Como ninguém sabe o que é um milhão de anos, talvez não seja fácil imaginar que há muitos milhões de anos existia um enorme continente no hemisfério norte da Terra que incluía as actuais América do norte, Europa e Ásia; esse continente chama-se Laurásia. A organização dos continentes já não é assim hoje, como sabemos, a Terra “mexe-se”, e é também por isso que aconteceu o sismo de Arraiolos. É também por isto que somos “escravos da geologia” e temos o bom vinho que temos. Mas a motivação deste escrito não é nada disto, mas sim a Laura.
Conheci a Laura numa das ações de voluntariado da Refood. Filha de mãe holandesa e pai português, frequenta o 10º ou 11º ano, terá uns 16 anos. Foi um prazer conversar com a Laura durante cerca de uma hora e meia, enquanto fizemos o nosso trabalho. Não sou pessimista, longe disso, mas, mais uma vez, fiquei com a certeza que, enquanto país, estamos condenados a ser como somos, pobres. Serão só alguns “cromossomas holandeses” a fazer a abismal diferença? É que a Laura sabe exactamente o que quer ser, estuda e trabalha para isso; pratica desporto federado; toca na Tuna da escola que frequenta; faz voluntariado; e está totalmente informada sobre o mundo que a rodeia. Tem opinião. A determinada altura, passámos pelas hortas urbanas de Évora e comentei um artigo recente na imprensa sobre a produção de alimentos e o fornecimento das cidades – a Laura tinha lido e lê habitualmente o jornal para estar informada e formular a sua própria opinião. Porque razão não há por aí as Lauras suficientes para mudarem as coisas para melhor? Pela minha profissão de professor interrogo-me, sobretudo num dia como o de hoje, em que estive a corrigir exames, onde falho? Como posso ser melhor para ajudar a que o resto fique melhor? Se cada um fizer o que deve, provavelmente, chega. Mas às tantas, pergunto a mim mesmo: “faço o que devo?”
PS – o amigo comum Rui Dias (o melhor geólogo português), talvez pela sua dimensão, chama Laurásia à Laura.