o valor do lugar

Quando nada sobra, resta o lugar. A alma do lugar, a identidade de cada lugar, os vizinhos de sempre, a nossa gente, os iguais. Dramaticamente, este é o quadro dos nossos lugares. Depois da devastação do fogo apenas ficou o mais intangível mas, talvez, o mais importante: a alma, o que só sente quem lá vive. Afortunadamente, esse pouco pode ser muito, é muito. Na verdade, este espaço de proximidade tem a força necessária para levantar cabeça. O lugar, a nossa terra, a melhor do mundo, faz parte de nós, somos um.

Este espaço geográfico a que chamamos lugar é muito mais que uma posição e uma situação geográfica, assume uma natureza relacional, a ideia de que existe uma relação entre o lugar e as coisas ou os indivíduos que aí se encontram. Se o espaço é infinito, o lugar é circunscrito, associado a um limite. O lugar remete para a segurança, a estabilidade. O lugar é menos abstracto que o espaço, sendo composto por um certo número de valores que cada indivíduo apropria. Por outro lado, o espaço é indiferenciado. Ou seja, quando um indivíduo pára, ele tem a possibilidade de transformar o espaço em lugar. Esta reflexão foi inicialmente considerada pelos geógrafos anglo-saxónicos, como D. R. Sack e, mais tarde, reanalisada nos anos 1980 pelos geógrafos franceses, que se interessaram pelas representações, nomeadamente respeitantes aos laços relacionais que se estabelecem entre os homens e o lugar. Os lugares não são pontos. Têm uma profundidade que os aproxima da noção de paisagem, isto porque a paisagem é o que se vê mas pode também ser posta em questão. O que é que a paisagem significa? O que é que este lugar significa? Para responder a estas questões é necessário apelar a dimensões religiosas, culturais, sociais, económicas, etc. E, felizmente, tudo isto temos em quantidade suficiente para mantermos a Esperança de um campo vivo e vivido. Assim seja.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan