A ver se fica claro por uma vez: Portugal, desde há uns meses, é um país fortemente fustigado por atos de terrorismo. Desde 2014 que o escrevi, o fogo em Portugal é terrorismo. Finalmente parece que alguns comentadores, não responsáveis políticos, começam a admitir o facto, embora timidamente e sem chamar os bois pelos nomes. Perante o flagelo a que temos assistido só um louco é que acredita em causas naturais ou num doente mental pirómano que domingo à tarde se lembra de dar um passeio de motorizada e com um isqueiro pega fogo à floresta.
Como sabemos o terrorismo é um fenómeno de muito difícil combate, se por cá o ato terrorista tão pouco é reconhecido e assumido, como se pode combater com alguma eficácia? O que se passou este fim de semana nas nossas amadas terras do interior é inaceitável. Que mais terá que acontecer para que alguma coisa de significativo no sentido da solução possa acontecer? Só quando ficar totalmente claro que estamos perante terrorismo é poderá ser desenhada uma ação em consonância. Há menos de 15 dias, antes da explosão desta última bomba, que na tarde de segunda–feira já matou 35 pessoas, tive a oportunidade de atravessar o interior do país de lés a lés ao comprido em estrada secundária. O cenário já era arrepiante. Não consigo imaginar como seja agora. Para termos a noção da dimensão do brutal terrorismo que nos atinge, para além das vidas perdidas, das casas ardidas, da madeira que arde, etc. era muito importante que se quantificasse a perda em capital natural. Com essa parcela provavelmente o país entrava inequivocamente em banca rota. Isto é, perdoem-me comparações mas este terrorismo é muito mais danoso que o clássico. Um dia destes, depois da seca, vai vir a chuva abundante. Cada vez é mais provável que esta caia de forma concentrada e extrema, como está agora a acontecer com seca. O prejuízo que as nossas massas de água (rios e albufeiras) irão ter é absurdamente incalculável. Entretanto a GNR divulgou uma lista de boas práticas em caso de incêndio, entre elas “se notar a presença de pessoas com comportamentos de risco, informe as autoridades”, como se nota ainda acreditam no louco, na motorizada e no isqueiro.
O que falta mais acontecer?
PS- na noite de segunda-feira (dia 16) ainda tive a oportunidade de ouvir António Costa que claramente também acredita no isqueiro.
Hoje, 21 de out., a ministra da agricultura espanhola na feira internacional da fruta em Madrid encontrou o secretário de estado da agricultura português e bem lhe disse “tenham mais atenção aos criminosos que pegam fogo às matas e não tanto a quem o apaga”.