Nasci numa estação de correios e por isso muito cedo soube que os Correios e Telecomunicações de Portugal eram os melhores do mundo. Aos correios também estavam associados os telefones. Quem tem 50 anos ou mais sabe isto. O regime apostava fortemente na excelência deste serviço. Provavelmente os CTT, na época, era o que de melhor havia no serviço público. CTT era sinónimo de verdadeiro serviço público.
Os mais velhos sabem que em oito dias uma carta ou uma encomenda com pão, chouriço, queijo e mimos da terra, um simples aerograma, por 2 tostões, era entregue no interior de Moçambique ou Angola.
Os correios estavam e chegavam a todo o lado com rapidez e eficácia de forma muito barata.
Como se conseguia este magnifico resultado?
Ao lembrar-me do que vi e vivi, não tenho dúvida que a palavra essencial para resposta é trabalho. Recordo que desde o carteiro – peça fundamental na cadeia de produção – até ao mais alto funcionário todos evidenciavam uma extrema dedicação, todos tinham orgulho no serviço que prestavam. Não ganhavam muito mas sabiam que tinham uma carreira para a vida. Tinham consciência da importância desse serviço. Muito claramente, não havia horários, sábados ou domingos (lamento se choco alguém), o importante era cumprir objetivos, cumprir um serviço. Entregar um telegrama, com boa ou má noticia, não podia esperar. Naturalmente que muito disto era conseguido, inequivocamente, com sacrifício familiar.
Em muitas aldeias e lugares remotos, a porta dos correios era a única onde bater sempre que havia um doente ou outra necessidade. Em muitos quilómetros não havia outro telefone. Muitas, mas muitas vezes, era no posto de correios que a carta era lida e a notícia conhecida, pois nos arredores mais ninguém sabia ler.
Presentemente, na estação de correio da zona onde vivo, apesar de passar tempo demais à espera da minha vez, sou bem atendido e reconheço que o serviço é bom. E, com toda a sinceridade, nada me importa se é uma entidade pública ou privada que me presta o serviço. A minha preocupação e exigência são bem mais simples: um serviço bom a um preço justo. É também esta a resposta que exijo a mim mesmo na minha profissão.
Hoje, os correios também fazem outras coisas, vendem livros, discos, lotaria, brinquedos etc. Um cliente mais distraído nem se apercebe que está numa estação de correio. Não sei se isto é bom ou mau mas continuo a comprar cautelas ao cauteleiro e livros na livraria. No correio quero comprar selos e enviar cartas, muito simples. Todavia, um dia destes a senhora que me atendeu deu-me uma resposta inacreditável, absurda, ridícula e tudo o mais que a indignação de um normal cidadão possa sentir. Disse-me a funcionária do correio que não tinham selos. Os selos estavam esgotados.
Além de escandaloso, é preocupante, muito preocupante. A funcionária disse-me que não tinha selos com a maior das tranquilidades e com convicção. Não quis transpor a gravidade da situação para o balcão, ou, o que é mais provável, não teve consciência do caricato e do significado deste singelo episódio?
Por esses dias, como toda a gente, vi na TV a luta dos funcionários dos Correios contra a privatização. Como quase sempre, pouco mais passa e se compreende além de que estão ali em greve ou em manifestação porque o sindicado mandou. A essência e o importante ficam ao lado e poucos o compreendem.
Assim se mostra o país que somos e os políticos que daí resultam.