A atividade pecuária, em particular a suinicultura, é um excelente exemplo para retratar o país que somos e que não devemos ser. Estamos em presença de um sector empresarial com largas tradições económicas e sociais no país. Incontornável. Ou será que se quer importar ainda mais carne do que aquela que já se importa?
Como mal de todas as grandes desgraças nacionais, o (des) ordenamento do território encarregou-se de colocar loteamentos (pessoas a viver) ao lado dos porcos. A partir daí toda a gente ralha e todos têm razão. Desde logo porque o porco cheira mal, cá, na Alemanha ou em França.
Quase todas as semanas há notícias de graves descargas em linhas de água que, com ou sem razão, são imputáveis às suiniculturas. Do outro lado, os suinicultores queixam-se de falta de condições para desenvolver o sector. Isto é, emprego e riqueza de que o país tanto necessita ficam estrangulados em diferentes labirintos administrativos/processuais, legais e sobretudo culturais – falta de visão e atitude estratégica.
Um emaranhado de legislação baralha tudo e impede que o essencial se faça – a gestão sustentada da atividade.
Como resultado, fomos autossuficientes e hoje não passamos dos 65% de autossuficiência.
Enquanto isto, em países do primeiro mundo tudo se faz adequadamente. Prova-se que é possível. Na Holanda, com um território equivalente ao Alentejo, produz-se dez vezes mais que cá. Na Dinamarca esse número é seis vezes superior. Como?
Por cá, o efluente é tratado como um problema, equivalente a um resíduo perigoso, e não como um fertilizante natural que tem, obviamente, uma mais-valia associada.
As explorações suínas estão separadas da terra e o encontro entre solos/culturas, disponíveis e carentes de efluentes, não se faz. Perdemo-nos em papéis inconsequentes, todos ficam a perder e o essencial, que é cruzar a oferta (efluente) com a procura (solo), não existe.
As partes interessadas, tutela e suinicultores, têm que ficar do mesmo lado, sentarem-se em mesas redondas e não quadradas, e constatarem que os interesses, afinal, são convergentes: caminharmos no sentido de um país mais rico e sustentável.
Acertada a linguagem e a estratégia, o resultado será uma “absurda” convergência de interesses e posições em que todos ganharão. Facilmente se chegará a uma plataforma de gestão terras-efluentes que se constituirá como um compromisso clarificador e simplificador do conflito que hoje se vive.
Como tudo o que é simples, às vezes, por nada, torna-se complicado.
Será possível continuar a fugir da solução e empatar o país? Quem quer ficar de fora?