Há pouco mais de uma semana este outono, de quase trinta graus e com o mar a vinte, andava estranho. Seja como for, o calendário e as melhores tradições mantêm-se. E, apesar de tudo, as mutações da natureza fazem-se sentir; depois dos dias longos e da “euforia” do verão, caminhamos agora, no hemisfério norte, para os dias mais curtos e frios do inverno. É um tempo de maior recolhimento em que os povos se preparavam para a aspereza dos dias invernais vindouros. É o tempo da energia dos frutos secos de Todos os Santos e do vinho novo que nos vão dar a energia e o calor para passar o Inverno. Este é também um tempo de transição, que nos convida a observar o que nos rodeia, e onde a natureza nos convida à regeneração interna e externa que desejamos.
Parecemos ter esquecido a riqueza da sucessão das estações do ano. Tudo nos convida a isso – vamos aos supermercados, os mesmos em todo o país, e a banca dos legumes e fruta quase que não muda, como se não houvesse estações do ano.
Todavia, como aprendemos cedo na escola, agora é o tempo de os frutos e folhas caírem ao chão. Os primeiros amadurecem, enquanto as folhas, desprovidas de nutrientes, se desprendem dos galhos para dar lugar a uma nova vida.
Trata-se de um processo natural que nesta época de transição é necessário para que árvores e plantas em geral possam seguir em frente no seu crescimento.
Ou não é esta também a altura da desfolhada?
Também connosco assim é; temos agora a oportunidade da renovação e se não houver espaço para o novo, continuaremos a viver do que é antigo.
O que é antigo nem sempre é descartável, evidentemente. Ainda assim, é importante analisar constantemente de onde estamos a vir e para onde vamos.
Como? A partir da aceitação e do desprendimento. Nós temos escolhas e elas dependem só de nós. O que somos, como pessoa e como país, depende só das nossas escolhas.
Retomando o exemplo do outono, sentimos que a transição é requisito obrigatório para a continuidade do percurso.
Vivemos agora um período de transição que nos poderá levar a abraçar uma possibilidade de mudança que todos desejamos para melhor. Caminhar no fio que separa duas épocas não é fácil mas é necessário.
Assim, quando a primavera se estabelecer, as mudanças começarão a trazer frutos. Pode ser que eles sejam mais saborosos. Anuncia-se uma aurora boreal que nos pode trazer melhores vistas para a nossa qualidade de vida.
De qualquer forma, no próximo ano, um novo outono e uma nova primavera chegarão para mostrar que nunca é tarde para nos desprendermos e darmos início a novas transições e escolhas.