semana da mobilidade

Como que por ironia, a segunda-feira da Semana Europeia da Mobilidade (SEM), talvez por coincidir com o efetivo início das aulas nas escolas, acorda em Lisboa e Porto (só?) com engarrafamentos muito para além do normal. Melhor, anormal; não é normal uma via rápida com trânsito parado. Na verdade, ironicamente, este pode ser lido como o resultado da “magnífica” SEM que todos os anos, por esta altura, há mais de uma década, nos entra pelos computadores e tablets dentro.

É certo que há muito mais pessoas a fazer a sua vida diária, e a levar as crianças à escola, a pé ou de bicicleta, mas duvido muito que seja por qualquer efeito da dita SEM. Em oposição, tenho a profunda convicção do ridículo, e do prejuízo que causa fechar uma via rápida para que durante umas horas alguns pais andem de patins ou trotineta com as criancinhas – dou como exemplo a Marginal (N6) que liga Cascais a Lisboa. Depois disto, só falta mesmo deixarem-nos praticar skate durante umas horas na A1. No dia seguinte, os mesmos pais levam os filhos à escola e só não entram com o automóvel dentro da sala de aula porque não conseguem.

Todos os anos as iniciativas da SEM são variadas e não há imaginação para mais. Este ano, entre outras, dei pelo scooters day e numa boa terra do Tejo incentivaram as pessoas a deixarem de andar a pé e a usarem o autocarro. Não dá para imaginar o que virá a seguir, mas a continuar a assim ainda vamos ver alguma marca de automóveis a demonstrar a vantagem destes na mobilidade e na saúde dos utilizadores.

Em sentido contrário da SEM, muitos dos agregados familiares possuem mais do que uma viatura: umas vezes por absoluta necessidade, tal a independência de vidas profissionais, outras nem tanto. Identifica-se, cada vez mais, o automóvel com liberdade e o esforço de “ganhar tempo”, que raramente se traduz em “tempo livre” e muito menos em qualidade de vida e bem estar.

É incontornável e volto a escrever que as vantagens em caminhar ou andar de bicicleta são tão evidentes que não é necessário justificá-las. A lista de condições para que esta mais valia urbana se torne cada vez mais uma realidade é extensa, mas quase que se pode resumir a uma só: favorecer a proximidade entre o lugar de residência e o trabalho/escola.

 

Esta opção, de grande valor estratégico, assenta em políticas de atuação coerentes, nacionais e locais, claras e bem estruturadas, nunca na avulsa e festiva SEM.

Sabemos a receita, falta aplicá-la. Entretanto, folclores como a SEM vêm mesmo a calhar.

Aproveite a oportunidade e faça duas coisas boas num só dia, amanhã vá votar a pé.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan