tempestade no mar e em terra

o mar não se compadece com política barata

o mar não se compadece com política barata

No balanço dos efeitos no litoral da tempestade no mar foi possível ver o ridículo de um responsável de uma escola de surf a mostrar computadores portáteis danificados e o caos em que ficaram as instalações da escola. Isto, obviamente, para em seguida reivindicar o apoio do Estado. Entre outras questões mais profundas este, ainda jovem, gestor deve pensar em mudar de profissão, não basta o surf estar na moda.

A cena repetiu-se por todo o país, muitas barracas (a que chamam bares, restaurantes, escolas, etc.) foram ao ar – nada que não se soubesse que ia acontecer e que vai voltar a acontecer – e o Estado é chamado a pagar.

 

No mesmo serviço noticioso passaram outras notícias que mostram as 50 horas  que um idoso esperou numa urgência de um hospital sem ser devidamente atendido e os dois anos que uma utente com cancro esperou para realizar um exame médico.

Parece que uma questão nada tem a ver com a outra, mas tem. Aliás, este é o drama essencial do nosso país – gasta-se o dinheiro mal. Gasta-se dinheiro a alimentar com areia praias que há muito já não existem e depois faltam os recursos para o essencial. É fácil, muito fácil de compreender.

Obviamente que o Estado é co-responsável pelo caos que é o desordenamento do litoral e deve assumir as suas responsabilidades. Toda a gente construiu o que quis onde quis. Todos nós  pagámos e continuamos a pagar os monstruosos custos dos erros no litoral, designadamente debaixo do argumento, que agora tanto se ouviu, do interesse do turismo. Muitos dos autarcas deram cobertura ao crime social, económico e ambiental da construção em dunas, em arribas, em praias, etc., e assim se ganharam eleições.

Basta de demagogia, este é pois o momento certo, a grande oportunidade para inverter o caminho. Para deixarmos, de vez, de tapar o sol com a peneira, assumir responsabilidades e fazer uma avaliação séria do que, em cada situação, deve ser feito. Certamente que a melhor decisão em muitas situações será nada fazer.

Sabemos que este tipo ocorrências naturais vai ser cada vez mais frequente. Também sabemos os grandes erros que cometemos no passado – o mar mostrou-o a quem fingia que não sabia – e felizmente também sabemos fazer bem.

Por tudo isto, não faz sentido que, à sequência de lamúria dos mais diretamente afetados, muitos deles sem a menor legitimidade pela prevaricação histórica das mais elementares regras legais e de bom senso, respondam as autoridades responsáveis com anúncio de milhões para reconstruir.

Vamos esperar para ver, mas um dia destes, inevitavelmente, o mar vai voltar a mostrar onde está a razão.

Será necessário uma qualquer troika dizer-nos o que deve ser feito?

Vamos insistir na mentira até quando?

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan