Há algum tempo que não punha os pés no Tejo. Aconteceu a semana passada, por coincidência no dia em que um jornal nacional põe o “Tejo morto” na primeira página e lhe dedica três páginas – provavelmente “incentivado” por um extenso trabalho realizado pelo El Pais uns dias antes. Nesta ausência fui lendo, ouvindo e vendo através da comunicação social. Posso-vos garantir que se não “tocasse” o Tejo com todos os meus sentidos não acreditava. É criminoso. Depois de algumas centenas de milhões de euros (não me enganei, centenas de milhões, algumas) de investimento em saneamento e todo o tipo de infraestruturas, um rio estar como está o Tejo não tem justificação. É inaceitável e inexplicável, é um crime e devia ser tratado como tal. Todos somos responsáveis, mas uns são bem mais que outros. Há um marco simbólico que, provavelmente, não aconteceu por acaso, e que assinala o início do abandono do rio, conduzindo à situação em que hoje está.
Refiro-me ao desmantelamento da ARH do Tejo no vale do Tejo quando a sua gestão é relocalizada nas Caldas da Rainha. Como foi possível, nessa altura, autarcas, grupos de ecologistas e demais forças vivas do Tejo terem aceite esta decisão? Não me lembro de ter visto qualquer contestação. Como escrevi a semana passada, a “sensibilização” é folclore, pois sem fiscalização, sem proximidade, sem conhecimento e sem saber só podia dar no que hoje temos: uma catástrofe que corresponde a décadas de retrocesso. Na prática, é um problema muito complexo que não tem solução simples e fácil. Vai necessitar de muito dinheiro e tempo. Quando um ecossistema como o Tejo chega a esta situação, mesmo com a ação certa, a inércia para a inversão é grande. Se juntarmos a tudo isto a situação de “crise” que sustenta a “justificação” para más práticas do sector empresarial e público, e ainda a grave seca que vivemos, a equação para a catástrofe está completa. Estive na foz do Alviela e o que vi é indescritível. Não estive em Alcanena, mas vi fotografias e ouvi relatos na primeira pessoa: a nascente do Alviela está como não se via há muitos anos. Dias houve em que algumas pessoas mais frágeis não puderam sair à rua, porque até os estores ficaram vermelhos. Alcanena é, pois, um bom exemplo; nos últimos seis a sete anos investiram-se cerca de trinta milhões de Euros para que tudo o que era devido fosse feito – ETARI – tratamento de efluentes industriais -, aterro, rede de coletores, etc. Como se pode aceitar o que em cima se descreve? E agora, quanto dinheiro e tempo depois voltamos a ter o Tejo? Voltamos mesmo a ter? Senhor Presidente Marcelo, vá alternando Pedrogão com o Tejo.