o sonho do Império, “um encontro com a história”

descobrimentos

 

8 de dez de 2013 fica marcado pela 1ª ½ maratona dos Descobrimentos. Descobriram uma corrida com longo e promissor futuro.

Depois de um acordar primaveril, embora fresco, na Parede a Praça do Império surpreendeu-nos com um denso nevoeiro sebastianista e um frio de cortar os ossos. O pior é que ainda faltava quase uma hora para ouvir o sinal de partida e dar corda aos sapatos. Estávamos francamente mal vestidos para aquelas condições meteorológicas. Inventámos quase tudo para aquecer. Procurámos o CCB mas as lojas ainda estavam fechadas e depressa percebemos que aqueles corredores abertos do magnífico edifício potenciavam o desconforto térmico.

Finalmente, depois da homenagem a Mandela:. a corrida começou.

Jerónimos e a subida para o Restelo, nunca me lembrei tanto do maldito velho. A meio, como habitualmente,  lá passou o referente RP Julião. Sem compreender se já tinha aquecido virámos à esquerda e uma considerável planura serviu para recompor as batidas do coração. Verdadeiramente o que me assustou foi a descida. É difícil travar a velocidade das pernas, estás ainda fresco, no início, e toda aquela massa humana de runners alarga o passo. As batidas no asfalto são bem mais intensas e o barulho, comparável ao de um exército que te persegue, chega a assustar. Entras na loucura, que remédio! Confesso que pensei ir pagar a fatura de tamanha velocidade mais tarde. Felizmente assim não foi, como a história da corrida o mostrou.

Chegados ao Tejo, em Algés, estavam feitos 3 km. Agora era começar a contar placas com números e os 21 e mais uns pós haveriam de chegar. Passámos novamente pelo Império e agora “só” faltava Sta Apolónia e voltar para trás.

Quando corres sozinho vais ouvindo as conversas, às vezes fui metendo a colher. Nos intervalos, mais pelos outros que corriam ao meu lado, compreendi que estava num bom ritmo, algumas vezes ouvi dizer “abaixo dos 5 min/km”. Mas talvez a maior novidade era o sentir-me fisicamente muito bem, as pernas a obedecerem à cabeça, sem dor. O nevoeiro e o vento frio sempre nos acompanharam, algum tempo depois, pela Praça do Comércio, com muitos turistas, o sol brilhava – sol de pouca dura.

Com a mesma frescura e ritmo virou-se Sta Apolónia. Faltavam uns escassos 10 km. Lá mais para a frente a boa condição física mantinha-se e suspeitei que o ritmo tinha aumentado um pouco. O relógio não deixava mentir e ia contando uma história (pessoal) que se poderia vir a chamar medalha de ouro.

Estamos a cerca de 6 km e entre Santos e a Infante Santo (que nomes fabulosos têm estes bairros, ruas e praças), ao longe, vejo o inconfundível passo do Júlio M. Apanhar o Júlio, a motivação certa na hora certa. Tinha companhia para o final o que dá sempre jeito. Estranhamente o Júlio chegou mais rápida e facilmente que o previsto. O relógio continuava a contar a boa história. Corri talvez um pouco mais que 1 km com o Júlio. Já começava a arrefecer quando faltavam 4 km e me despedi do Júlio que delicadamente me agradeceu a ajuda.

A partir daí foram os pessoalmente fantásticos 4:30 min/km o que possibilitou 1:43 horas e o record pessoal. Sobretudo o terminar em muito boa condição: com o corpo bem, o coração a responder e a cabeça satisfeita. Pela primeira vez fiz uma ½ abaixo da 1:45. Nada de especial para runners mas muito bom para este alentejano muito veterano e cheio de mazelas.

Como convém – cumprido um objetivo de longa data devemos fixar outro – ficou ainda a suspeita que teria sido possível terminar abaixo da 1:40. Tem dias. A inexperiência de andar por estas “paisagens temporais” levou-me a desconfiar das pernas. Só no fim compreendi que podia ter posto o coração a bombar mais, as pernas tinham dito sim.

Pelas 2:10, com 10 a min a menos que na Nazaré chegou, também com fantástico recorde pessoal, a Mary; desponta assim uma grande atleta.

Com modéstia dedico este meu recorde pessoal a todos os que semanalmente me aturam a correr: João, Vanessa, Francisco, Pedro e Pedro.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan