Benfica

A outros propósitos, também sérios, já aqui escrevemos sobre a fronteira natural que são os Pirinéus. Bem mais que uma fronteira natural, são uma barreira cultural.

Um clube como o Benfica só se pode explicar, compreender e viver para cá dos Pirinéus. Esta é uma marca cultural única, identitária e por isso de grande valor. Daquelas marcas que se confundem com a Nação que é Portugal.

Futebolisticamente falando, os maiores rivais – comparativamente são pequenos – só existem porque há uma alma chamada Benfica. É comum ouvir adeptos desta minoria falarem mais do Benfica do que os próprios benfiquistas.

Benfica é único, sai fora de todos os padrões normais da racionalidade. Não é preciso entrar no estádio e assistir a um jogo, basta aproximarmo-nos da envolvente e percebemos tudo isto e muito mais. A mistura de classes, raças e idades é fácil, absurdamente natural. Algo mais forte une todos estes aparentes antípodas. Além fronteiras, outras coisas ímpares acontecem. Os adeptos, a maioria emigrantes que sentem o Benfica como se em Portugal fosse, são da mesma massa. Os adeptos adversários confirmam, admiram, respeitam e veneram o grande clube deste pequeno país. O Benfica amplia a própria dimensão do país de origem. Quase que chega a parecer que este clube não é de Portugal, esbate fronteiras. Além fronteiras, como cá, não se explica, é assim. Esta realidade empola e motiva os adeptos dos demais clubes rivais que têm neste fato a grande motivação da sua existência.

O recente Museu Cosme Damião, que dentro de poucos anos será o museu mais visitado de Lisboa, mostra tudo isto e muito mais. “A entrada é imponente. Um, dois, três passos, e o visitante fica desde logo impressionado com o design e todo o espaço envolvente. E nem é preciso ir aos pormenores. Do lado direito vê-se o ‘Benfica de ontem’ com as primeiras notícias (acompanhadas de recibos de compra de material) e uma meia dúzia de metros mais à frente temos o ‘Benfica de hoje’, uma imagem de fulgor, de magnitude com a exposição das taças conquistadas pelo clube no último ano.… Um espaço de emoções que apresenta a mais avançada tecnologia digital.” (Record, 22.11.2013)

Talvez este museu possa trazer alguma explicação racional à dimensão da alma deste imenso clube.

Pela altura do ano, este escrito tinha como intenção versar acerca de um tema leve. Santa ingenuidade: escrever sobre o Benfica é das coisas mais sérias que se podem por no papel, já que mais não seja porque faz os portugueses felizes.

Em boa verdade o efeito deste tema é aumentar brutalmente o número de leitores desta coluna.

Ainda bem que existem os Pirinéus e nenhuma troika os poderá banir.

2014 com muita Paz e Bem.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan