autoestradas estúpidas

Uma manhã destas percorri a Estrada Nacional nº 4 nos seus escassos 10 quilómetros entre Estremoz e Borba, contei 32 camiões de transporte internacional. Também vi muitos tratores da vindima para além do transito ligeiro particular e comercial e muitos turistas que no início de outubro ainda viajam por estas paragens, vindos da ou para a fronteira. Ao lado a autoestrada está deserta. Esta e as outras autoestradas são grande parte da razão da nossa enorme dívida.

Construímos muitas autoestradas, designadamente porque são infraestruturas que exigem muito dinheiro e de onde é muito fácil “tirar” uns trocos. A enorme fatura fica ainda muito maior quando a autoestrada não é utilizada. A não utilização da autoestrada tem custos brutais diretos e indiretos, por exemplo em acidentes, risco e má qualidade de vida. Na prática e objetivamente autoestrada em Portugal é sinónimo de estupidez, provavelmente a pior das características humanas. Com as autoestradas o país todo perde, ao contrário do que seria natural. Pagamos cara a sua construção e cara a sua não utilização, um perfeito exemplo de estupidez. Como qualquer outra infraestrutura a sua rentabilidade é tanto maior quanto maior for a sua utilização. Isto é, uma autoestrada será tanto mais rentável quanto mais tráfego tiver. Refiro-me à sustentabilidade e riqueza do país, à rentabilidade dos sectores económicos e à qualidade de vida dos cidadãos. Quanto vale o tempo de todos os utilizadores (empresas, cidadãos) que optam pelas estradas nacionais em vez da autoestrada, infraestrutura que ali está para ser “abusivamente” usada por todos? Quanto perde o país em vidas humanas, em emissões de gases, em energia, em produtividade…? No limite, quanto pagamos mais em impostos para manter as autoestradas sem veículos? Isto é o essencial da equação: quanto custa não usar as autoestradas? Algum país seria viável se construísse escolas para depois não as usar? Vale a pena estudar o efeito real de baixar o custo das portagens. Entre o zero e o custo atual, que tem aumentado,  há um valor certo para todos – aquele que viabiliza a utilização da autoestrada. Andamos muito distraídos.

 

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan