Como todas as moedas, também a crise tem uma face positiva. Entre outras, obriga-nos a olhar à volta. Cerca de 80% dos europeus vivem em cidades e na China todos os anos 40 milhões de pessoas deixam o campo e rumam às cidades.
Cidades que não têm o que o campo oferece, ou seja, enormes oportunidades. Por cá é disso que se trata – Portugal tem uma matriz essencialmente rural e recursos praticamente esquecidos que, por força das circunstâncias, começam agora, felizmente, a ser olhados de forma diferente.
Os bons exemplos existem por todos o país e cobrem todas as áreas da agro-floresta. Temos conhecimento técnico – científico, tradição e recursos, nada nos falta para que esta oportunidade se traduza muito para além dos bons exemplos. O país necessita desta riqueza e os jovens, com mais ou menos formação, têm no campo uma oportunidade como nenhuma outra.
Desde já, o Plano de Desenvolvimento Rural 2014-2020 aponta as grandes linhas para onde vão ser canalizados os recursos financeiros disponíveis. O desafio é grande: envolver todas as partes e assim conseguir que, no curto prazo, o investimento realizado se traduza em riqueza. Basicamente, os diferentes caminhos e processos para lá chegar são conhecidos, os diagnósticos estão feitos e, por isso, há razões para acreditar que, desta vez, alguma coisa de diferente poderá acontecer.
A investigação e a inovação têm de contar com quem está no terreno, pois só assim é possível envolver todas as parcelas necessárias à equação do sucesso. A valorização do espaço rural, com o aumento da capacidade de inovação e conhecimento pela cooperação do trabalho em rede, é uma decisão política estratégica acertada que não podemos desperdiçar.
Neste domínio, as associações sectoriais de agricultores têm um papel muito importante na autêntica representatividade e na mobilização de quem trabalha o campo, muito diferente do benefício em causa própria como muitas vezes tem acontecido.
A autossuficiência local começa a ser um objetivo muito credível e capaz.
Além da ativação da economia, designadamente à escala local, esta estratégia de desenvolvimento rural trará, inevitavelmente, uma valorização territorial de que todos os sectores beneficiarão, designadamente o turismo. Nesta relação agro-floresta/turismo, o país e as partes estão distraídos. Os agricultores ainda não perceberam que, sem mais, podem usufruir imenso da atividade turística, muito para além do enoturismo ou da observação de aves (birdwatching). Quem opera no sector do turismo, muitas vezes, não percebe a oportunidade do campo e do papel, essencial, da agricultura para a formulação de bons produtos turísticos, nomeadamente ao nível do turismo de experiência – quanto vale um passeio na campina com um campino no meio de touros bravos? Este é o turismo que nos interessa.
Fazendo se verá, mas vale muito.