Se há Portugal onde em pouco espaço imensos patrimónios se misturam esse lugar é o Oeste. Mar e terra, vinha e floresta, moinhos e aerogeradores, batatas e fruta, calcários e basaltos, sol e chuva, casais, aldeias e vilas, gentes. Um universo de patrimónios à mão de todos os que queiram.
Em Torres Vedras, desde há muito que a Câmara Municipal apostou fortemente na qualificação do território e na valorização do património natural como uma mais valia turística; o Oeste – Portugal Quality Coast é apenas um dos exemplos.
A rede de trilhos existentes, muito para além dos imensos fortes e das rotas dos invasores franceses, constitui, cada vez mais, um produto. Esta é também a melhor forma de conhecer o Oeste, desde logo o magnifico litoral pela Grande Rota da REN do Oeste que percorre cerca de 60 km ao longo das magníficas arribas de Torres Vedras, Lourinhã e Peniche.
Centremo-nos na Rota da Serra da Archeira, Pequena Rota circular a ser marcada em breve.
Em escassos 10 km o caminheiro contata com os mais variados ambientes e sensações. É possível perceber o que é o Oeste, no presente e no passado. O Centro Interpretativo da Área de Paisagem Protegida das Serras do Socorro e da Archeira (APPSSA), em Figueiredo junto ao acesso sul da A8 a Torres Vedras, é o local ideal para começar.
As vistas começam grandes, os moinhos novos e velhos mostram que por ali o vento sopra, o mosaico do Oeste repete-se em 360º. Bem ao fundo advinha-se o mar. Andamos na crista e lá em baixo a frenética A8 parece ignorar tudo o que a rodeia, fazemos o mesmo e ignoramo-la sem dificuldade. Mais à frente dois fortes (Archeira e Feiteira) lembram-nos que por aqui lutaram os nossos antepassados para evitar que os franceses fizessem maiores estragos.
Contornado o monte ouvimos o silêncio da natureza. Entramos no Oeste rural, velhos e charmosos casais mostram a riqueza daquelas terras, agora de basalto – solos localmente conhecidos por tamuje -, os calcários ficaram para trás. Terra e água e nada mais era necessário para que famílias inteiras por ali vivessem. Entramos num bonito casal em ruínas, no forno, e é fácil adivinhar a vida e as rotinas naquele tempo. A história daquelas pedras.
Já estamos de regresso, as vinhas mais antigas, pequenas vinhas estão abandonadas, quase ao lado de outras em plena produção. Poucos são os solos que não estão cultivados.
A constante em todas estas mutações é a presença da água, neste início de abril a chuva foi intensa e os solos há muito que estão saturados. No caminho a água corre e se olhamos com mais atenção vimos autênticas maternidades de vida. Imaginamos quantas rãs poderão chegar a adultas?
Por fim, o Stº António numa bonita fonte debaixo de uma frondosa nespereira num dos casais ainda habitado. Sempre guiados pelo Luis Gomes que conhece e vive esta terra como ninguém, uma última subida a atravessar Figueiredo e lá estamos junto ao Centro da APPSSA onde umas maravilhosas mesas participaram no habitual pic – nic.
Assim se escreveu mais uma página do Tejo a Pé, sempre a pé mesmo que não seja no Tejo.
a 6 de abril de 2014