interioridade

Muitas vezes já aqui escrevemos, convictamente, acerca do valor do campo. Não acreditamos em paliativos do tipo “descriminação positiva para o interior despovoado”, acreditamos sim nos recursos do interior. O despovoamento e desertificação do interior não é um fenómeno português, eventualmente resultante da incompetência de um qualquer governo. Quiçá da falta de medidas do tipo da tal “descriminação positiva”.

O que se passa no interior de Portugal é a consequência natural de um modelo civilizacional que nos possibilita comprar as laranjas que veem do Chile mais baratas que as do laranjal do nosso vizinho.

Obviamente que o efeito consequente do tal modelo é incontornável e não há nenhuma política caseira que consiga fazer alterar esta realidade. Todavia, não é necessário ser especialista de qualquer coisa para, com um pouco de bom senso, concluir que isto é absurdo e vai-nos fazer esbarrar numa parede.

Como sabemos, uns mais que outros, esta insustentabilidade global está em causa e o mundo está em mudança. Mesmo que tardemos em ver, os recursos do interior vão assumir o seu inestimável valor. Da mesma forma que o atual estado das coisas não ocorreu de um dia para o outro, o caminho inverso também vai levar algum tempo. Aos poucos vai-se tornar óbvio, mesmo para os mais cépticos, que viver na cidade não é melhor do que viver no campo. Num país como Portugal, esta realidade é ainda mais verdadeira.

No centro de Lisboa, num canteiro com relva está um cartaz onde se lê “proteja a natureza”. Para além do cómico e ridículo, este cartaz afirma que a tomada de consciência do valor da natureza é assumida nas cidades. Depois desta consciencialização já não chega um fim-de-semana na província. Todos nós temos raízes rurais e começamos a perceber que podemos ser bem mais felizes na nossa terra. O tempo dos shoppings começa a passar e a mercearia do vizinho faz cada vez mais sentido. A menor distância para o campo não é pela via das auto-estradas mas antes pela proximidade afetiva e emocional. Aqueles que são felizes e que vivem bem à frente de um computador num qualquer contentor a que chamam “centro de inovação e empreendedorismo empresarial” são, felizmente, uma ínfima minoria. Há muita felicidade para além desse quadro que retrata o sucesso (efémero) destes tempos.

Quanto tempo falta?

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan