otros mundos é este mundo, o que está ao lado e tudo à volta. Olhar o mundo com a alma, os passos e também os olhos. O comum e tudo o que está para além disso. As emoções e os estados de alma vividos e sentidos, aqui e agora, avulsos, sem nexo, sem forma ou preconceito. Desde o livro que se lê, à corrida de fim de semana, à água, à sustentabilidade tudo cabe em otros mundos, assim haja propósito e arte para o escrever. otros porque otros não é outros. O mundo e tudo à volta.
A“geologia condiciona a vida”, escrito por um geólogo, cheira a exagero. Não é. Portugal é um país onde, pela contingência geológica, ao longo da história da Terra, esta verdade nos entra pela porta. A farta biodiversidade que, apesar de tudo (fogo, alteração climática, deplorável ordenamento do território …), é disto uma evidência. E na cultura é igual. O alentejano de Beja é diferente do homem de Portalegre. Com alguma atenção a margem esquerda (Serpa e Moura) é marcadamente diferente do resto do Baixo Alentejo, é outra gente e são outras açordas; a falha da Vidigueira (em alentejano lê-se Vdiguêraa) assim o impõe.
Lemos a história da Terra nas rochas e no que elas nos contam, as rochas são páginas do complexo livro, o planeta Terra, que hoje conhecemos. Tempos incomensuráveis (milhões de anos) e forças inimagináveis ditam esta escrita. A maré baixa na praia da Parede (Cascais) é uma página fantástica da história da Terra. Filões básicos, do tempo em que havia vulcanismo ativo em Lisboa, cortam as lajes subhorizontais de calcário – autênticos muros que entram pelo mar. Este apresenta magníficos xenólitos e um rejeito horizontal de mais de 2 metros.
O que é um xenólito?
Na licenciatura em Geologia na U de Évora, ensinamos a “causa das cousas” para melhor compreensão da Terra.
No Tejo a pé todos os meses fazemos uma caminhada/passeio onde, muitas vezes, partilhamos estes e outros saberes (neste blogue no tópico – “emoções com botas” há alguma informação).
O homem sempre recorreu às mais variadas formas de representação e orientação. Com o progresso da ciência desenvolveram-se outros métodos de orientação cada vez mais fiáveis, desde a orientação pelas estrelas, astrolábios, bússolas, até aos recentes e modernos GPS. Com o GPS, que todos temos no bolso, quase que apetece dizer: “nada mais preciso para andar e me orientar no campo”. No entanto não prescindo do mapa, as razões são muitas e esgotaria o espaço disponível para a escrever. O mapa foi e será sempre um dos mais importantes métodos de orientação, a “ferramenta base” para o caminheiro. O mapa é a representação, com maior ou menor detalhe, do local ou dos locais da caminhada. Ao utilizar um mapa, uma das coisas a que o caminheiro deverá prestar mais atenção é a escala. Normalmente no mercado encontramos uma grande variedade, mas os mais comuns e utilizados são os de escala 1:25.000 e 1:50.000, os guias de caminhada usam escalas maiores pela necessidade de representação de alguns pormenores que escalas menores não o possibilitam. Um mapa só desempenha o seu papel se estivermos orientados. Assim, antes de mais, devemos orientar o mapa com o terreno – o norte do mapa deve estar alinhado com o norte geográfico do terreno. Depois devemos identificar exatamente qual a nossa posição no mapa. De seguida, com alguma atenção e interpretação, não será difícil reconhecer a morfologia que nos rodeia, os caminhos, o rio… Este é um excelente exercício para fazer em família. Verá que é tudo uma questão de algum treino. Se pretende efetuar uma caminhada e não sabe muito bem “ler” o mapa, fique então a saber que:
Castanho – relaciona-se com a terra, as curvas de nível que representam a morfologia do terreno (os vales e os montes). As curvas de nível indicam o grau de inclinação ou o declive do terreno. Se as curvas estiverem muito separadas, significa que o território representado é praticamente plano. Os números que aparecem junto das curvas nível correspondem à altitude das diferentes zonas sobre o nível das águas do mar;
Azul – é a cor que nos identifica a água (os rios, os lagos, terras pantanosas, pontos de água – nascentes, poços etc.);
Preto – aparece associada a tudo aquilo que sofreu a ação do Homem (estradas, casas, cabos de alta tensão, veredas,…) e também pedras e rochas;
Vermelho ou púrpura – para sinalizações adicionais ou percursos de orientação, também as estradas nacionais;
Branco – assinala-nos a vegetação, no entanto se esta for espessa aparece a verde e para assinalar terrenos de cultivo, prados ou pousios aparece-nos a amarelo.
Para além dos mapas gerais, existem os específicos para as caminhadas. Estes mapas, sendo normalmente bastantes esquemáticos, têm como principal função indicar trilhos, lagos, miradouros, entre outros. Estes mapas recreativos normalmente possuem uma série de elementos úteis ao caminheiro, com um maior ou menor detalhe. Os mapas detalhados (normalmente os turísticos) indicam os pontos onde se pode contemplar diferentes espécies de animais e plantas, a altitude de uma determinada serra e inclusivamente indicam o tempo que se levará a percorrer um determinado trilho. Os mapas, para além das cores atrás mencionadas, possuem também um vasto leque de símbolos, que podem ser diferentes para cada caso, mas na maioria das vezes são os símbolos convencionais usados em todos os mapas. Para se orientarem os caminheiros contam com algo de muito importante para além do mapa: os sentidos. Se aprendermos a interpretar a informação captada pelos nossos olhos, nariz, pele e ouvidos é difícil não nos orientarmos durante um percurso. Para tal basta tomarmos atenção ao que nos rodeia e ao mesmo tempo registarmos mentalmente (ou num papel) algumas notas. Tomar notas (mentalmente ou por escrito) e fazer croquis ajuda a observar e recordar o que nos rodeia e torna o percurso mais fácil, especialmente quando estamos num sítio desconhecido e temos de regressar por nós próprios. Estas são, todavia, algumas das imensas potencialidades da caminhada, que vai muito além do caminhar. Tomar consciência do que nos rodeia pelos nossos sentidos.
Todos os meses, uma caminhada acessível a todos, sem custos, onde a motivação é o viver a natureza. Para caminhar no Tejo a pé, logo que as condições sanitárias o possibilitem, basta enviar um mail a cupeto@uevora.pt.
(tudo isto e muito mais no Fugas a pé, um livro guia para caminhar, disponível na loja online do jornal Público)
Enquanto o “bicho” não nos deixa andar em grupo livremente pelo campo, preparamos-nos para andar.
Como em tudo o equipamento adequado é meio caminho andado. Umas calças leves e uns ténis servem., mas, as calças e umas botas próprias para andar são melhores. Todo o equipamento para uma caminhada é importante, a começar pela mochila. Nunca troque uma mochila por nada, o peso, mesmo pouco fica bem distribuído, as mãos livres etc. Mas o nosso foco vai para o mais importante para fazer uma caminhada confortável e segura, o calçado, botas ou sapatos de caminhada – vamos usar o termo “botas” mas a sua escolha podem ser uns sapatos; a maior vantagem das botas é a proteção dos tornozelos. Poucos equipamentos evoluíram tanto nos últimos anos como as botas de caminheiro. Referimos-nos a botas ligeiras, para andar, e não a botas de montanha. São as botas que nos levam ao nosso destino. Temos de ter em atenção que, ao escolher o calçado, estamos em simultâneo a proteger a coluna vertebral e as articulações, que são ameaçadas pelo contacto dos pés contra o solo, além dos próprios pés. Saibamos desde já que as “botas todo-o-terreno” não existem. Há uma “bota” para cada atividade. Dentro das dezenas de marcas e das centenas de modelos há as botas que mais se ajustam às suas necessidades. Normalmente os especialistas recomendam as botas de trekking, pois este tipo de botas possui sola aderente e protecção para os tornozelos. A nossa experiência diz-nos que botas são botas e as vantagens de as usar são imensas. As botas é onde não se pode poupar, ao fim de algumas dezenas de quilómetros e alguns anos vai verificar que valeu a pena.
Por último, nunca se devem estrear botas para iniciar uma
caminhada, mas sim utilizá-las previamente durante umas semanas, na falta de
melhor quando vamos passear o cão.
Todos os meses, uma caminhada acessível a todos, sem custos,
onde a motivação é o viver a natureza. Para caminhar no Tejo a pé, logo que
seja possível, basta enviar um mail a cupeto@uevora.pt.
(texto adaptado de: Fugas a pé, um guia para caminhar,
disponível na loja online do jornal Público)
[artigo publicado no Notícias do Mar em novembrode 2020]
Caminhar, como qualquer outra actividade, para ser gratificante exige equipamento adequado.
Para uma boa caminhada há uma regra fundamental, ter prazer no caminhar e deixar em casa todos os problemas e assuntos que o acompanham todos os dias. Desde logo há uma pergunta fatal, incontornável, que todos os caminheiros colocam à partida; “quantos quilómetros são?” Para além da condição física e condições climatéricas nunca devemos esquecer o equipamento. O mês passado escrevemos sobre botas, hoje é a vez de uma outra peça de enorme importância, a mochila. No que me toca fica de fora qualquer outro tipo de saco, coletes com infinitos bolsos, onde nunca tenho à mão a navalha porque me esqueço do bolso onde a pus, etc. Mochila é mochila.
Para muitos a mochila é o símbolo da liberdade. Deve ser
cómoda, leve, robusta e prática – a organização e a acessibilidade aos diferentes
sectores é essencial. Nalgumas situações o carácter impermeável pode ser uma
característica importante. Todavia, no mercado existem capas muito simples e
práticas, provavelmente a melhor solução. Alguns dos modelos hoje existentes
incorporam a capa impermeável. O tipo e tamanho da mochila para uma caminhada
varia consoante o tipo de percurso e a sua duração. De qualquer modo deve ser
resistente, com apoio lombar, alças acolchoadas e ajustáveis à cintura. A
mochila ideal será aquela que depois de cheia, e com as alças bem reguladas se
adapte perfeitamente à região lombar, sem ultrapassar a altura das ancas ou
forçar a coluna vertebral. Todavia, subsiste
a pergunta: como escolher uma mochila? Como sempre o mercado hoje não nos
facilita a vida, na hora de comprar a oferta é infinita. Para uma caminhada de
um dia será necessária uma pequena mochila (que no máximo leve 3 – 4 kg de
peso), para uma caminhada de mais dias o tamanho da mochila terá de ser maior,
mas o peso a transportar nunca deverá ser proporcional. Não há, no entanto,
necessidade de comprar duas mochilas diferentes, para fazer face a dois
percursos de duração diferente. Deve-se comprar uma suficientemente grande,
mesmo que haja alguns inconvenientes de carregar uma mochila meio vazia. Para
satisfazer esta necessidade uma mochila com capacidade de 25 a 35 litros
constituirá a opção mais acertada. De salientar que a mochila vazia deve pesar
aproximadamente 500 gramas. Depois da escolha, seguem-se mais algumas
perguntas, como arrumar a nossa mochila? O que levar? … A prática ensina-nos. No
fim, o fundamental: leve tudo o necessário com o menor peso possível. E, nunca
esqueça, tanto pesa o que levamos inutilmente como o que esquecemos em casa e
nos faz falta.
Todos os meses, uma caminhada acessível a todos, sem custos,
onde a motivação é o viver a natureza. Para caminhar no Tejo a pé, logo que
seja possível, basta enviar um mail a cupeto@uevora.pt.
(tudo isto e muito mais no Fugas a pé, um guia
para caminhar, disponível na loja online do jornal Público)
A onde te levam os teus passos? Andar, enquanto prática básica humana, é um ato físico, mas também, e não menos, cultural. Não há melhor forma de conhecer uma região, uma cidade, um povo. Andar tem um enorme eco espiritual, cultural e político. Todos no Tejo a pé sentimos isto, se andarmos o mundo, a terra onde vivemos, é melhor. Andar liberta-nos da geografia como nenhuma outra forma de deslocação. Andar é um ato de união, é isso que fazemos há mais de 10 anos, muito informalmente, sem caprichos, no Tejo a pé. Andamos porque sim. Andamos devagar, pouco, ao ritmo de todos, mas andamos. Andar é ver o mundo à nossa volta como nos esquecemos de o fazer, é redescobrir terras conhecidas, para, finalmente nos conhecermos melhor. Andar é, provavelmente, o verbo com mais significado, incluindo viver. Mesmo o caminho de ida e volta nunca são iguais e isso ensina-nos muito. “Caminhar é uma das belas artes” (Thomas De Quincey, Londres, 1802), venha daí connosco, em fevereiro dia 23, na boa terra de Sintra, com passos na zona do Magoito-Praia da Samarra.
Seguimos com a Agenda Arrábida, este é o ponto 4 de 5.
Quatro: Programa Anual de Atividades.
Acreditem que o céu é o limite quando pensamos no programa anual de atividades da Arrábida; limpeza voluntária com envolvimento dos cidadãos, observação de aves, caminhadas, caminhadas temáticas, observação de flora, ervas aromáticas, “trails” desportivos, etc., etc.
Uma história pessoal levou-me a uma caminhada numa das mais bonitas Grandes Rotas do Mundo, nas terras altas da Escócia, o West Highland Way (WHW). Como sabemos a Escócia e a natureza confundem-se. O campo, a floresta, os rios e os lagos entram pelas cidades, vilas e aldeias. Por isto, é impossível a um escocês ignorar o meio natural, vive na natureza. Esta faz parte do seu ecossistema e qualquer um, por muito distraído que seja, sente isso.Tudo é pretexto para ir ao campo usufruir do campo.
Voltámos ao sempre surpreendente Parque Natural das Serras de Aires e Candeeiros. O ponto de encontro foi na charmosa terra de Alcanede. Desta vez para além da paisagem única do carso (rocha calcária alterada) fez parte do programa espreitar “o interior da coisa”, isto é, a descida à Gruta – Algar do Pena.
…
Mais dois ou três quilómetros andados, sempre com boa conversa, e chegámos à atração da tarde, o “baile dos dinossauros”. O adequado nome para a enorme jazida de pegadas nos calcários do Jurássico Médio que podemos gozar em Vale de Meios.
artigo completo no Notícias do Mar de novembro de 2018: