clima

Por força da publicação de um importante relatório sobre alterações climáticas o tema tem sido sobejamente tratado pelos media.

Segundo parece, está confirmado que o nosso modo de vida influencia a natural mudança climática. Nada de especial, já o suspeitávamos, agora está provado.

Para um geólogo, que sabe que o Tejo, há mais ou menos 10 milhões de anos – nada para a história da Terra -, desaguava onde hoje é a lagoa de Albufeira, algumas barbaridades que se escrevem sobre alterações climáticas ainda ficam mais bárbaras. “Coitado” do clima, sempre mudou, nunca – mas nunca – foi estável. Nada na Terra é estável.

Tal como a erosão do solo, o degelo, a glaciação ou a deriva continental, as alterações climáticas são um fenómeno natural que sempre ocorreu. Desde sempre, o clima, como tudo na Terra, evolui. É muito conveniente que esta seja a base de partida para depois se avaliar a alteração climática induzida pelo Homem.

Outra verdade fundamental desta equação é ter que aceitar e compreender que todos os chineses queiram ter um automóvel como nós temos; e saber que na China todos os meses é inaugurada uma nova central termoelétrica a carvão que produz emissões equivalentes às geradas por todo o parque automóvel português. E assim por diante.

Por outro lado, também importa saber que o negócio à volta do tema das alterações climáticas é astronómico. Juntando isto tudo, o cenário fica demasiado óbvio e cada um poderá tirar as suas conclusões.

Todavia, sabendo que um dos temas mais abordados e consequentes é a subida do nível do mar e as gravíssimas implicações que isso terá no nosso anárquico litoral, o pacato cidadão que vive em Castelo Branco pergunta: “mas que tenho eu a ver com isto?”

Como muitíssimos autores têm alertado ao longo dos anos, esta realidade afeta-nos a todos mas nem o Mickey acredita que alguma coisa de significativo vá mudar para inverter esta inevitabilidade.

No passado dia 20 de agosto atingimos o Dia do Excesso da Terra. Isto significa que a 134 dias do fim do ano, esgotámos os recursos naturais que o planeta pode regenerar anualmente. Isto é, estamos em permanente défice e algum dia a Terra irá apresentar a fatura. Hoje, qualquer português compreende melhor isto do que há anos atrás. Gastamos, alegremente e sem preocupação, a conta poupança, mas um dia esta vai acabar. Melhor, vai acabando. Provavelmente é a isso que estamos a assistir.

Neste contexto, é normal que o número de incêndios e a sua gravidade aumentem, que os episódios de seca e de cheias sejam mais frequentes e extremos e que a agricultura, tal como a conhecemos, suporte graves prejuízos.

Assim, seja na zona ribeirinha de Vila Franca, na lezíria ou nos campos de Castelo Branco, a todos vai ser apresentada a conta.

E o que deve fazer o cidadão comum todos os dias, já hoje? Viver em harmonia com a Terra, sabendo que de nada vai valer.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan