Há muito que nada escrevo na “emoções com ténis”. As corridas têm sido poucas ou nenhumas. Neste final de época, para compensar, em dois fins de semana consecutivos duas boas corridas: TSF Runners e Lagoa de St André.
Aproveito as boleia do José Vale e aqui vão algumas (boas) emoções com ténis.
Corrida TSF Runners 2015 por José Vale.
795º lugar – Não sei bem o que isto significa mas foi uma bela corrida…
54:39.81 – Gostei de voltar ao minuto 54. Houve repercussões na Etiópia.
Ao sair de casa, a lua ainda lá está no azul claro do céu acompanhando-me na manhã fresca. Caminho pela rua deserta, sem música alguma a ressoar na cabeça, quando em sentido contrário, numa scooter, vêm duas adolescentes a falar em voz alta tentando alcançar os decibéis necessários para se ouvirem. Quando me vêem, surpreendidas, gritam-me em uníssono três palavras que não entendo mas fico a pensar na forma orquestrada da acção, que de tão perfeita subentende uma cumplicidade invulgar. E, se calhar, até me insultaram mas foi engraçado. Depois, cheira a pastéis de Belém e há quem já esteja a abastecer-se para dar força às pernas. Na partida, o Pedro e o seu amigo Carlos lá estão e, comme il faut, começamos a falar nas desgraças das corridas, que nos dói aqui e ali e que não treinamos como mandam as regras. Sabemos que há sempre qualquer coisa que não está perfeita mas estamos, corajosamente, à partida. Como ficámos separados estou concentrado e faço o sinal da cruz, com o comentador a inventar letras para canções do José Cid, enfiando-lhes com TSF, corridas e outros termos pelo meio. Acho que é aquele que canta músicas quando o Ronaldo mete golos e deve ter sido por causa dele que arranquei a sete pés dali para fora fazendo um primeiro km acelerado. Vai-se para Algés, passa por mim o pacer dos 50 minutos e, já em Belém, chega o dos 55 minutos. Estou muito habituado a vê-los passar mas, desta vez, encosto-me a ele experimentando a sensação de todos os que usam este método para fazer um bom tempo. Está calor mas não muito e o pacer afasta-se e eu a ver que o vou perder. A lesão dos últimos tempos, no tornozelo, anuncia-se ao km 3 mas não lhe dou tréguas. Outra vez junto ao pacer pela 24 de Julho, está tudo a correr bem nem parecendo que não tenho treinado nada de especial. Será que o método de treino que descobri há tempos está, de novo, a resultar? É aquele que consiste em não treinar e ir para as provas à balda, lembram-se? Fim da 24 de Julho, dou a volta para trás e do outro lado vem o Pedro a gritar-me “Vai Zé, que ainda só passaram 3!”. Sou apanhado pelos dois amigos logo a seguir e juntamo-nos ao lado do pacer aproveitando o passeio na avenida para falar de Porsches e de Harleys-Davidson. A conversa alivia o esforço, é sabido, e começamos a deixar o pacer um bocadinho para trás quando chega a hora da fatídica pergunta. Junto à AIP, está uma senhora no meio da estrada a fotografar e aviso o Pedro que vai sair a pergunta: “Desculpe, minha senhora, mas já passaram muitos?”. Na variedade das respostas está o seu encanto e a senhora responde, envergonhada “Ai desculpe, não sei, é que cheguei mesmo agora…”. Fomos às gargalhadas e os meus amigos, de repente, afastaram-se de mim não mais que um metro. Sei o que isso significa, que estão mais rápidos que eu e digo-lhes insistentemente para se irem embora. Mas são pessoas tão boas que não me deixam para trás…Falamos um bocado de trabalho, vejo o pacer dos 55 mais atrás, vamos bem já com a meta à vista. Peço palmas aos espectadores, eles alinham e proponho aos compagnons de route uma chegada de mãos dadas. Lembram-se do filme “Three Amigos”? Com o Steve Martin, o Randy Newman e o Lorne Michaels? Foi parecido. Só faltaram os cavalos e os sombreros… Foi uma imensa berraria sobre a linha de chegada “Vitória! Vitóoooooria! Ganhámos!!!”.
Que diversão! Assim a vida, meus amigos, Vale.