A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) é a organização de cúpula do património cultural, tendo intervenção pioneira em diversos campos, sobretudo ao nível da cooperação internacional, decisiva para a protecção de heranças culturais em risco. Com sede em Paris, está a consagrar uma atenção crescente ao património religioso, também ele a braços com sérios problemas. Em Portugal acaba de ser criado o Centro UNESCO para a Arquitectura e a Arte Religiosas, em Santiago do Cacém. Este organismo não-governamental, fruto da colaboração de mais de três dezenas de especialistas na herança religiosa não só do Cristianismo, mas também do Judaísmo e do Islão, representa igualmente um reconhecimento do trabalho pioneiro que tem vindo a ser feito, em terras do Baixo Alentejo, na defesa do património sacro, enfrentando com determinação alguns dos seus adversários: os pseudo-restauros por santeiros e curiosos, as obras feitas sem acompanhamento técnico, os furtos, o vandalismo ou, simplesmente, o desleixo e o abandono.
O Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHA) – fonte para o presente texto – , sobretudo na pessoa do Arqtº José António Falcão, é o grande “culpado” pelo excelente e espectacular trabalho que tem sido feito. Esta acção é bem testemunhada pela rede museológica diocesana, hoje com oito pólos, dispersos em pontos-chave da região, as exposições de arte, cruzando arte antiga e arte contemporânea, ou o Festival Terras sem Sombra, que une o património à música sacra e à biodiversidade, são algumas das suas valências.
É necessário concentrar recursos e saberes para esta salvaguarda e colocá-la ao serviço de uma cartografia da cultura da paz e da defesa da identidade, com um projecto que ligue o passado e o futuro”. Como pano de fundo está o próprio desenvolvimento do território, segundo lembrou o embaixador Jorge Lobo de Mesquita (representante da Comissão Nacional da UNESCO), evocando o exemplo do Caminho de Santiago, hoje alvo de uma intensa redescoberta nesta e noutras regiões.
O trabalho que tem sido feito no baixo Alentejo tem de ser valorizado e reconhecido como forma de exemplo para outras regiões; com o novo Centro UNESCO é natural que assim seja.