Temos um país maravilhoso, onde não é preciso ir para longe de casa para podermos ter férias de qualidade. Os nossos rios, as serras e a biodiversidade são únicos no contexto europeu. Poucos de nós têm consciência disso ou usufrui deste privilégio. Temos rios naturais como nenhum outro país europeu. Resultado dos grandes investimentos que fizemos ao nível do tratamento de águas residuais, podemos ter a certeza que, na generalidade, a qualidade da nossa água tem melhorado ao longo dos anos e é exemplar.
É também por isso que, se um lisboeta for por esse país fora fica espantado com a excelência das infraestruturas de lazer que o nosso interior, felizmente possui, designadamente ao nível das praias. Nas margens dos rios, nas albufeiras etc., temos autênticos paraísos naturais com infraestruturas ao nível do melhor que há no litoral. É só aproveitar.
Nestes tempos, em que os orçamentos familiares são mais reduzidos, as praias do interior são, não só uma magnífica alternativa, como elas próprias se devem assumir como um destino de primeira escolha. Mas esta é outra história, onde o nosso país mais falha, mas que não vem agora a propósito.
O grande mérito da existência destas excelentes praias de interior vai, quase na totalidade, para as autarquias. Ninguém melhor que as autarquias conhece o país, o local, de forma a projetar tudo o que aos poucos se foi fazendo, não só como equipamentos de lazer, mas também, como pólos de desenvolvimento local. Não é de todo displicente que numa qualquer destas praias, num fim de semana de julho, estejam mil pessoas.
Tudo isto a propósito da famosa bandeira azul, de todos os seus méritos e de toda a patetice da aplicação das suas regras. O que se pode dizer desta, aplica-se também a outras bandeiras que por aí há, quiçá mais questionáveis, e até a outras que eventualmente venham a surgir no futuro, sabe-se lá com que verdadeira intenção.
Sem ir muito longe, até porque o novelo regulamentar, com a famosa estatística incluída, nos impossibilita de o fazer neste espaço, o exemplo da Aldeia do Mato (Abrantes) em Castelo do Bode, serve na perfeição para mostrar o que se pretende. Isto é, apesar de na Aldeia do Mato a qualidade da água ter melhorado ao longo dos anos e de nunca ter apresentado um conjunto de análises tão boas – como todas as entidades envolvidas o sabem e reconhecem – esta praia perdeu este ano a bandeira azul. A justificação é a tal estatística que, por uma ou outra análise, de há dois ou três anos, comprometeu o resultado final. É isto possível? É. É absurdo? É. E pior, toda a gente o reconhece e admite. Assim é Portugal e a Europa. Tem-se um produto magnífico e depois, com o despropósito de uma suposta certificação, desqualifica-se no papel.
Dificilmente alguém compreende isto e nenhum autarca o pode aceitar. Por outro lado, a credibilidade do símbolo “bandeira azul” fica gravemente abalada. Será que a Comissão Nacional – Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE) não compreende isto? Ou é a entidade europeia que não o compreende, como acontece em muitas matérias?
Quem já o compreendeu foram muitos dos autarcas que, obviamente, não querem ouvir falar em tal coisa e recusam candidatar as suas praias ao galardão. Os prejuízos económicos e sociais de ostentar durante anos a bandeira azul e depois de a perder sem razoabilidade, são imensos. Por outro lado ainda, estes decisores sabem que não é por terem uma bandeira hasteada que a qualidade da água e a praia são melhores. Uma reflexão regional sobre o tema tem todo o propósito.
De igual modo, faz todo o sentido que o próprio país, designadamente o Ministério do Ambiente, pondere sobre o assunto e defina as suas próprias condições, pondo, no limite, em causa a continuidade deste folclore.
Quanto valeria um outdoor em Vilar Formoso, em Elvas, Vila Real ou na Portela, do tipo: “País livre da Bandeira Azul” [as nossas praias são excelentes].
Plenamente de acordo. Quanto mais viajo por outros países mais aprecio o nosso!É mesmo uma beleza!