turismo e sustentabilidade (observatório)

Começo por confessar que a palavra “observatório”, tanto na moda nos nossos tempos, me deixa, imediatamente, com alguma desconfiança. Não se trata da mania de “ser do contra”, como sempre esforço-me por ser positivo e participativo como devo. Salvo raras e boas exceções, nunca vi sair nada de verdadeiramente transformador desses centros de análise e estudo, os observatórios; desde logo, se se limitam a observar, é francamente pouco, digo eu. Na verdade, era muito bom que a título de amostra se escolhesse meia dúzia de observatórios, daqueles que todos pagamos, e se fizesse uma simples e básica análise custo-benefício. No caso em apreço, o anunciado observatório de turismo sustentável no Alentejo, provavelmente, vão-me acenar com a Organização Mundial de Turismo (OMT), que recomenda a existência de observatórios de vocação regional que monitorizem e recolham informação sobre a atividade turística;  mesmo ao jeito da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo.

O Observatório de Turismo Sustentável do Alentejo e Ribatejo é uma parceria da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo com a Universidade de Évora, o Instituto Politécnico de Portalegre e o Instituto Politécnico de Santarém. Pois bem, se as minhas dúvidas são grandes no que respeita a observatórios, mesmo quando recomendados pela OMT, se for considerada a associação “turismo – sustentabilidade (sobretudo local)” essas dúvidas passam a enormes. Fica desde já claro que, obviamente, estou a considerar o turismo que temos, de massas, assente no low cost altamente predador, provavelmente como nenhuma outra atividade económica, e que pouco ou nada deixa na região a não ser os empregos de fazer a cama e cortar a relva que devia ser proibida por estas paragens. É certo que nesta particular conjuntura – do norte de África proibido, dos tsunamis da Ásia, da instabilidade da América do Sul e do resto de que não vale a pena escrever –, andamos todos contentes com a salvação do turismo que nos inunda por todos os lados e felizes com o crescimento (absurdamente insustentável) com que nos acenam. O pior vai ser quando a fatura nos cair em cima. Sustentabilidade? Já nos demos conta que vivemos num país com brutais desigualdades económicas e sociais que tem uma pegada 2,5 vezes o seu território? Alguém, de bom senso, ainda acredita no folclore do desenvolvimento sustentável? Como? Com os pobres cada vez mais pobres e os ricos mais ricos? Com África todos os dias a ser assaltada para que (ainda) possamos manter o nosso modo de vida? Como se costuma dizer, “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”; até lá, como muitas vezes escrevo, servimos limonadas aos nossos turistas com limões, a 2€/kg, que viajam desde o Chile.

Chama-se a isto brincar à sustentabiliadade.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan