turismo 2027

Depois da invasão espanhola na Páscoa apetece voltar a escrever sobre turismo. Bem ou mal o turismo toca em tudo o resto que se possa escrever; talvez por isto este tem sido, sem dúvida, o tema que mais tenho escrito nos últimos tempos. Recentemente saiu à luz o documento estratégico – não se sabe até quando(?); pelo menos desejamos que até este governo se mantenha em funções. Os próximos 10 anos de turismo em Portugal estão aqui bem estudados, é obra. Enquanto a quantidade for uma realidade quase tudo é fácil.

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trabalho e emprego

Por estes dias, um colega, reitor numa universidade brasileira, veio visitar-nos. A dada altura comentou algo que todos sabemos mas que a maior parte das vezes fingimos não ser assim: “faltam empregos mas não falta trabalho.” Lá, no Brasil, como cá. Na verdade, incomodam-me muito as paisagens sociais e económicas que vemos à nossa volta. Pelos vistos, a questão é global. O problema é complexo e, como tal, não tem solução simples. Apesar desta realidade, há duas questões que me parecem essenciais para abordar tão complexo problema: a dicotomia direito-dever e a dimensão local da coisa que assume vários nomes, designadamente “suficiência local”.

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festa e automóveis na escola

Primavera, verão e eleições autárquicas é certeza que vamos entrar em festa. Festa continua onde a imaginação não tem limites. Basta passar pelas nossas terras e estradas e os plásticos pendurados em tudo o que é sitio, a maioria com extremo mau gosto, não nos deixam ter dúvidas. Não há lugarejo e fim de semana em que não aconteça muita coisa. As grandes questões à volta do tema são muitas e significativas. Será que estes eventos contribuem positivamente para o bem estar e qualidade de vida de quem lá vive? Qual é a eficácia do investimento? Esta é mesmo a melhor opção? Uma coisa é certa, desde logo, a ideia dos plásticos pendurados por tudo o que é sítio é poluição visual e outra que não se recomenda. Quando isto acontece num centro histórico, à entrada de uma cidade, pior ainda. Mas há, pelo menos, uma outra questão pertinente. À parte o maior ou menor valor da temática que justifica o evento há sempre um programa musical associado. Está claro, e é assumido, que os ditos músicos servem para atrair gente à coisa. Perante esta realidade as minhas orelhas ficam desde logo muito arrebitadas. Significa isto que o tema e motivo, “a causa da coisa”, que justifica organização do evento, só por si, não é suficiente para atrair pessoas e ter público? Se assim é porque se faz? As respostas, certamente muito válidas, devem ser quase infinitas provavelmente com a dimensão e aposta cultural à cabeça. Portanto daqui se conclui que a Feira Nacional da Agricultura, necessita do Quim Barreiros para, eventualmente, vingar e justificar a realização do certame. Se olharmos para os plásticos pendurados por todo o lado o que salta à vista são os  artistas.

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tejo a pé – Tramagal

Num destes fins de semana cerca de 40 pessoas essencialmente oriundas de Lisboa pela mão do Tejo a pé andaram no Tramagal. Na verdade a mão foi a da empresa local Terradágua sobre qual já aqui escrevi uma vez. O programa pelos trilhos do Tejo foi magnífico, todos os participantes o reconheceram. Apesar de saber alguma coisa do tema não faço ideia quanto pode valer um programa destes para um turista do norte da Europa? Sei que é muito dinheiro. Bem a propósito dos meus anteriores escritos (“Amazónia no rio Mira” e turismo de natureza) mostra-se assim, na prática, como se faz. Na verdade, como quase sempre, à porta de casa temos o que andamos à procura. O que a Terradágua fez no Tramagal é um exemplo prefeito de um produto com um enorme sucesso onde a natureza é viva e vivida sendo a comunidade local o motor. Esta é uma excelente forma de dinamizar a economia e cultura locais. Acrescente-se que para bem começar o dia iniciou-se pela visita à adega do Casal da Coelheira, a cultura e produtos locais, como deve ser,  enriqueceram o programa. A confirmá-lo, e de que maneira, foram as iguarias saboreadas ao almoço; façam o favor de registar estes nomes: restaurante Braz e D. Jacinta à volta das panelas. Quase em todas as terras há alguma coisa deste tipo, capaz de criar valor e riqueza. O maior argumento do turismo na natureza é o, incontornável, envolvimento da população – muito para além de fazer camas e aparar relva em hotéis de cinco estrelas, o que oferece o outro turismo.

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turismo de natureza

Para não variar, o turismo continua na ordem do dia. Durante a semana passada decorreu a Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), o grande certame do setor em Portugal, e foi a oportunidade de sabermos mais sucessos desta galinha dos ovos de ouro.  Claramente não embarco nesta euforia. Bem vistas as coisas, esta indústria de cada vez mais gente ir para mais longe, mais rapidamente e por menos, é um produto do nosso tempo com uma fatura de valor incalculável, inevitavelmente, a cobrar um dia, como sempre. Entretanto, andamos distraídos e contentes.

Também há poucos dias, na bonita e raiana terra do Alandroal, decorreu um encontro sobre turismo de natureza, segundo a própria organização realizado 20 anos depois do primeiro. Suspeito que a conversa terá sido muito semelhante. Todos os que por aqui vivemos neste interior o lamentamos, mas na verdade, mesmo que o presidente Ceia da Silva diga o contrário, não existe turismo de natureza estruturado em Portugal. É absurdo, mas é verdade. É absurdo, porque temos um potencial único na Europa e porque este é efetivamente o tipo de turismo que por todas as razões mais nos interessa  – designadamente, porque é aquele que cria mais riqueza e é mais sustentável. As questões de base, eventualmente tocadas no Alandroal, estão longe de estarem resolvidas.  Além disso, não existe uma opção estratégica do país nesta matéria. Se ouvirmos o “mais que todos” presidente do turismo do Tejo, Além e Riba, falar de turismo religioso, do sol e praia, golfe, ou outra coisa qualquer, o discurso entusiasmado e enaltecedor é igual, apenas depende do palco e da hora do dia.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan