vida distante

Antes de iniciar este escrito dei uma volta por alguns sítios de informação. Nada mais se lê que banca, europa e terrorismo, o maravilhoso mundo a que chegámos e em que vivemos. Até o Europeu do nosso contentamento começa a ficar distante, embora as medalhas do Senhor Presidente continuem a ser distribuídas.

Bem a propósito, um amigo, gestor de empresa própria de sucesso, sempre bem informado, escreveu-me:  “até o LIDL já compra a fruta e as verduras aos produtores locais. Enquanto isso tens o presidente do governo de Espanha a dizer que a situação de Portugal é muito pior que a de Espanha, Portugal a dizer que está melhor que a Grécia, a Itália a dizer que está melhor que a Espanha, a França a dizer que está melhor que a Itália e estes cabrões todos fazem uma suposta União Europeia… O que é um belíssimo exemplo do que significa a globalização!” Transcrevo porque me parece uma excelente imagem do esterco em que vivemos. Triste vida esta que nos entra pela casa dentro e sobre a qual nada, ou quase, podemos fazer. Esta é a face oposta do que escrevi a semana passada sobre a vida de proximidade. Ganha força uma questão que formulei há muitos anos e que, certamente, por aqui já a terei escrito: “quanto vale um hectare de terra fértil com um poço de água potável?”

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arquitectura e arte religiosas (centro UNESCO)

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entre a Terra e o Céu – “que coisa estranha são as nuvens” de José Tolentino Mendonça inspirado num filme de Paolo Pasolini.  (fotografia da Diocese de Beja)

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) é a organização de cúpula do património cultural, tendo intervenção pioneira em diversos campos, sobretudo ao nível da cooperação internacional, decisiva para a protecção de heranças culturais em risco. Com sede em Paris, está a consagrar uma atenção crescente ao património religioso, também ele a braços com sérios problemas. Em Portugal acaba de ser criado o Centro UNESCO para a Arquitectura e a Arte Religiosas, em Santiago do Cacém. Este organismo não-governamental, fruto da colaboração de mais de três dezenas de especialistas na herança religiosa não só do Cristianismo, mas também do Judaísmo e do Islão, representa igualmente um reconhecimento do trabalho pioneiro que tem vindo a ser feito, em terras do Baixo Alentejo, na defesa do património sacro, enfrentando com determinação alguns dos seus adversários: os pseudo-restauros por santeiros e curiosos, as obras feitas sem acompanhamento técnico, os furtos, o vandalismo ou, simplesmente, o desleixo e o abandono.

UNESCO

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vida de proximidade

Como sabemos vivemos num mundo global sem escala e sem rosto, onde é fácil parecer sério e conveniente e não o ser. Não é possível e aceitável viajar para Londres por 30 €, ou comprar uma cadeira, feita do outro lado do mundo, provavelmente por uma criança, a dois Euros; estas, como muitas outras, são enormes mentiras. Obviamente que isto vai acabar. Por isto, e muito mais, sou um fervoroso adepto do local, o que chamo o valor do local, o up local; a terra onde vivemos, os seus recursos e saberes. Na verdade trata-se dos recursos e patrimónios da nossa terra, naturais e culturais, que todos conhecemos, vemos, apalpamos e cheiramos.

borba 41 º C

25 de julho, 15:00, em Borba 41ºC. Na escada de acesso ao Centro Cultural um homem afia sábia e calmamente a navalha. Que mais pode fazer?

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Tejo sustentável?

Foi no passado dia 7 em Vila Nova da Barquinha que se falou do Tejo sustentável. Curiosamente nesse mesmo dia a edição semanal (Lezíria e Médio Tejo) do O Mirante tem como capa “poluição regressa ao Almonda…”, é claro que Almonda é Tejo. Em que ficamos? Falou-se, bem. Nem sempre se fala bem mas desta vez falou-se bem, descontemos os ambientalistas da nossa praça que vivem noutro mundo, acreditam em milagres e querem o Tejo de há 50 anos: demolimos as barragens e compramos energia (nuclear?) a Espanha? Sustentabilidade do rio é um enorme desafio e uma história que tarda em acontecer. Considerando os justos e inalcançáveis (?) objetivos da organização, entre a utopia do “tempo volta para trás” e o politicamente correto ouvimos alguns dos maravilhosos mundos que “governam” o Tejo. A grande questão é saber o que fica para o dia seguinte? Ou seja , no que resulta positivamente tudo o que se ouve e conversa nestes auditórios? Na prática, como se concilia a ação dos “donos do rio” e o mundo real das populações e atividades econômicas locais/regionais que vivem o rio e do rio?

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andar (convite para caminhar no verão)

andar é a melhor das actividades físicas, sobretudo neste tempo artificial de “cultura de ginásio”.

para conhecer uma terra, cidade ou um povo nada se compara como o andar a pé.

se juntarmos o andar e a natureza o resultado roça o divino.

experimente e verá, no Tejo a pé vivemos informalmente, em grupo de amigos/conhecidos, esta verdade.

Tejo a pé no Notícias do Mar de junho:

https://www.dropbox.com/home?preview=tejo+a+p%C3%A9+em+junho.pdf

Convite para caminhar no verão:

Centro de Ciência Viva de Estremoz (Universidade de Évora)

http://www.ccvestremoz.uevora.pt/home/

julho

dia 23, 10:00, praia da Parede: “geobiodiversidade, algumas páginas da história da Terra na praia das Avencas (Parede)”

dia 24, 10:00, praia do Guincho: “a história da Terra do Guincho à serra de Sintra”

setembro

dia 3, 10:00, praia da Parede: “geobiodiversidade, algumas páginas da história da Terra na praia das Avencas (Parede)”

dia 4, 10:00, praia do Guincho: “a história da Terra do Guincho à serra de Sintra”

inscrição obrigatória em:

http://www.cienciaviva.pt/veraocv/2016/

 

acidente na base do Montijo

A propósito da queda do avião na base aérea do Montijo um leitor (Carlos Conde)  do Observador escreveu este  delicioso comentário:

“Recomendação grátis:

A Força Aérea, se estiver sintonizada com o governo, deve começar por negar em absoluto a queda da aeronave.

Quanto ao fumo negro visível na foto basta dizer que foi provocado por combustão espontânea de pneus, numa sucata, pertencente a pessoa próxima dos sucateiros do PS.

Mais tarde, após as notícias  sobre o euro, o ministro da defesa deverá aparecer na tv e, entrevistado por pessoa de confiança (são quase todos), responde que já estão no terreno equipas cinotécnicas em busca de um eventual avião desaparecido.

A suspeita sobre o desaparecimento surgiu na sequência de “rumores anónimos”, quando uma equipa especializada multidisciplinar da Força Aérea após ter contado, por duas vezes,  todos os aviões concluiu estar em falta um dos grandes.

Especulou-se sobre o desaparecido tendo sido colocada a hipótese de ter ido a Paris em treino dos pilotos, com passagens a 600€ para amigos.”

in: Observador (11 de julho, 2016)

Para além das mortes e feridos que muito se lamentam, um país com humor é um país melhor.

” O humor não é um estado de espírito mas antes uma visão do mundo” ( Ludwig Wittgenstein )

 

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Parabéns Portugueses – Nação Valente e Imortal

 Portugal

 

Vontade

Força

Sacrifício

Suor

Talento

Paixão

À Glória de Deus (Fernando Santos).

Esta é, na íntegra, a carta que Fernando Santos escreveu na solidão do seu quarto, agradecendo a Deus. Não foi depois do jogo com a França. Foi em Marcoussis a 18 de junho, depois do segundo empate no segundo jogo (frente à Áustria) do Europeu. Nessa altura, o discurso da vitória ficava escrito. No fim do jogo contra França, o selecionador pediu uns minutos e antes das perguntas dos jornalistas na conferência de imprensa leu-a em voz alta muito emocionado, sob o som de aplausos: Em primeiro lugar e acima de tudo, quero agradecer a Deus Pai por este momento e tudo aquilo da minha vida. Deixar uma palavra especial ao presidente, dr. Fernando Gomes, pela confiança que sempre depositou em mim. Não esqueço que comecei com um castigo de oito jogos pendentes. A toda a direção e a todos os que viveram comigo estes meses. Aos jogadores, dizer mais uma vez que tenho um enorme orgulho em ter sido o seu treinador. A estes e aqueles que aqui não puderam estar presentes. Também é deles esta vitória. O meu desejo pessoal é ir para casa. Poder dar um beijo do tamanho do mundo à minha mãe, à minha mulher, aos meus filhos, ao meu neto, ao meu genro e à minha nora e ao meu pai, que junto de Deus está certamente a celebrar. A todos os amigos, muitos deles meus irmãos, um abraço muito apertado pelo apoio mas principalmente pela amizade. Por último, mas em primeiro, ir falar com o meu maior amigo e sua mãe. Dedicar-Lhe esta conquista e agradecer-Lhe por ter sido convocado e por me conceder o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado. Espero e desejo que seja para glória do Seu nome.

E, como disse Pierre Leroi:  “os Vinhos de Portugal? É todo o sol, a luz, a cor e a vida inteira deste maravilhoso País!”; aplica-se  obviamente ao fútebol.

a minha praia [texto 300]

time out

este é o texto 300 de Otros Mundos.

quis a Time Out, lida e vivida durante anos, que celebrasse o 300 com a minha praia – desde os 10 anos que a Parede é a minha praia.

aqui vivi, fui feliz e sofri.

agora mesmo no Sargo – bar, na Parede,  sem dúvida o melhor bar da Linha. Este é um segredo com que comemoro o 300 com todos os que me leiem.

escreve a Time Out: quem vive na linha é mais feliz. Será?

 

 

 

a inovação inútil

Num dos corredores da universidade onde trabalho surgiu agora exposta uma bicicleta de madeira. Para que serve uma bicicleta de madeira? Não consigo encontrar uma resposta que valha a pena. É uma inutilidade como tantas outras que para nada serve a não ser entreter um conjunto de gente que assim se sente ocupada e útil. Muito provavelmente o país evita assim maiores despesas com tratamento de depressões, baixas, desemprego etc. É a sociedade que somos. Todavia esta inutilidade interessa ao leitor porque assim fica a saber onde se gasta muito do dinheiro dos seus impostos. Este mal não é português, é geral. A Europa padece desta prática – inovar com inutilidades e chamar a isso empreendedorismo. A bicicleta de madeira simboliza o produto de excelência dos nossos jovens cientistas empreendedores e inovadores que por esse país fora enchem os centros de incubação de empresas e coisas parecidas. Na prática, nada disto interessa à vida das pessoas e resolve coisa nenhuma. Algumas destas peças até têm alguma beleza mas nada mais.

 

bike de madeira

 

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joana astolfi

somos muito, muito bons e não é só Renato Sanches.

Joana Astolfi, soberbo:

“Gosto de ressuscitar espaços e objectos ‘doentes’ ou obsoletos. Dar-lhes nova vida e um novo uso. Nos espaços e objectos em que intervenho, procuro criar tensão entre o ‘antes’ e o ‘depois’, evidenciar este ‘gap’. O conceito, a história que vou contar, é sempre o meu ponto de partida. O que me interessa mesmo é o processo criativo, mais do que o ponto de chegada, o produto final. Interessa-me o humor que surge através do inesperado, dos erros, as imperfeições. Gosto de celebrar o erro. O produto final acaba sempre por ser único e exclusivo, tem sempre uma história só sua.” (Joana Astolfi)

enalteço, subscrevo e partilho,  isto é OTROS MUNDOS.

http://www.joanaastolfi.com/

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan