Já depois de escrever este escrito li num jornal digital nacional Helena Matos sobre a “festa do cone iluminado”. Faz-me pensar por onde andamos? Fiquemos felizes, a nossa Praça do Geraldo já lá tem o cone – apesar de tudo bem melhor que uma pista de gelo. Confesso-vos que me saturam a “sensibilização” e o “espírito natalício” que, curiosamente, tocam-se muito. Chegámos à época do consumo desenfreado, isto é, do gastar o que não se tem, dos “jantares de Natal”, do pacote solidariedade-fraternidade para com o próximo, e por aí fora. Somos todos sensibilizados para que assim seja. Somos também sensibilizados para tudo o supostamente correto – não desperdiçar água, separar o lixo, participar civicamente na vida da nossa terra, etc. Na prática, andamos todo o ano a não ser solidários, a esquecer os vizinhos e todos os demais que nos rodeiam, e em duas ou três semanas tudo muda.
Tudo muda com grande intensidade, em jeito de compensação; andamos todos com um enorme “espírito natalício”, pelo menos até ao momento que algum condutor não respeita uma prioridade ou nos toque a buzina. O resto da história já todos a sabemos, em janeiro a realidade cai-nos em cima e voltamos à normalidade da “não solidariedade-fraternidade”. Se virmos o Better Life Index da OCDE, no que respeita ao tópico “envolvimento cívico”, Portugal surge bem abaixo de 2, em 10 pontos possíveis.
Na verdade, o que podemos e devemos fazer é mudar de atitude. Obviamente que esta não muda com “sensibilização”, que só serve para nos enganarmos, mais uma vez, uns aos outros. A “sensibilização” é muito própria destes tempos do “politicamente correto” acima de tudo. A nossa atitude diária só muda com educação, saber e cultura. Só assim poderemos crescer como melhores pessoas e termos, naturalmente, uma atitude mais solidária e altruísta, que sirva o nosso semelhante. Muitas vezes me interrogo: como servir? O que necessita quem me rodeia, o que me pede a cidade onde vivo e o que dou aos meus alunos para além da matéria do programa? Às vezes não é necessário grande investimento pessoal, nem sequer tempo, basta um afeto, um simples sorriso. Outras vezes é preciso mais, é preciso partilhar o que se tem, dar, ensinar, acolher, escutar… Este tempo diz-nos para terminar positivamente; pratiquemos pois como quem vai ao ginásio ou para o trabalho todas as manhãs, e um dia destes vai ser natural em cada um de nós ser solidário e fraterno todo o ano.
Artigo de Helena Matos no Observador:
http://observador.pt/opiniao/a-festa-do-cone-iluminado/