despovoamento

O despovoamento e envelhecimento do Alentejo é uma realidade. Periodicamente o tema é recorrente. Diferentes atores, com os autarcas à cabeça, querem inverter esta tendência e exigem do Governo medidas que a contrariem. Apela-se ao bom senso e acusa-se o Governo de desistir do interior associando essa realidade ao fecho de serviços públicos.

O problema está em alguém que se lembra de fechar tribunais e outros serviços? Ou será que o mais importante é termos uma justiça que funcione? O que importa a uma empresa ou a um cidadão: um tribunal que funcione, mesmo que esteja a 50 quilómetros de distância, ou um tribunal simplesmente aberto à porta de casa? Qual é a questão essencial?

 

À parte destas possíveis realidades, o Alentejo é um território altamente qualificado e cheio de potencialidades.

O que pode atrair as pessoas, que faltam, ao interior? São os simbólicos subsídios à natalidade ou os descontos no IMI?

O interior vale por si. O território do Alentejo tem todas as infraestruturas necessárias, tem todas as qualificações que se podem esperar numa terra próspera e feliz.

O grande problema da casa onde habitamos, o planeta Terra, não é falta de pessoas mas antes gente a mais.

Por isso, não é descabido afirmar que no Alentejo temos o mais importante recurso da Terra, território com qualidade.

Difícil, verdadeiramente difícil, é compreender como é que um território que integra um conjunto grande de fatores positivos tem como resultado um valor negativo (pobreza, despovoamento, etc). Será que é mesmo negativo?

Que valências poderão atrair gente para o interior?

Provavelmente, não haverão respostas únicas. Este problema não é um exclusivo português mas cá assume uma maior dimensão. Depois da democratização corremos para as cidades em busca do que nunca tivemos. Entretanto, a vida na cidade piorou e na terra melhorou e ainda não demos por isso. O problema é bem mais profundo do que o balanço entre o abrir e fechar serviços públicos; a verdadeira questão, a cultural, leva anos a mudar, a não ser que alguma coisa nos empurre em sentido contrário, o que de certa forma está a acontecer.

Há já alguns anos, bastante, um jovem casal holandês, com três filhos crianças, explicou-me porque se tinha instalado no Alentejo interior, a melhor terra do mundo. O essencial era espaço e território de qualidade, designadamente com a disponibilidade de solo e água, bom clima, segurança, boas condições de educação e lazer para os filhos e gente simpática – em cada vizinho a família. Um dia destes, mais brevemente do que se julga, os portugueses vão também descobrir este valor.

Mas falta ainda o mais importante, neste contexto de alterações climáticas, perda da biodiversidade com a extinção maciça de espécies, a caminho acelerado da 6ª extinção na Terra (Elizabeth Kolbert, jornalista do The New Yorker e da National Geographic, 2014): quanto vale um hectare de terra com um poço de água potável?

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan