Sou leitor do Público desde o primeiro número. O Público publicou o meu Fugas a pé e por isso lhe estou reconhecido. Estou muito grato ao David Dinis, ao João Miguel Tavares e a muitos outros por todos os dias me darem a esperança de que poderei aspirar a um país melhor, mais normal; há gente, como eu, a acreditar nisso. Presto-lhes a minha homenagem de profunda gratidão, este país sem o Público seria muito pior.
Há dias, como quase todos, o Público trouxe-nos um guia de chefes e restaurantes. Folhei-o brevemente, não dá para mais.
À medida que as paginas foram passando fui alimentando a esperança de não encontrar qualquer restaurante alentejano. Este “deserto gastronómico” que é o Alentejo, em 50 restaurantes e chefes pelo Público, tem dois restaurantes/chefes referenciados – Land em Montemor e Tomba Lobos em Portalegre. Sobre o Land em Montemor não há nada a dizer; em cada milhão de alentejanos há um que lá comeu. Conheço o Júlio e o Tomba Lobos em Portalegre desde que abriu, talvez há 25 anos. Justiça lhe seja feita pela pedrada no charco, à época. Felizmente o Alentejo não tem estrelas Michelin, pelo menos até o Dr. Ceia da Silva se lembrar disso. Peço a Deus para que assim nos conserve. Evidentemente que os nossos cozinhêros, provavelmente os melhores do mundo – quem faz umas sopas de beldroegas ou de cardos com umas ervas manhosas? -, não sabem, nem querem saber que essas estrelas existem. Os chefs e os restaurantes que tratem da sua vida e que não venham para cá. A Venda Azul em Estremoz, as sopas de cação no Garfo (Évora), a Tenda d’el Rei (o melhor restaurante do mundo e um dos melhores do Alentejo), a Taberna do Arrufa em Cuba e centenas de muitos outros por todo lado, que se mantenham exclusivos para nós que habitamos esta abençoada terra. E, já agora, que os rapazes do turismo continuem a mostrar o Templo de Diana, a Capela dos Ossos, etc. e não estraguem esta cozinha verdadeiramente única.
*a coordenadora Catarina pode ficar tranquila porque “cozinhêros” inclui machos e fêmeas.