Se tiver dez mil euros disponíveis todos os meses para fazer o bem, como os aplico? Dou comida aos pobres? Apoio crianças deficientes? Famílias sem trabalho? Refugiados? Atribuo bolsas de estudo a estudantes universitários? Ou apoio a Quercus para pagar os ordenados dos seus empregados? E mais uma infinidade de hipóteses. Outra questão igualmente pertinente é sabermos para onde vai o dinheiro dos nossos impostos? Esta foi precisamente a primeira pergunta que o primeiro dos oradores formulou num debate sobre “Cultura fora de portas: e para quem não pode vir ter connosco”, organizado pela Acesso Cultura que decorreu simultaneamente em Évora, Faro, Lisboa e Porto.
A conversa entre eles foi interessante, pelo menos até ao limite da minha capacidade de me manter na sala – quem esteve do lado de cá não pode abrir o bico. Como habitualmente foi um debate entre a “família” que anda nestas coisas – artistas que reclamam o património da cultura e que a levam às “margens” (prisões, casas de inserção social, bairros problemáticos e todos aqueles contextos de que só eles sabem os nomes). É que são muitas as pessoas que, por diversas razões (físicas, geográficas, sociais, económicas), não podem deslocar-se para visitar exposições, assistir a espetáculos ou participar noutras iniciativas promovidas por organizações culturais, artistas, serviços educativos, etc. Na verdade, acredito que a transformação se dá pela educação, obviamente não só pela cultura, e duvidosamente pela “música” gerada por um pau a bater numa lata. Apostar na educação é, provavelmente, o melhor investimento de um país. Mas onde e como investimos o nosso dinheiro? A escola responde? Duvido muito que responda como deve. Os programas e métodos ficaram parados no tempo. Apesar de na Universidade haver mais alguma autonomia e liberdade, confesso-vos que neste momento me debato com um dilema entre o programa e a proposta de uma ação fora de portas no âmbito de um programa de atividades de uma fundação com crédito.
Volto à questão fundamental: como aplicamos os nossos donativos ou o nosso tempo de voluntariado, qual o maior bem que podemos fazer? Este é o titulo de um livro de Peter Singer sobre o altruísmo eficaz que nos conduz ao “para onde vai o dinheiro dos nossos impostos?” ou ao “como sei se o meu donativo, ou tempo, vão ajudar realmente as pessoas que necessitam”? São questões que me perseguem. Mas sei que não preciso de ir para muito longe, pois quem necessita vive na minha terra e é meu vizinho. Também sei que, como altruísta amador, não me posso comparar aos profissionais que escutei a semana passada. Depois do debate que ouvi, como fazer o maior bem em prol de uma Humanidade melhor, é a pergunta que ficou ainda mais vincada na minha mente. Nesta matéria, as comparações são brutalmente difíceis e sabemos que não só somos responsáveis por aquilo que fazemos, mas também pelo que não fazemos. Por favor, não se conforme.