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a última noite de Z Herbert em Siena, na Toscana, terra de Chianti, antes de viajar para Paris…
“A pequena trattoria enche-se da multidão dos clientes…
Com conhecimento e apetite, que cresceram de geração em geração, comem spaghetti, bebem vinho, conversam, jogam às cartas e aos dados.
…
Peço ao dono da trattoria um vinho melhor. Traz-me um chianti do ano anterior da sua própria cave. Conta-me que a sua família possuía aquela vinha há quatrocentos anos e que aquele é o melhor chianti de Siena. Depois, ficou a olhar para mim atrás do balcão para ver o que eu faria com aquela preciosa bebida.
É preciso inclinar o copo para ver o líquido deslizar pelo vidro e verificar se não deixa vestígios. A seguir, é preciso erguer o copo até aos olhos e, tal como diz certo conhecedor francês, afundar os olhos em verdadeiros rubis e contemplar a bebida como se fosse um mar chinês repleto de corais e algas. O terceiro gesto é o de aproximar a boca do copo ao lábio inferior e aspirar o cheiro mammola – o buquê de violetas que anuncia às narinas que o chianti é bom. É preciso inspirar o aroma do vinho até ao fundo dos pulmões para reter o odor das uvas maduras e da terra. Por último, evitando a pressa de um bárbaro, deve levar-se à boca um pequeno gole e, com a língua, espalhar o sabor escuro e aveludado pelo céu-da-boca.
…
Regresso às Tre Donzelle. Apetecia-me acordar a camareira e dizer-lhe…
Se não tivesse medo da palavra, diria que até ali fui feliz. Mas não tenho a certeza de ser bem interpretado.
Vou-me deitar com os versos de Ungaretti. Na sua obra, há um poema apropriado a despedidas;
Vejo de novo os teus lábios lentos
À noite, o mar vai ao seu encontro
As patas do teu cavalo
Em agonia mergulham
Nos meus braços cantantes
Vejo que o sono traz de novo
Novos desabrochares e novos defuntos
Uma má solidão
Que todo o amante em si descobre
Como um vasto túmulo,
Separa-me de ti para sempre,
Querida, afogada em espelhos longínquos.”