acampar – o retrato de um país estúpido

[fotografia de José Luis Diniz]

Acampar em Portugal, o país que aposta na economia verde, é o perfeito retrato de um país estúpido.

Campismo selvagem é um daqueles conceitos estúpidos próprios de um país como o nosso, que insiste em ser pobre de espírito, e de um povo inculto que aceita barbaridades como esta.

Por um lado, infelizmente muitos não dão por isso, vivemos num território paradisíaco, temos uma natureza singular, única, que nos rodeia por todos o lados. Do mar ao campo, com rios onde se pode nadar e pescar. Nadar e pescar num rio é um bem com valor incalculável e um privilégio cada vez mais raro no planeta Terra. Desde logo, porque na Terra a água é bem raro (propositadamente não escrevo recurso). Porque estas evidências entram pelos olhos, muito bem, o Governo apostou na Economia Verde e desenhou uma estratégia para o Crescimento Verde. Numa palavra, o objetivo é valorar o imenso capital natural de que dispomos. Ainda no sentido de enaltecer e valorizar o capital natural que temos, por iniciativa igualmente governamental, foi criada a marca Natural.pt (acedam em www.natural.pt). E por aí fora, pois os bons exemplos são bastante comuns também pela mão da iniciativa privada.

Todavia, se um cidadão português ou um daqueles turistas bons que vai além da fotografia na Torre de Belém, Portas do Sol ou Templo de Diana quiser viver e usufruir deste património natural e acampar nas margens de um qualquer idílico rio, não o pode fazer. Em Portugal é proibido acampar no campo. Isto mesmo, leram bem: a este ato chama-se campismo selvagem. Para acampar em Portugal somos, paradoxalmente, empurrados para infraestruturas, parques de campismo, que tendem a aproximar-se das cidades onde vivemos e onde nada falta: shopping, restaurante, piscina, todo o tipo de entretenimento, às vezes até um bom ginásio, relvados e canteiros com flores, etc. Acampamos normalmente em cima uns dos outros, felizes e contentes. Obviamente que a natureza de que tanto precisamos, e muitos procuram, ficam à porta dos ditos parques.

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garças e patos

 

paúl do Boquilobo, o charme das zonas húmidas (2 de março de 2014)

paúl do Boquilobo, o charme das zonas húmidas (2 de março de 2014)

Desde sempre no Tejo a Pé passámos a mensagem que o tempo para caminhar está sempre bom, umas vezes com sol, outras com chuva. O que verdadeiramente conta é o “tempo da cabeça de cada um”.

Com a ameaça de chuva mas, praticamente, sem chuva, os nossos passos pisaram as margens do Almonda e paúl  do Boquilobo. Terras por onde andaram os romanos, como testemunha a vila de Cardílio, que também visitámos, e certamente muitos outros. Onde há um rio há vida e assim foi sempre – os rios sempre atraíram pessoas.

A passo vivemos mais um pouco de um rio com vida, a possível.

 

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transição

Há dias participei numa interessante conferência/tertúlia sobre a Transição em curso. Esta é uma palavra que chegou para ficar. Ao que ouvi, e se sente, estamos numa profunda mudança de paradigmas.

O mundo em que nascemos já não existe. Assistimos todos os dias à falência de muitos dos edifícios sociais e económicos em que descansámos durante décadas. Estamos agora no tempo da transição para algo diferente. O quê? Mudar o quê? Está é a grande questão. Onde chegámos, onde estamos, já todos, mais ou menos, o sabemos. Para onde vamos? É a grande questão.

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expectativas

Mação (blogs.sapo.pt)

Mação (blogs.sapo.pt)

Quanto contentes estaríamos se não soubéssemos que estão cá os nossos amigos da Troika para mais um exame? Bastava que a TV não tivesse o poder que tem para que em Mação nada se soubesse e fossem todos bem mais felizes.

Na verdade, a felicidade de cada um é inversamente proporcional à medida das suas expectativas. E estas são fortissimamente potenciadas por tudo o que de “maravilhoso” e efémero nos “vendem”, designadamente na TV. É exatamente por isto, só por isto, que os antigos eram, apesar de tudo, bem mais felizes do que nós. As suas expectativas eram sustentáveis, moderadas e perfeitamente tangíveis no seu mundo. O resto era a felicidade de sonhar, por exemplo, com um automóvel que os iria fazer ainda mais felizes para o resto da vida.

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campo e turismo

Como todas as moedas, também a crise tem uma face positiva. Entre outras, obriga-nos a olhar à volta. Cerca de 80% dos europeus vivem em cidades e na China todos os anos 40 milhões de pessoas deixam o campo e rumam às cidades.

Cidades que não têm o que o campo oferece, ou seja, enormes oportunidades. Por cá é disso que se trata – Portugal tem uma matriz essencialmente rural e recursos praticamente esquecidos que, por força das circunstâncias, começam agora, felizmente, a ser olhados de forma diferente.

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porcos

longe vão os tempos do porco ao fundo do quintal

longe vão os tempos do porco ao fundo do quintal

 

A atividade pecuária, em particular a suinicultura, é um excelente exemplo para retratar o país que somos e que não devemos ser. Estamos em presença de um sector empresarial com largas tradições económicas e sociais no país. Incontornável. Ou será que se quer importar ainda mais carne do que aquela que já se importa?

Como mal de todas as grandes desgraças nacionais, o (des) ordenamento do território encarregou-se de colocar loteamentos (pessoas a viver) ao lado dos porcos. A partir daí toda a gente ralha e todos têm razão. Desde logo porque o porco cheira mal, cá, na Alemanha ou em França.

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bons exemplos

Quando o caminho traçado é adequado, surgem boas paisagens. Assim é no Alandroal.

Os bons exemplos começam a aparecer e o que se deseja é que se multipliquem. Tudo tem o seu tempo para amadurecer, uma grande rota (a sustentabilidade)  leva tempo, passo a passo.

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a pé

 

Só os nossos passos nos levam aos locais mais belos e remotos mesmo que sejam ao lado da nossa casa.

Só os nossos passos nos levam aos locais mais belos e remotos mesmo que sejam ao lado da nossa casa.

 

As vantagens do comboio em relação aos transportes rodoviários são óbvias, e claras. A bicicleta assume-se cada vez mais como veículo solidário. Scooters e motos de baixo consumo, com catalisador ou mesmo eléctricas são uma alternativa a considerar. Todavia, é no caminhar que o homem é mais natural. Andar a pé é a melhor, mais simples e salutar das atividades físicas.

Há alguma forma melhor de viver uma cidade do que percorrê-la a pé?

Por que razão estamos esquecidos de andar a pé? Por que nos levaram a esquecer a possibilidade de caminharmos 2, 3 ou mais quilómetros até ao emprego ou escola?

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan