a agenda do Tejo

O Tejo parece querer bradar alguma coisa. Para além do Fórum que decorreu em Vila Franca anuncia-se o III Congresso, a Confraria do Tejo e têm surgido alguns ecos de notícias e opiniões nos media. Mas muito mais que a boa conversa, e nem sempre assim é, o Tejo necessita de ação, pequenas ações que sejam. Sobejam os planos, as estratégias e os estudos. Muito gostaria de saber de todo este somatório de planos, ao longo de décadas, o que se concretizou e quais foram os resultados? Além do enorme investimento em tratamento de águas residuais urbanas e dos arranjos das margens, o que se fez? Antes de mais, antes de ação, é imperioso que se faça este balanço, o que se planeou, fez e no que resultou. Só depois disto é que faz sentido desenhar uma agenda, a agenda do Tejo.

E uma agenda não é um estudo ou um plano, é um conjunto de ações, objetivas, orçamentadas e calendarizadas que conduzem a um resultado. Só assim poderemos ter sucesso no Tejo. Às vezes, quase sempre, não são precisas grandes ações, muito menos o habitual entornar de dinheiro para cima dos problemas. Uma agenda são um conjunto de ações que conduzem a um resultado: Tejo vivo e vivido. A agenda do Tejo, como qualquer uma, exige: ações integradas, exequíveis, com orçamento, calendário, indicadores de execução e responsáveis, que resultem em mais valia para todos, a começar pelo Tejo. A nossa agenda pessoal também assim é. Fazemo-la com o objetivo de atingir os nossos objetivos. Planeamos e agimos com os meios necessários. Tem de ser exequível e responsabilizar. Todas as partes e interesses têm que estar do mesmo lado da mesa e comprometidos.

Desde logo, lamento muito, mas temos de esquecer o Tejo de há 50 anos. Os Guardas Rios há muito que acabaram, a ARH definhou. Isto já não existe e não volta. Desse tempo resta-nos uma memória rica em saberes que devemos usar e adaptar para o Tejo de 2016. O imenso e valioso “território Tejo”, provavelmente como não há outro no nosso país, goza de características, ambientais, sociais, culturais e económicas únicas. Temos atores de excelência, isto é, temos tudo para que exista uma agenda em prol do Tejo. Nada justifica que assim não seja e se assim não for os responsáveis têm que ser denunciados porque é inaceitável. Ignorar um recurso e um capital natural, social, cultural e económico como o Tejo é muito grave. Mesmo que Lisboa não saiba nem entenda o que escrevo, que o Tejo não passe de uma massa de água que banha a Torre de Belém e que separa duas margens, de Vila Franca para cima todos sabem que o Tejo é a nossa vida. É possível tratar e cuidar do Tejo mesmo que Lisboa e os seus ministérios não o queiram. Sabem como? Fazendo o que nos compete. Se assim for, mesmo quem fica de fora será “arrastado” pela revigoradora corrente.

Um rio é um sistema vivo que vai muito para além de um caudal de água que escoa de montante para jusante. Um rio é um sistema vivo que cria e sustenta vida. Esqueçam o Tejo de antigamente e os ministérios de hoje, deixemo-nos de desculpas para não tratar do nosso maior recurso. O Tejo não é um destino de fuga para quem vive no litoral nem tão pouco um paraíso turístico como nos fazem crer, onde tudo começa e acaba. O Tejo tem vida própria e essa vida tem de ser respeitada, valorizada, valorada e usufruída. O rio tem uma memória identitária do passado vivido pela simbiose perfeita entre o território e as pessoas, é aqui que deve assentar a Agenda do Tejo.

Necessitamos do Tejo mas Tejo também precisa muito de nós.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan