floresta, fogo e comissão

[comissão técnica independente: há “comissões técnicas” que não são independentes? ]

João Guerreiro, coordenador da Comissão Técnica Independente (CTI), afirmou duas coisas lapidares que há muito escrevi nestas páginas: i. “As autoridades de protecção civil não entenderam bem o que podia vir a acontecer”, se a protecção civil não entende quem entende? Para que serve então a Autoridade Nacional de Protecção Civil? ii. “É fundamental a profissionalização do combate e da primeira intervenção”, obviamente, uma guerra, como o fogo, não se combate com amadorismo “voluntário”.

Como disse recentemente Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) quase tudo o que se tem feito depois da calamidade do ano passado tem sido feito com emoção. Como sabemos a emoção não pega bem com eficácia e profissionalismo. Bem a propósito de tudo isto, há dias, a CTI entregou no Parlamento o relatório dos fogos de outubro de 2017. Obviamente que jamais está em causa a valia e a idoneidade dos 12 técnicos que integram a dita comissão. Todavia, desde logo o termo “comissão” põe-me os cabelos em pé, esta palavra tem, justificadamente, má reputação em Portugal. Como sabemos, quando se quer que tudo fique na mesma nomeia-se uma comissão. Porque não um “grupo de trabalho”, uma “equipa técnica”, ou qualquer outra coisa, sempre melhor que comissão? Mas o pior não é a “comissão”, há alguma coisa básica que não compreendo de todo. Há “comissões técnicas” que não são independentes? Há estudos técnicos dependentes? A ser assim, há técnicos que não são técnicos, antes fazedores de resultados/conclusões convenientes. Será? Esta CTI tem necessidade de explicitar, reforçar, a sua independência? Porquê? É independente do quê e de quem? Do governo, do Estado, das associações florestais…? E, já agora, quem lhe paga? A CTI é independente de quem lhe paga, certo? Enfim, sem tirar valor à CTI esta tem um nome muito infeliz. Vivo num país livre, rejo-me por deveres e direitos consagrados na Constituição e como técnico sou total e sagradamente independente, isto me basta. Todo o trabalho técnico, opinião ou análise, que produzo, não aceito que seja referido como independente, é-o.

 

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan