Portugal às voltas

O geógrafo Álvaro Domingues há muito que anda às voltas com Portugal. Veio a Évora apresentar o seu mais recente livro – Volta a Portugal – e aos costumes (quase) disse nada. Coisa rara de acontecer, o auditório na Universidade estava a abarrotar de gente, mesmo sendo hora de ir buscar os gaiatos à escola e passear o cão. Quando a coisa é bem divulgada e o tema é interessante, não falha. Há uns meses, quando o livro saiu, comprei-o e usei-o nas aulas de geografia. Facultei a obra aos meus alunos e incentivei-os a lerem. Foi particularmente útil ler os capítulos sobre o Alentejo e o Minho, escritos por outros que não o autor, e associar/comparar aos trabalhos de Orlando Ribeiro.

Disse-nos Álvaro Domingues que em Melgaço, sua terra natal, “não há oportunidades de emprego”. Mas nada mais, é assim. “Não é bom nem mau”, a sua opinião não nos contou, “limito-me a explicar”, disse. “Isto, ou o seu contrário”, qualquer coisa estará certa, fica por conta de cada um e todos, supostamente, temos a mesma responsabilidade. A presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, a geógrafa Hortênsia Menino, diz o mesmo: “não há oportunidades de emprego.” Mas diz mais alguma coisa, não quer que se explore o ouro no Escoural. Esperamos por um milagre? Vamos ver se algum geógrafo, ou talvez um político licenciado em direito ao domingo, nos sabe dizer como se faz?

Safam-se as “casas penduradas” na Madeira, provavelmente um dia destes serão património da UNESCO, que graças à geologia e às artes das gentes não necessitam de traço de arquiteto ou opinião de geógrafo. Se não ficámos a saber o que é “certo” ou “errado”, tão pouco se os que restam em Melgaço são, ou não, felizes, para que nos servem as fotografias? Se não forem também os geógrafos a dizerem-nos como se povoa o interior, quem o faz? Será que estou errado quando exijo este desafio aos meus alunos?  O mais fácil, autoestradas, centros de saúde, escolas, polidesportivos, piscinas, etc., está feito, mesmo que não cumpram o seu papel; e o mais importante – as pessoas, o povoamento do interior, etc. – quem sabe disto? Vale a pena pensar num planeta sobrelotado e esgotado ou não? Permanecemos orgulhosamente sós até dar?

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan