abril, sempre

Aquando do estado de emergência fiquei surpreendido por muitos sentirem que  poderia estar em causa a “sagrada família” da democracia de abril: direitos, liberdades e garantias.  Uma ameaça à democracia gritaram, considerei um despropósito. Todavia, sou agora obrigado a reconhecer que eles tinham razão. Os Órgãos de Soberania que nos impuseram e confinaram no Estado de Emergência ameaçam e põem em risco a democracia. Se assim não fosse haveria necessidade de agora comemorar abril na Assembleia da República? Uma iniciativa ao arrepio de tudo o que nos foram contando, contra tudo e todos. Todas as contraindicações, que me abstenho de enumerar, são tantas, estão vinculadas à festa programada e anunciada. Revolta-me não ter a liberdade de comemorar como entendo com os meus amigos. Vislumbro, apenas, duas razões que justificam tamanho absurdo. Pesa-lhes a consciência pelo confinamento antidemocrático a que nos submeteram e, assim, com esta “festinha” dão-nos uma espécie de compensação. Ou, pior ainda, os Órgãos de Soberania, sabem que o descontentamento do povo é tanto (corrupção, decadência dos serviços públicos, pobreza, etc.) que ao fim de 46 anos de democracia sentem a necessidade incontornável de assinalar a data, não vá a malta esquecer-se. Seja como for muito mal vai a coisa. Vamos lá explicar, porque razão, por esse país fora o povo (quem mais ordena) não poderá fazer as festas que muito bem entenda?

Talvez fosse bom, e uma salvaguarda da democracia, o povo começar a pensar pela sua própria cabeça.

Juntos venceremos e a reação não passará.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan