Muitos de nós demos conta da notícia sobre as possíveis portagens para entrar em Lisboa e Porto, do custo dos sacos de plástico e até de uma nova taxa sobre as viagens de avião. Isto é a Economia Verde. Uma das propostas (ainda estamos neste nível) mais emblemáticas traduz-se num novo imposto sobre as emissões de dióxido de carbono.
Na verdade, estamos a falar de novos impostos no caminho da designada Economia Verde. Alguns também saberão que o ministro do Ambiente defende que Portugal se assuma “como um país líder no crescimento verde a nível global”.
Tudo isto resulta de um Compromisso para o Crescimento Verde proposto pela Comissão de Reforma da Fiscalidade Verde que vai agora entrar num período de consulta pública. Mais uma vez, o que se lê é reduzir o ambiente a um custo. Todos seremos responsáveis por este enviesamento, mas uns mais que outros. Na sequência destas notícias, muitos jornaleiros (não confundir com jornalistas) limitaram-se a perguntar “quanto nos vai custar defender o ambiente?”
Coitado, o ambiente fica sempre com o mau ónus de ser um custo, um entrave ao desenvolvimento, seja ele qual for, e um empecilho para a vida das pessoas. Não o merece.
Não o merece, não acredito no copo meio vazio mas sim no copo quase cheio. Isto é, o ambiente é uma enorme mais-valia como muitas vezes já aqui o escrevemos. O ambiente é daqueles temas em que ninguém perde, todos ganhamos. Provavelmente não há outro tema em que isto seja tão verdadeiro. Mais uma vez se formula a pergunta: quanto vale ter um rio com água limpa à porta de casa? E quanto ganho em saúde (poupo em médicos) se regularmente der uns passeios com o meu cão nas margens desse rio, ou se me entreter a pescar?
Como é hábito no nosso país, ficamos sempre a meio e raramente vamos ao fundamental. O nosso governante do ambiente sabe que o global vai incontornavelmente perder peso e que o local em contrapartida vai voltar a ganhar protagonismo. E por isso, muito mais importante do que tornar Portugal um bom exemplo global na economia verde, o que nos interessa é saber no que se traduz isso no nosso dia a dia. Quem vive em Tomar e for a Lisboa duas ou três vezes por ano pouco lhe importa pagar um euro para entrar na cidade. Também sabemos que não é isso que vai fazer o tomarense decidir ir de comboio em vez de usar viatura particular. Já se estivermos a falar de empresas, que se deslocam com muita frequência a Lisboa, o raciocínio terá de ser outro.
O fundamental é sabermos como vai ser aplicado o dinheiro destes impostos e em que medida é que isso se vai traduzir positivamente nas nossas vidas.
Para já, e antes de pagarmos, o tal Compromisso para o Crescimento Verde vai estar em consulta pública. É essencial que nesta fase todas as partes interessadas (somos todos), individuais e coletivas, se pronunciem e proponham.
Ao exercer este direito à consulta pública está a cumprir o seu dever.
Alguns exemplos in Visão (pdf): economia verde – visão