Várias foram as vezes em que aqui escrevi sobre a boa prática do andar, o exercício mais natural e prazeroso de todos. A última foi sobre o ir a pé para a escola. Num solarengo domingo de setembro, um grupo de amigos, a que chamamos Tejo a Pé, foi até Constância e na Aldeia da Pereira juntou-se aos bons profissionais locais da Ponto Aventura. A proposta era fazer algo diferente, um pouco para além de um passeio pedestre, mais ou menos longo, com bonitas e diversificadas paisagens. Até para fazer jus ao nome, Tejo a Pé, muitas vezes procuramos andar nas margens dos rios, ou nas suas proximidades. Desta vez a ideia, meio estranha (?), era andar dentro do rio. As instruções prévias a todos os participantes estavam dadas, designadamente a necessidade de uma muda de roupa seca no ponto de chegada. Mas a surpresa, a grande surpresa, foi mesmo a prática. Motivados por um guia muito experiente e conhecedor, alguns fizeram-se ao rio e foram por ali fora numa experiência única para todos os sentidos, como convém em situações pouco habituais.
Mais do que a invulgar caminhada, há pormenores que devem ser partilhados com os leitores de O Mirante. Em finais de Setembro o país estava quase todo declarado em estado de seca extrema, sendo surpreendente o caudal que fomos encontrar na ribeira da Foz. A natureza tem destas coisas (a geologia explica-o) mas estas “coisas” são raras, cada vez mais raras. Na velha e gasta Europa, não apenas social e economicamente, um curso de água como a ribeira da Foz é um tesouro único. Água abundante e limpa, envolta num túnel de vegetação impressionante pela sua beleza e riqueza. Riqueza que não se fica só pela vegetação, mas que se evidencia na avi-fauna que se sente em todo o percurso. A testemunhá-lo estavam as duas professoras de biologia que integraram o grupo. Tudo isto acessível e gratuitamente, à porta da nossa casa. Qual o valor deste património natural? Quanto pagará um urbano europeu, que já não se lembra do que é um rio, para viver uma experiência destas? E se no fim, depois de um mergulho numa piscina, tiver um excelente repasto de peixe do rio frito com açorda, como foi o caso? Suspeito que isto não tem preço. O melhor mesmo é guardar o segredo. Mas usem, por favor. Ninguém duvide que um bom modo de conservar e valorizar um rio é usá-lo e a sua saúde também agradece. Aproveito ainda para escrever que recentemente foi lançada a Grande Rota do Zêzere; se o resto for bem feito, será um produto turístico sem paralelo na região. Porque não fazer agora o Caminho do Tejo?
Antes de terminar ainda tenho que manifestar algo que sempre me surpreende – a capacidade de resiliência dos sistemas naturais. Por estes dias o Tejo tinha andado pelas bocas do mundo justamente pela degradação da sua qualidade, mas ali ao lado, mesmo ao lado, afinal está o paraíso. Abençoada natureza.
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