A forma como tratamos os animais é o perfeito retrato do que somos. No largo de Santa Apolónia, em Lisboa, a estação ferroviária onde muito se chega e parte, há um pequeno chafariz encimado por uma placa onde se pode ler: “os animais necessitam de mais humanidade”. Somos uma Humanidade que de “humanidade”, no melhor dos sentidos, pouco ou nada tem. Quanto mais conheço a humanidade, mais aprecio e admiro a animalidade.
Os licenciados em direito que nos governam vão fazendo modernas leis que para mais nada servem que não seja para nos atrapalhar a vida e nos distrair do essencial. Muito para além dos animais de companhia, autênticos assistentes sociais numa sociedade cada vez com gente mais só e abandonada, há, essencialmente, os outros que são criados, transportados e abatidos para sustentar o sistema mundial alimentar. Na verdade, não se olha a meios para assegurar a conveniência da indústria alimentar. As notícias e os relatos a que vamos tendo acesso são arrepiantes, bárbaros, só comparáveis às maiores atrocidades que a nossa história conheceu. É este o triste ponto a que a dita humanidade chegou, uma cadeia alimentar em tudo condenável. A forma como tratamos os nossos animais diz o país que somos. Mais uma vez a agricultura de proximidade, ou até familiar, pode ser um enorme passo na minimização dos enormes problemas que nos assolam. Obviamente, quando nos incomodamos com a forma como os animais são tratados é inevitável esbarrarmos nos campos de refugiados dos nossos dias, onde jazem, na Europa, milhares de pessoas em condições sub-humanas. A nós, que nada nos falta, é cada vez mais difícil termos uma noite de sono descansado. A grande questão que cada um tem de formular é: o que fazer? Perante esta realidade, que todos estamos obrigados a reconhecer, não é difícil a cada um identificar pequenos passos que contribuam para alterar esta tristíssima e vergonhosa realidade.