chuva

… catástrofe à espera de acontecer.

As chuvadas que têm caído nos últimos meses, designadamente em Évora, onde rapidamente as ruas viram rios, são um bom sinal de alerta a que ninguém liga. Em oposição, até o mais distraído cidadão dá conta da maior gravidade das cheias urbanas que vão acontecendo por todo lado. Por cá as infraestruturas são muito débeis e a limpeza e manutenção das linhas de água é algo parecido com o resto – já ouviram falar de Odemira? Toda a gente sabe e quem deve assobia para o lado, até um dia. A panaceia da conversa sobre alterações climáticas dá-nos algumas certezas, as situações extremas de precipitação e seca cada vez mais prováveis e graves. Portugal é um país naturalmente perigoso, no que respeita a ricos naturais, e cada vez mais o será. O habitual laxismo e irresponsabilidade impune levam os responsáveis a  viver o dia ignorando esta realidade sem nada fazer. O país é perigoso devido à sua localização geográfica, ao seu clima e à sua exposição atlântica. Com este contexto a probabilidade de acontecerem fenómenos naturais perigosos é elevada. Apenas sabemos que este tipo ocorrências, que causam danos humanos e materiais, dando lugar ao risco, serão cada vez mais frequentes, intensas e imprevistas. Temos uma outra certeza, os meios de acção disponíveis (humanos e materiais), em caso de ocorrência, são sempre mais escassos que o necessário. A grande incerteza é saber quando e onde? O que fazer? Avaliar e assumir a perigosidade/risco; prevenir e, em caso de ocorrência, acção rápida e eficaz de forma articulada por parte de todos os agentes de protecção civil. Na generalidade só há uma coisa a fazer: prevenir. Alguém dá por alguma acção séria de prevenção? Temos um acidente à espera de acontecer, mas, em Portugal, os nossos governantes, designadamente os autarcas, gostam mais de fazer outras coisas como festas, festarolas, piscinas, rotundas, relvados sintéticos etc., não levam este tema a sério. De certeza que há por aí uma dúzia de estudos, normalmente desfasados da realidade, mas, sobretudo, ignorados. Um dia destes vamos sentir o impacto social e económico de uma catástrofe natural. Ora acontece que tudo isto não é daqui a muitos, muitos anos, nem numa qualquer terra longínqua; é agora e aqui.

todos iguais


todos iguais em tudo

mas, muitos só querem ser iguais no que lhes interessa.

será que, afinal, somos todos diferentes?

viva o 25 de Abril

Viva o 25 de abril? Obviamente. Ainda se questiona abril? Ou alguém nos continua a enganar e a subjugar?  Sinto-me incomodado, ao fim de 47 anos, por ainda haver a necessidade de publicitar a democracia e fazer com que não se esqueça. Será que o fascismo ainda por aí anda à espreita e é uma ameaça para abril? Se assim for, o meu incómodo passa a terror. Na verdade, em Évora, vejo um cartaz que diz “viva o 25 de abril, fascismo não”; 47 anos depois? Será esta uma preocupação dos portugueses que são livres ideologicamente e de interesses? Um cartaz destes leva-me a pensar que o mesmo povo que foi subjugado pela ditadura e preso pela PIDE, ainda está agora, 47 anos depois, preso por interesses que não os seus. Porque ouço, cada vez com mais insistência, que é preciso “aprofundar a democracia”? Ao fim de 47 anos ainda nos falta democracia? Quem são os responsáveis e o que andámos a fazer? Quem boicotou abril? A situação a que chegámos é culpa dos fascistas que ainda por aí andam? O que justifica esta suposta ameaça do fascismo? O que falta fazer?

Sabemos que estamos cada vez mais pobres (não se aceita a hipocrisia de nos compararmos com o 24 de abril de 74, a comparação só pode ser feita com os países da nossa geografia nos dias de hoje), que as desigualdades são cada vez maiores e que o “construam-me porra” do Alqueva se traduz, entre muita matéria questionável, em imigrantes a ganharem 400 €/mês e a viver sub-humanamente, à meia dúzia em cada “quarto”. Certamente que nada disto é abril. Tudo isto me envergonha e incomoda profundamente. Talvez seja tempo de verdade. De pensarmos por nós, acreditarmos na nossa terra, nas nossas capacidades e nos nossos recursos. Não é aceitável que cerca de 30% do nosso povo, os melhores e mais talentosos, tenha que sair do seu país para criar a riqueza que aqui não consegue. Por cá, a intensidade energética é altíssima, a produtividade ridícula e a carga fiscal absurda (a pesadíssima e ineficaz máquina do Estado não tem alternativa): o resultado final só pode ser um “mau”. Quarenta e sete anos depois isto satisfaz alguém? Isto chega-nos, ou é melhor arriscar por outros caminhos? Acreditamos que vem aí um saco de dinheiro, mais um, que vai resolver a coisa? Ou queremos aceitar a verdade e o caminho certo que nos dê alguma esperança de podermos construir um país mais justo, próspero e feliz? Vou continuar a ter esperança.

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan