Domingo passado, a maioria de nós aliviou a consciência cívica por mais quatro anos. Exercemos o nosso direito democrático de votar. Talvez, nos tempos atuais, fique melhor dever do que direito, todavia essa é outra história.
O importante agora, no “day after”, é saber o que resta das magníficas ofertas dos programas eleitorais vencedores.
Essencial é todos estarmos bem conscientes da importância deste nível de governação: o poder local. Às vezes basta olhar para os concelhos vizinhos (os mesmos de sempre já que neste país de brincar não houve coragem para alterar o que tem de ser alterado ao nível dos concelhos existentes) e compreendemos facilmente, pela diferença boa ou má, a importância de um bom governo local. Aliás, pouco mais nos resta do que ter a “sorte” de viver num concelho localmente bem governado.
Assim, muito para além das cores partidárias, dos independentes ou dos movimentos de cidadãos – sim, porque estes também têm cor e se vos disserem que não, desconfiem e muito –, há a credibilidade, seriedade e valor das diferentes propostas.
Como de betão, rotundas, pavilhões multiusos, etc., estamos todos mais ou menos conversados, isto é, endividados, o mote desta vez foi bem diferente.
Diferente não pelas melhores razões, mas antes por mero e básico oportunismo político. Das centenas de exemplos possíveis, talvez o mais comum em todo o país, no norte, sul, litoral e interior, transversal e esclarecedor desta triste e mentirosa realidade, é a oferta de emprego. Centenas de propostas ofereceram-nos a criação de emprego.
Será que ainda há incautos que acreditam que uma autarquia tem capacidade para criar emprego? Como vai fazer? Ela própria vai empregar pessoas desempregadas? Cria condições para atrair empresas, com novos e modernos parques empresariais? Se bem repararmos, todos o fizeram ou prometem fazer. Então como vai jogar a equação da competitividade territorial?
Nesta matéria, como noutras, não há milagres. Nenhuma autarquia cria emprego e quem já é competitivo para atrair empresas vai continuar a fazê-lo e quem não o é muito dificilmente vai entrar nesse comboio. O resto são fantasias e mentiras.
Até domingo passado vivemos num mundo de ilusões e fantasias impunes em que uns ainda embarcam e outros, felizmente cada vez mais, já não. Depois da venda do impossível, o que será possível?
Estamos agora com os executivos eleitos e perante a realidade, bem diferente do que nos prometeram.
É bom que se compreenda, de vez, que nada é gratuito. Por este país instituiu-se, durante anos, essa ilusão. A realidade é simples e mostrou-nos que o gratuito, muitas vezes confundido com direitos (porque deveres poucos os têm), nos sai muito mais caro a todos.
Mais do que uma cruz num boletim de voto de quatro em quatro anos, temos de dar respostas, respostas a coisas simples. Queremos ter casas de banho públicas gratuitas mas imundas e vandalizadas e por isso impróprias para qualquer pessoa decente utilizar, ou queremos pagar 50 cêntimos para usar uma casa de banho pública limpa e adequada?
Fazê-lo diferente marca a diferença e em tempo de recursos mais próximos da nossa realidade, isto é, da riqueza que criamos, a diferença pode ser essencial.
Que país quer?