Viajar pelas nossas estradas nesta altura do ano é magnífico, pela paisagem mas não só. Os anúncios e pendentes de festas, festivais e festarolas não têm limites. Mesmo a mente mais imaginativa e inovadora em cada curva é brutalmente surpreendida. Não me refiro às tradicionais festas e romarias, mas sim a tudo o resto que pretende animar as nossas terras. Todas as cidades, vilas, aldeias, freguesias e lugares se multiplicam em todo o tipo de eventos sobre os mais variados temas e infinitos formatos. Andei distraído e de repente fui assaltado pelos caracóis que por todo o sul merecem honras de cartaz e grande distinção. Como há que ser imaginativo e diferenciador – isto para não falar nos tão usados e gastos empreendedorismo e inovação –, em alternativa temos as caracoletas.
O caracol não tem limites, ultrapassa tudo e todos como cabeça de cartaz. A continuar assim, um dia destes vai-se juntar à Amália e ao Eusébio como ícone nacional. As sardinhas assadas e o bacalhau que se cuidem. Desde o festival internacional num pavilhão multiusos ao produto grumete assinado por chefes de cozinha, a tudo o caracol se presta. Para todos os gostos. Neste interior despovoado e envelhecido, entre muitas perguntas, interrogo-me como são possíveis tantas propostas, em concelhos/freguesias vizinhos num mesmo fim de semana? Será que há público para tanta oferta? Habitualmente, cada um destes eventos tem um programa cultural gratuito preenchido por todo o tipo de artistas, incluindo os mais conhecidos, cujo custo não será propriamente barato. Quanto custa esta cultura e quem a paga? Qual o retorno deste investimento? Suspeito que o custo desta “cultura gratuita”, a mais das vezes de qualidade duvidosa, é muito caro. Obviamente que as vilas e aldeias têm direito a cultura e entretenimento mas há um limite para o razoável. O que vejo por aí anunciado leva-me a suspeitar que esse limite foi largamente ultrapassado e que alguém com algum bom senso tem de por termo a isto. Não tenho dúvida que toda esta “animação” mexe positivamente com as micro-economias locais e não só, mas já tenho enormes dúvidas que cada um dos euros “investidos” tenha o melhor dos resultados e efeitos. Se este dinheiro fosse investido diretamente em economia social, saúde, educação, etc., qual seria o efeito positivo na qualidade de vida das pessoas? Naturalmente que muito para além do bom senso, que tanta falta faz, alguém tem de monitorizar este “frenesim festivo” e equacionar as melhores alternativas para a aplicação destes dinheiros. Enquanto isto não acontecer, um breve levantamento do que por aí se celebra e festeja deixaria o mundo boquiaberto com a imaginação e diversidade cultural (?) deste povo.