campo porque sim

O mundo rural e o desenvolvimento económico e social de Portugal  um desafio porque não há outro, porque sim. Consubstancia-se num estudo recentemente apresentado em Lisboa, o sitio certo para falar do campo. No que me toca, gosto muito mais da palavra “campo” do que da expressão “mundo rural”, opção que é muito mais do que uma mania pessoal, mas isso é outra história. A iniciativa nasceu há dois anos pela mão de quem sente o campo como deve, como uma mais-valia, um privilégio. Isto é, a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova na pessoa do seu magnífico presidente, que sempre tem contrariado a convicção nacional de que o campo é um inaceitável e fatal beco sem saída entre o maravilhoso litoral urbano e Espanha, que atravessamos de noite para chegar à Europa. As dicotomias rural e urbano, interior e litoral só fazem sentido a gente de vistas muito curtas.

Muito para além da valia das alavancas apontadas pelo estudo como cruciais para uma agenda de futuro para o campo, existe uma profunda convicção nas cabeças dos portugueses de que campo é sinónimo de pobreza. Enquanto assim for, não há estudo que lhe valha. Seja como for, listam-se as quatro alavancas fundamentais: i. identidade e recursos endógenos (para atrair pessoas); ii. inovação e produção (para atrair empresas e riqueza); iii. turismo, cultura e património (internacionalização e consumo; e, finalmente, iv. sustentabilidade ambiental (valorização do capital natural). Irrepreensível. O problema, o verdadeiro desafio, é ultrapassar os profundos obstáculos enraizados no coletivo das cabeças portuguesas. Como se pode ler no documento, “o progresso do mundo rural faz-se considerando a existência do mundo urbano, estabelecendo com este as necessárias articulações funcionais e temáticas, e sobretudo, atribuindo valorização económica e objetivos de coesão territorial aos trunfos que o diferenciam do urbano.” Ou seja, é um caminho longo. Falta saber se há tempo para o fazer.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan