Neste mar de dúvida, medo
e incerteza devemos apostar no mesmo caminho que nos trouxe até aqui?
Toda a retórica diz-nos
que devemos retomar quanto mais depressa melhor. Retomar, é mais do mesmo: 225
mil voos num só dia. Milhões de pessoas em trânsito numa vida, que está na
“nuvem”, sem custos, low cost. Como se a vida fosse digital. Vai-se a um
supermercado e compra-se, em qualquer altura do ano, um frasco enorme de
pimentos assados (que a nada sabem) por menos de 2€. Este valor não paga o vidro
do frasco, o rótulo, a tampa de metal. Vale a pena pensar em todos os outros
valores e o que pagamos por eles?
E agora?
Obviamente que as centenas
de milhar de camas dos hotéis espalhados pelo país não podem ficar vazias de um
dia para ou outro. A transição, quando estivermos dispostos a fazê-la, ou
formos obrigados, não será fácil e levará anos. Mais uma razão para começar já.
O up global tem que dar lugar ao up local; mesmo que o não queiramos. Portugal
tem de ter a sua própria agenda. Temos camas a mais e gente a menos: fácil de
resolver, quando o problema da Terra é gente a mais. Uma equação muito fácil.
Estamos na hora de uma grande reflexão pessoal e coletiva. Desde logo temos de
voltar a um tempo que tenha “tempo” para as estações do ano, tempo para viver.
É tempo dos valores e da
ética, de aprender com os erros e ter a coragem de mudar, mesmo que seja ao
revés de muitos dos outros. A aposta nos nossos próprios recursos. Devemos
apostar num turismo de alto valor, porque temos um capital natural único e
muito geobiodiverso, um caminho de longo curso. Quase o oposto das
“carradas de turistas depredadores” que nos invadiram. O nosso sonho tem que
contar, essencialmente, com o que temos à porta de casa, o up local. Temos de
vencer a ignorância e a falta de cultura e empreender uma revolução. Enquanto
tratamos das emergências do momento, este tempo tem de servir para desenhar o
futuro que queremos.
Ou queremos que fique tudo
na mesma?