Quem tiver dúvidas que território é, antes de tudo, geologia, vá ao Pico. A verdade maior é que somos a terra onde nascemos e vivemos. Os picarotos, os naturais da ilha do Pico, são, provavelmente, pela força das circunstâncias, o melhor exemplo português desta realidade: uma existência entre o partir e ficar, a terra e o mar. Agricultores e pescadores. Homens que fizeram o milagre de tornar a rocha, sem água, terra habitável. Entre uma agricultura de resistência, onde só heróis como estes são capazes, e plantas rústicas, como a videira e a figueira, se aguentam. No principio nem um palmo de terra, esta, muito valiosa, foi “importada” em pequenas caixas do Faial. Assim nasceu a mais fantástica construção em pedra da humanidade – os currais do excelente vinho do Pico. Depois, a filoxera atirou os picarotos para a miséria, empurrou-os para o mar e tornou-os baleeiros; a ancestral arte da pesca, que põe frente a frente um animal de 50 toneladas e meia dúzia de homens numa embarcação a remos, munidos de arpões lançados à mão.
Voltemos ao vinho. A vila da Madalena foi Cidade do Vinho 2107, passou agora o testemunho a Torres Vedras e Alenquer, Cidade do Vinho 2018. Tive o privilégio de participar na cerimónia que formalizou este momento. Do Pico não posso dizer menos que isto: “vá logo que possa, faça por poder.” Ao contrário do que epicamente se escreveu, não “há mau tempo no canal”, o tempo vai de feição e os atores são os picarotos. Entretanto, Torres Vedras e Alenquer, terras fantásticas que tão bem conheço, são aqui ao lado e as atividades ao longo de 2018 são às dezenas. Pelos seus presidentes, câmara e assembleia, Beja esteve no Pico, fiquemos atentos, palpita-me que vamos ter boa governação nesta terra alentejana. Aproveite o país que somos.
PS1 – Ao lado, na Horta, fui ao incontornável Peter. É preocupante quando, em santuários destes, com comida a sério, na maioria das mesas vi homens e mulheres a beberem Coca Cola; por si, não faça uma coisa destas.