pompa e circunstância, quase com honras de Estado. Não há santa terrinha que não tenha uma pista de gelo. Será que as infinitas pistas de gelo, uma verdadeira aberração cultural e ambiental, não incomodam os PAN da nossa vida? Já alguém questionou esta moda do Natal como se estivéssemos na Suécia? Haja paciência. Acontece que, “ao lado”, massacram-nos com palermices mentirosas como grandes arautos e salvadores da Terra. Alguém, para além do nosso ministro do Ambiente, “que tudo faz, sem nada fazer”, já fez alguma coisa significativa e que valha a pena para a grande causa da emergência climática? Já repararam que apesar das sucessivas cimeiras, relatórios e discursos inflamados, os indicadores são cada vez piores? Querem que os levemos a sério? Querem que fiquemos entusiasmados com os discursos do Guterres? A retórica é irrepreensível, e o resto, a ação? Engº Guterres, pelo menos, diga-nos: como se faz? Quem, que setor, dá o primeiro passo? Será que aceitam falar seriamente no turismo depredador assente no low cost e no consumo máximo? Não há transição possível, só mesmo rotura, ou vamos bater no muro de frente e aí, sim, a coisa muda. Se os dinossauros nos pudessem contar como foi… Já agora, com que dinheiro são pagas as pistas de gelo e qual o custo ambiental de uma cretinice destas? Será que nenhum senhor deputado se interessa por esta matéria?

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan