a aposta na pobreza

Até parece que embirrei com Arraiolos; antes pelo contrário. Repito o que escrevi anteriormente: Arraiolos é uma terra fantástica, rica em patrimónios. Leram mal? Custa muito que não se tire partido desta riqueza e que continuemos pobres e despovoados.

O meu amigo Tito, leitor fiel do DS, sabe que na farta terra de Cascais/Oeiras a infraestrutura com maior sucesso é o passeio marítimo. Nada se lhe compara; um fantástico sucesso. Ora, por cá, a Ecopista é o mesmo. Melhor, não é mas podia ser. A Ecopista é uma fantástica infraestrutura, mas não está aproveitada. `Não, não estou a ser “má língua”. Alguma utilização, sobretudo no troço urbano e periférico, da população local é pouco, muito pouco. O potencial desta infraestrutura até Mora é enorme. Só numa terra como a nossa é que um desperdício destes é possível. Tão pouco é necessário atravessar a fronteira para ver como se faz, espreitem por favor: https://ecopistadodao.pt/. O que fazem no Dão é comparável?

Como este exemplo do Dão há mais uma dezena ou duas no nosso país. Se passarmos a fronteira, por toda a Europa, desde logo bem perto, em Espanha, França e Itália, temos imensas ciclovias que são fabulosos produtos turísticos com enorme sucesso. Já aqui o escrevi mas volto a fazê-lo: aqui ao lado, numa serra despovoada da Andaluzia há uma destas ecopistas (Via Verde de la Sierra, está tudo na net) com cerca de 36 km que é gerida profissionalmente. Esta infraestrutura, via verde, criou 35 postos de trabalho diretos. Estas infraestruturas são altamente rentáveis, pagam o investimento, a conservação e a manutenção, criam postos de trabalho diretos e atraem e retêm turistas por mais que um dia. Isto tem alguma comparação com a ecopista Évora- Arraiolos- Mora? Se passar pelo pseudoparque de autocaravanas de Évora (junto ao Aminata) verá que a grande maioria destas trazem bicicletas. Seria também um excelente negócio para Évora e arredores um parque de autoravanas com qualidade.

O que é preciso para o fazerem?

março CC

programa da Conversas de Cesta em março; uma rede informal de partilha de saberes úteis:

viagem noturna

“a luz castiga e quase que nos impõe uma ditadura”.

viagem noturna foi o tema da Conversas de Cesta com António Paiva.

uma caminhada na Sintra noturna, onde os sentidos “esquecidos” se avivam. “pés na Terra, cabeça no Céu”.

eutanásia, referendo

80% das respostas erradas nos exames na universidade devem-se aos estudantes não saberem interpretar a pergunta.
diga-se, também, que muitos, mas muitos, professores não sabe escrever. 
como vou perguntar um assunto tão complexo ao povo de onde emana esta classe universitária?

Tejo a pé – 23 fev. Magoito, Lomba do Pianos, Praia da Samarra

A onde te levam os teus passos? Andar, enquanto prática básica humana, é um ato físico, mas também, e não menos, cultural. Não há melhor forma de conhecer uma região, uma cidade, um povo. Andar tem um enorme eco espiritual, cultural e político. Todos no Tejo a pé sentimos isto, se andarmos o mundo, a terra onde vivemos, é melhor. Andar liberta-nos da geografia como nenhuma outra forma de deslocação. Andar é um ato de união, é isso que fazemos há mais de 10 anos, muito informalmente, sem caprichos, no Tejo a pé. Andamos porque sim. Andamos devagar, pouco, ao ritmo de todos, mas andamos. Andar é ver o mundo à nossa volta como nos esquecemos de o fazer, é redescobrir terras conhecidas, para, finalmente nos conhecermos melhor. Andar é, provavelmente, o verbo com mais significado, incluindo viver. Mesmo o caminho de ida e volta nunca são iguais e isso ensina-nos muito. “Caminhar é uma das belas artes” (Thomas De Quincey, Londres, 1802), venha daí connosco, em fevereiro dia 23, na boa terra de Sintra, com passos na zona do Magoito-Praia da Samarra.

Programa completo:

https://www.dropbox.com/s/bt5rk29649danh4/tejo%20a%20p%C3%A9%20em%20fevereiro.pdf?dl=0

Évora – Arraiolos; Cascais – Oeiras, etc.

O concelho de Arraiolos não faz qualquer sentido. Obviamente que como este há muitos mais por esse país fora. Apenas mais alguns exemplos: Castelo de Vide,  Marvão e Portalegre deviam ser só um concelho; Estremoz, Borba e Vila Viçosa igual; Arronches, ali encostado a Elvas é uma aberração como Arraiolos. Cuba e Vidigueira; e o que dizer de Alvito? Antes de voltar a Arraiolos,  saiba-se que não é só por cá, Cascais e Oeiras é uma estupidez, por esse país fora há muitos, mas muitos exemplos estúpidos, verdadeiramente estúpidos porque não servem a ninguém nem a nada.

É assim porquê? Porque quando nascemos já assim era? E, para quê? Para que os pequeninos enormes poderes locais da partidocracia possam existir. Já se está a ver no que ia dar a regionalização. Qual é a principal consequência disto? Ineficácia na gestão do território e dos recursos disponíveis, que, consequentemente conduz a miserável pobreza.

Arraiolos tem tudo e não tem nada. Tem tudo porque tem patrimónios (arte, cultura, saberes, etc.), não tem nada porque lhe falta gente e economia, vida. Évora a 20 quilómetros está carregada de turistas, apesar de a maioria descer e subir a rua da Républica ou do Raimundo em 30 minutos. Arraiolos como um produto integrado com Évora (a que falta um verdadeiro castelo) terá um enorme sucesso. Um mine-bus gratuito, num vai-vem permanente  entre a cidade e a vila em menos de 30 minutos serve turistas e moradores. Serve também estudantes da Universidade que não têm alojamento em Évora. Arraiolos é o castelo, os tapetes, o museu, os pasteis de toucinho, etc. que Évora não tem. É a pequena vila/aldeia exemplar que em muitos países estaria atafulhada de gente. Mas há também uma vergonhosa ecopista que liga as duas terras. Esta excelente infraestrutura está subaproveitada e é ignorada por quem nos visita. Não precisamos de passar a fronteira, vejamos excelentes exemplos no Minho, Beiras ou Trás -os – Montes. Ciclovias bem promovidas, muito melhor infraestruturadas que se traduzem em produtos turísticos de grande valor e riqueza.

Não percebem ou não querem perceber?

ciganos

Quem me conhece há 50 anos sabe que sempre fui admirador da cultura cigana. Talvez pela irreverência e liberdade deles. Recentemente tive famílias ciganas como vizinhos. Confesso que, como os ciganos, tenho alguns gostos “excêntricos”; gosto de escolher a música que ouço e não gosto de lixo e porcaria. Vem isto a propósito de um relatório do Conselho da Europa que identifica Portugal como um país onde as comunidades ciganas continuam a ser discriminadas e a viver à margem da sociedade.

Era muito bom que estes especialistas europeus fossem mais longe e nos dissessem como é que se ultrapassa esta situação? O que falta fazer em Portugal para que os ciganos não se sintam marginalizados e discriminados? Por cá, os ciganos podem ir à escola, podem trabalhar, pagar e usufruir da segurança social. Têm todos estes direitos e muitos outros. Também podem ir ao cinema e ao futebol, é só chegar à bilheteira e comprar o bilhete. Talvez algumas famílias ciganas possam ir até Bruxelas e, na prática, os especialistas do Comité Consultivo da Convenção Quadro para a Proteção das Minorias Nacionais demonstrarem-nos como se faz. Este seria um dinheiro muito bem empregue, ao contrário de todos os milhões que se gastam em inserção e programas sociais do faz de conta. O resultado está à vista. Já ficava satisfeito se fosse muito bem definido e conhecido como é que as comunidades ciganas desejam ser inseridas para não se sentirem marginalizadas. Talvez Bruxelas saiba e nos queira dizer.  Já agora, poupem-nos por favor, à listagem de direitos, esses todos os conhecemos, passem directamente para os deveres.

Conversas de Cesta e Nova SBE

a Conversas de Cesta, a tertúlia da Linha, todos os segundos e quartos domingos às 18h, na Nova SEB, Campus de Carcavelos.

A comunidade local e a universidade num espaço de Conversas.


Malagueira (Siza Vieira)

Um dia um turista chegou à estação rodoviária e virou à esquerda; passados poucos minutos estava no Bairro da Malagueira. Algum tempo depois, na visita ao bairro, em conversa com um morador soube, com admiração, que encostada à Malagueira havia uma cidade património da UNESCO. Esta é a verdadeira Malagueira que poucos moradores e eborenses conhecem e vivem.

O dia 21 janeiro assinalou a formalização da Associação de Moradores e Cidadãos -Malagueira Viva e Vivida. Um grupo de moradores e cidadãos, “não indiferentes”, que gostam da Malagueira e querem um bairro mais vivo, pensou e promoveu esta Associação para todos. Queremos um bairro que responda às necessidades de quem lá vive e que receba em troca a identificação, apropriação, estima e orgulho dos seus habitantes. Estas ruas e estas paredes merecem sair do esquecimento. Merecem o verdadeiro genius loci do traço do Mestre Siza. Todos, a começar por Évora e pela Praça do Sertório, temos que olhar para a Malagueira e merece-la. A Malagueira merece ser viva e vivida. Por isto nasceu a Associação Malagueira Viva e Vivida. Sentimos e vivemos a Malagueira e queremos que o abandono e esquecimento a que o Bairro tem sido sujeito faça, rapidamente, parte do passado. Sabemos o que falta fazer e temos um plano de ação. Vamos apresenta-lo, discuti-lo e validá-lo. Contamos com todos os cidadãos, atuais e antigos moradores, admiradores, estudiosos, entusiastas ou visitantes do Bairro da Malagueira, para a mudança de paradigma existente no bairro da Malagueira. Cada um apenas tem de fazer o que deve. O futuro não nos vai perdoar se assim não for.

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan