“O passado não está morto”, escreveu Faulkner em “Requiem por uma monja”; e acrescentou: “Nem sequer é passado.” Impossível dizer melhor: o passado nunca termina de passar, sempre está aqui, operando sobre o presente, formando parte dele, habitando-nos. Viver um presente sem passado é viver um presente mutilado. É dizer: viver uma vida mutilada. (Javier Cercas, “La dictadura del presente” in: A Gorda de Isabela Figueiredo).
Toca a correr.
há oito dias, em Évora, fiquei com uma pedra no ténis. Num repente, a meio da semana, Deus quis, sonhei e a inscrição na ½ maratona dos Descobrimentos aconteceu. Sem pensar. Porquê esperar mais tempo para tirar a pedra? A memória e o gosto da corrida está cá há 44 anos, por muito dura e angulosa que seja, não há pedra que resista. Esta identidade com a corrida tem muito peso, muita força, há um passado, não quantificado, de muitos quilómetros, de muita cabeça.