semana da mobilidade

Como que por ironia, a segunda-feira da Semana Europeia da Mobilidade (SEM), talvez por coincidir com o efetivo início das aulas nas escolas, acorda em Lisboa e Porto (só?) com engarrafamentos muito para além do normal. Melhor, anormal; não é normal uma via rápida com trânsito parado. Na verdade, ironicamente, este pode ser lido como o resultado da “magnífica” SEM que todos os anos, por esta altura, há mais de uma década, nos entra pelos computadores e tablets dentro.

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trabalhar a terra

“Assustei-me” quando num daqueles supermercados de todas as terras peguei numas maças a 1€/kg com origem no Brasil. Assim que dei conta devolvi as maçãs ao expositor. Como é possível? Que contas são estas? A quantidade de absurdos que está por detrás deste custo é inaceitável. Será que só é crime assaltar um banco? O que irá acontecer, e quando, para repor a verdade e normalidade neste modelo global do mercado?

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os governos falam, as cidades fazem

Os governos falam, as cidades atuam. Este é um dos bons ensinamentos que nos chegam de Copenhaga através de um excelente trabalho do jornal espanhol El País. Copenhaga é um exemplo vivo e prático de sustentabilidade. Um exemplo exportável que deve ser replicado e adaptado a cada uma das nossas terras. Esta adaptação está a ocorrer nalgumas outras cidades. Muitas, muitas vezes tenho usado esta coluna para exaltar o local e esquecer tudo o que está para além deste espaço e tempo. Chega de razões esfarrapadas para não fazer: o governo, o sermos pobres e eles (neste caso os dinamarqueses) serem ricos, etc. É curioso que também os dinamarqueses se queixam dos políticos e da partidocracia e afirmam com clareza: “não se trata só de uma aposta dos partidos, é uma exigência social. O que podemos esperar dos políticos? Todas as grandes mudanças vieram de baixo”. Seja como for, há um pacto de regime entre todos os atores políticos (da oposição ao governo local) até 2025 para levar por diante a “revolução verde”.

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acampar – o retrato de um país estúpido

[fotografia de José Luis Diniz]

Acampar em Portugal, o país que aposta na economia verde, é o perfeito retrato de um país estúpido.

Campismo selvagem é um daqueles conceitos estúpidos próprios de um país como o nosso, que insiste em ser pobre de espírito, e de um povo inculto que aceita barbaridades como esta.

Por um lado, infelizmente muitos não dão por isso, vivemos num território paradisíaco, temos uma natureza singular, única, que nos rodeia por todos o lados. Do mar ao campo, com rios onde se pode nadar e pescar. Nadar e pescar num rio é um bem com valor incalculável e um privilégio cada vez mais raro no planeta Terra. Desde logo, porque na Terra a água é bem raro (propositadamente não escrevo recurso). Porque estas evidências entram pelos olhos, muito bem, o Governo apostou na Economia Verde e desenhou uma estratégia para o Crescimento Verde. Numa palavra, o objetivo é valorar o imenso capital natural de que dispomos. Ainda no sentido de enaltecer e valorizar o capital natural que temos, por iniciativa igualmente governamental, foi criada a marca Natural.pt (acedam em www.natural.pt). E por aí fora, pois os bons exemplos são bastante comuns também pela mão da iniciativa privada.

Todavia, se um cidadão português ou um daqueles turistas bons que vai além da fotografia na Torre de Belém, Portas do Sol ou Templo de Diana quiser viver e usufruir deste património natural e acampar nas margens de um qualquer idílico rio, não o pode fazer. Em Portugal é proibido acampar no campo. Isto mesmo, leram bem: a este ato chama-se campismo selvagem. Para acampar em Portugal somos, paradoxalmente, empurrados para infraestruturas, parques de campismo, que tendem a aproximar-se das cidades onde vivemos e onde nada falta: shopping, restaurante, piscina, todo o tipo de entretenimento, às vezes até um bom ginásio, relvados e canteiros com flores, etc. Acampamos normalmente em cima uns dos outros, felizes e contentes. Obviamente que a natureza de que tanto precisamos, e muitos procuram, ficam à porta dos ditos parques.

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zé da curva

Desde sempre todos aprendemos a associar Guimarães ao berço da nação, onde se lê, “aqui nasceu Portugal”. Mas Guimarães é muito mais do que isso. É muito mais do que uma bonita cidade bem conservada e vivida. Guimarães é um exemplo que bem podia contagiar todo o país com a sua alma: “aqui está a alma de Portugal”.

Seja na rua, no café ou num serviço, a simpatia e a disponibilidade são uma constante. Transparece uma enorme identidade e autoestima local. E a percepção evidente que se tem é de uma cidade e um centro histórico com muito menos edifícios devolutos em mau estado de conservação e com muito menos estabelecimentos comerciais fechados.

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governo local

O recente Guia Autarcas e Autarquias de O Mirante, e também a entrevista do Presidente da Câmara Municipal de Torres Novas, motivam este escrito.

Desde que me lembro, considero o poder autárquico a maior e mais positiva obra do regime instaurado em Abril de 1974. Fundamento a minha opinião em vastos e concretos argumentos e factos. E se alguma dúvida possa existir, basta folhear o referido guia para aceitar o que afirmo. Se passarmos do papel para o terreno e fizermos uma viagem por cada um dos concelhos, tudo fica ainda mais claro. Os governos locais, como gosto de os designar intencionalmente, sobretudo por uma questão de responsabilização, independentemente da sua dimensão e cor política, têm obra feita.

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Tejo a andar

Motivado pela romaria da semana passada volto ao tema do andar. A pé é a melhor forma de conhecer um país, uma região ou até mesmo uma cidade. Andar é o exercício mais natural e mais benéfico. Talvez por isto, e muito mais, há cada vez mais pessoas a caminhar. O acto é tão natural que qualquer um que o faça se sente bem. Se o fizer em plena natureza então o efeito é quase mágico.

Na verdade por todo o mundo as rotas pedestres são grandes atrativos turísticos. Há um mercado enorme associado ao trekking. Inclusivamente no nosso país há excelentes exemplos onde se apostou na oferta de rotas pedestres para atrair visitantes e turistas. Hoje as pessoas deslocam-se, fazem turismo, para andar. É por isso que um dos ícones com relevância na página de entrada da CCDR – Alentejo é “Alentejo a pé”.

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cemitério

O caso do cemitério de Abrantes é excelente para retratar o país que somos e não devíamos ser. Desconheço totalmente o que terá levado os decisores da altura a “comprar” a inovação que está na origem do problema. Por todo a país há soluções deste tipo, que os nossos “amigos” parceiros nos impingiram, que não resolvem coisa nenhuma e que nos levam a gastar o dinheiro que nos faz falta para a saúde, educação, cultura, etc. São autoestradas que não levam ninguém para lado nenhum, são estações de tratamento de águas residuais com soluções que não funcionam, são piscinas que estão fechadas porque não há crianças, etc.

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o valor da natureza

Quanto vale o trabalho das abelhas na polinização das culturas agrícolas?

Quanto vale a capacidade de reciclagem de nutrientes dos ecossistemas?

Quanto vale a pureza da água de uma montanha?

Quanto vale a capacidade de processamento da poluição dos nossos solos e linhas de água?

Quanto vale o bem-estar proporcionado por um passeio na natureza?

Quanto vale uma paisagem natural?

Quanto vale o reservatório de carbono de uma floresta, de um sapal ou de uma turfeira?

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natural.pt

Como facilmente se previa a galinha dos ovos de ouro rebentou. A exploração selvagem do turismo de massas acabou com Veneza. Conforme se lê no El Pais “a alma de Veneza perdeu-se e converteu-se num parque temático tipo Disneylandia onde chineses vendem a outros chineses por 1 € máscaras venezianas fabricadas na China”.

Os poucos venezianos que restam estão saturados e desiludidos; um exército de 24 milhões de turistas por ano torna a cidade dos sonhos românticos num inferno. Os voos baratos e os cruzeiros levaram à extinção da cidade e as autoridades italianas não sabem o que fazer.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan