a corrida da pedra

“O passado não está morto”, escreveu Faulkner em “Requiem por uma monja”; e acrescentou: “Nem sequer é passado.” Impossível dizer melhor: o passado nunca termina de passar, sempre está aqui, operando sobre o presente, formando parte dele, habitando-nos. Viver um presente sem passado é viver um presente mutilado. É dizer: viver uma vida mutilada. (Javier Cercas, “La dictadura del presente” in: A Gorda de Isabela Figueiredo).

Toca a correr.

há oito dias, em Évora, fiquei com uma pedra no ténis. Num repente, a meio da semana, Deus quis, sonhei e a inscrição na ½ maratona dos Descobrimentos aconteceu. Sem pensar. Porquê esperar mais tempo para tirar a pedra?  A memória e o gosto da corrida está cá há 44 anos, por muito dura e angulosa que seja, não há pedra que resista. Esta identidade com a corrida tem muito peso, muita força, há um passado, não quantificado, de muitos quilómetros, de muita cabeça.

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mais água…

neste país do faz de conta, em que as universidades produzem 4000 licenciados em direito todos os anos, e em que a Justiça é uma miragem no deserto. Neste contexto é incontornável, é obrigatório, ver o trabalho da RTP – Sexta às 9: um verdadeiro serviço público.

em 2017 como é possível construir e utilizar uma barragem clandestina que põe em causa o abastecimento público e outras barragens e furos legais?

fiscalização?

Estado de Direito?

O verdadeiro Simplex,  bom retrato do país que somos:

https://www.rtp.pt/noticias/pais/furos-e-barragens-ilegais-poem-em-risco-armazenamento-publico-de-agua_v1043938

 

e 2018? (conversas de cesta)

domingo, dia 10, na hora e local habituais (no cartaz consta toda a informação), voltamos à nossa Conversas – uma rede informal de partilha de saberes úteis.
desta vez vamos ter o prazer de conversar com Vera Faria Leal sobre um tema que vem a propósito desta época do ano: o que esperar de 2018?
conhecemos a excelência da Vera e por isso suspeitamos que vai ser mais uma inolvidável Conversas.
andamos distraídos mas a participação é um dever.
sinta-se convidado e convide.

seca no Alentejo

Os mais fieis leitores do Diário do Sul que, de quando em vez, passam os olhos pelo que escrevo, sabem que já aqui publiquei prosa sobre a água umas largas dezenas de vezes, desde há 20 anos. Não pensei escrever sobre a seca, pois todos o estão a fazer. Todavia, o “feche a torneira enquanto lava os dentes” entra-me pela casa adentro pela mão de especialistas e não consigo manter o propósito. Haja pachorra! Acresce que em Évora a semana passada houve reuniões cientificas importantes sobre  água, por cá passaram ministro e secretário de estado. No dia em que escrevo, todas as primeiras páginas dos diários nacionais trazem a seca como tema. Tarde piaram. Digo-lhes que “a seca é tão natural como a sua sede”, é pura verdade. O que não é natural, e é estúpido, é tratar da seca agora, quando o país está em seca há muitos, muitos meses – do mesmo modo que não foi natural “tratar” da floresta quando o país estava a arder.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan