Ronaldo e Tolentino em Itália

Já se percebeu que o Ronaldo saiu de Madrid apenas por uma questão de contas com as Finanças. Com o  padre Tolentino Mendonça,  que também vai para Itália , a questão não é tão clara. Já aqui escrevi sobre ele. Há alguns anos que leio os seus escritos e sempre que possível assisto às suas aparições falantes, designadamente na missa de domingo na capela do Rato. Faço-o porque, na generalidade, gosto do que o padre diz e escreve e assenta-me como uma luva; tem mística e magia. Ler Tolentino Mendonça é esbarrar na simplicidade da vida que tanto gostamos de complicar.

Independentemente da crença, ou da religião de cada um, o mediático padre é um pilar da cultura contemporânea portuguesa. Escreve Tolentino que um dos nossos grandes problemas é “a falta de um saber partilhado sobre o essencial, sobre o que nos une, sobre o que nos pode alicerçar, para cada um enquanto indivíduo e para todos enquanto comunidade, os modos possíveis de nos reinventarmos”. Muitas vezes constatei que “ o sermão na missa podia ser uma conferência em qualquer lugar”. Uma das suas qualidades é trazer à conversa temas atuais e que a todos interessam, crentes ou não. Às vezes, muitas, me interroguei como pode o padre ser tão clarividente em temas que, supostamente, não vive? Outra das perguntas recorrentes é: “como é que esta conversa passa no crivo da Igreja?” E é aqui que está a motivação deste meu escrito. A promoção para o Vaticano do padre Tolentino Mendonça cheira-me a esturro. Entre muitas situações análogas, lembro-me do mediático exílio do ex-ministro socialista João Cravinho. Nestas coisas da fé nem tudo o que parece é. No que me toca, gostava, sempre que possível, de poder ouvir o padre Tolentino Mendonça falar de coisas em que muitos padres não gostam nem de pensar. Vivam os Ronaldos da nossa terra.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan