Transição Ecológica – vida local

  1. o Homem e o lugar, terroir, genius loci;
  2. recursos, abrigo, segurança;
  3. em set 23 compro limões da África do Sul a 1,8€/kg no Algarve, viajo de Lisboa para Londres por 30€;
  4. O Earth Overshoot Day (dia da sobrecarga da Terra) este ano em Portugal será em abril – em 2021 Lisboa foi a capital verde da Europa;
  5. problemas complexos não têm soluções simples e únicas;
  6. mitigação, adaptação, reversão/regeneração;
  7. um corte abrupto não é possível e seria muito mais catastrófico que as consequências da alteração climática – a China todos os anos constrói dezenas e dezenas novas centrais a carvão;
  8. este modo de vida não tem solução, falta tempo à “esperança tecnológica”;
  9. as escolhas/soluções locais têm conexão com o meio e são mais eficazes, inclusivas e equitativas;
  10. os recursos essenciais à vida são locais: água, solo, (qualidade do ar), território (Portugal vazio);
  11. geobiodivresidade;
  12. recursos escassos devem usados de forma útil, não destrutiva (ex: água);
  13. mitos, tabus e mentiras: Montalegre, set 23, lítio e jardim de infância;
  14. vida local, regenerar e valorizar;
  15. autonomia energética – ex: lixo;
  16. suficiência alimentar;
  17. segurança hídrica – Alqueva;
  18. isto não é uma opção política, é uma urgente necessidade política.

(tópicos de intervenção)

Ciclo de Conversas – Uma Saúde

Conversa de OUTONO

Clube da Natureza de Alvito

Alvito, 30 set 23

casta alentejana

Sou independente, democrata liberal que preza a liberdade individual e a responsabilidade perante os outros;  somos todos iguais nos deveres e nos direitos, nas oportunidades de estudar, trabalhar e de ter uma casa condigna. Entre outras, há duas coisas que me custam: conversar com alguém que se julga dono da “verdade” e ser politicamente correto, só porque sim.

Orlando Ribeiro, o maior geógrafo português de sempre, explica o que somos pelo terroir, isto é, pela geologia e clima. Se é assim com vinho e com tudo o resto porque não seria com os humanos? Na verdade, o minhoto é diferente do alentejano como Orlando Ribeiro exemplifica. Somos a terra onde nascemos e vivemos. Se não perceber isto paciência. Sou branco, cristão moreno, quase meio “aciganado”, nostálgico, homem do sexo masculino, alentejano e assim serei até ao fim; diferente dos algarvios, dos louros da Holanda e dos pretos de África. Somos todos diferentes. Aqui, no Alentejo, sobretudo a seguir ao almoço o ritmo de trabalho não pode ser elevado, nesta tarde de agosto em Évora estão 44 graus. Se não compreendem, os conterrâneos da Van der Laien que venham cá experimentar uma semana e depois conversamos. Não quero os queijos franceses, o vinho de Bordéus, as pizzas italianas ou os 5 jotas espanhóis; quero os queijos do Cano, os chouriços de Estremoz, o presunto de Barrancos, o vinho da Vidigueira ou Borba e o azeite de Moura. Isto, e tudo à volta, é o melhor do mundo para o meu modo de vida na terra onde nasci, onde sou feliz. Por isto e muito mais, sou um obcecado pelo up local, não agora, desde sempre. Eu sou, a vida que tenho é o que Sou, nem mais nem menos. Contrariar isto é contra a Natureza; o resultado da loucura que por aí anda começa a ser demasiado inequívoco para ser negado.

Escolhi ser remediado e feliz, na terra onde nasci, honrando a cultura e os saberes dos meus antepassados. Pode ser?

regresso

hoje, 14 de agosto, volta www.otrosmundos.cc

c de Carlos e

c de Cupeto.

todos os mundos têm uma história. Numa caminhada com sentido de 350 km (Oviedo – Santiago de Compostela), em Ourense, en la tienda Otros Mundos, em 2012 esta história de otrosmundos.cc começou.

o mundo visto pelos meus olhos.

o mundo e tudo à volta.

desde o início de 2013 cerca de 750 escritos, muitos deles, a maioria, publicados em jornais e revistas. Organizados por duas dezenas de categorias: à beira-mar plantados, micro estórias, coisas de vinho, conversas de cesta, núticias, água, calhaus, economia verde, emoções com botas, Tejo a pé, ri palhaço chora homem sofre cão, (des)ordenamento; Marilyn…

boas leituras.

bem vindos comentários.

 os mundos, estes e os otros, agradecem.

PS – a minha gratidão especial vai para o Senhor Santiago, grande amigo sempre presente, para a galega de Lugo dona da loja Otros Mundos e para o Paulo Ribeiro um grande amigo de sempre que me acompanhou durante anos e que assim continua, agora à distância.

aeroporto circular

Convém lembrar que quando tratamos de aviões e aeroportos a escala é global. Ou seja, Lisboa é arredores de Madrid; no caminho em que estamos, queiramos ou não, cada vez mais o será. Nesta escala e contexto, Beja não é interior, não é arredor ou tão pouco subúrbio de Lisboa; Beja é Lisboa. Acontece que o aeroporto de Beja existe porque, em determinada altura, a Força Aérea escolheu esta localização pelas suas condições aeronáuticas excecionais e instalou ali uma base aérea que, em termos de área ocupada, é a maior da Europa e uma das maiores do mundo. Foi essencialmente por esta razão, qualidade aeronáutica excecional, que a Força Aérea alemã ali se instalou desde muito cedo. A escolha alemã, pelo que sabemos do povo alemão, devia-nos bastar para considerar Beja como uma hipótese muito séria. Mas não, andamos há 50 anos a ouvir tudo e todos de modo a justificar a inércia para a tomada de decisão.

Artigo completo na revista Visão:

https://www.dropbox.com/s/26z8kc58snanxtj/aeroporto%20circular%20-%20Vis%C3%A3o%20-%2013%20jan%2022.pdf?dl=0

Évora, Feira de S. João, miséria ideológica

No dia e à hora em que escrevo, ainda não fui à Feira; com o melhor ou o pior arrumo da coisa, variável todos os anos, essa circunstância em nada condiciona o que vou aqui escrever. Os factos, um pouco diferentes da opinião, têm dezenas de anos e desde há quase 30 anos que os escrevo no DS. Fui criado na Feira de S. João, primeiro no Chafariz d´ el Rei e depois vivi uns 7 ou 8 anos na Urbanização da Muralha, encostada à Epral. Fui das primeiras pessoas a ir para ali viver, ainda a aberrante avenida empedrada não existia (na circular à cidade, onde não vivem pessoas, asfaltou-se; onde se vive e há hotéis, calcetou-se).

Nessa época a “experiência Feira de S. João” não era passível de descrever, um absurdo. O que me diz a Feira no Rossio é, hoje, mais ou menos o mesmo, não tem ponta por onde se lhe pegue: salubridade, valorização e conservação do Centro Histórico, mobilidade, ordenamento, sustentabilidade, qualidade de vida, ruído, turismo, segurança, etc., etc.  A Feira é a negação de tudo isto e muito mais; tudo o que nos querem fazer crer nos outros dias do ano. A incapacidade da cidade para ter uma localização e infraestruturas adequadas à Feira, comprova tudo o resto que Évora hoje é; quem pode e quer ver, vê. Contra este forte conjunto de evidências, surge a retórica ideológica do debate, discussão pública, pluralidade e ideias e opiniões, etc. Tudo se resumiu, até agora, em incompetência e miséria ideológica. Uma jovem eborense, formada e informada, disse-me que a Feira no Rossio é bom para tapar a miséria que é o Rossio… No Rossio, ou à volta, conto oito hotéis, não considerando o Alojamento Local e os Hostels. A mobilidade em Évora não é má, é péssima, durante o mês de feira é pavorosa.

Não é preciso ir muito longe para ver o que Évora devia ter feito e não fez: Estremoz, Reguengos, Beja, Portalegre, Portel, entre muitos outros, são bons exemplos. Mais grave é a Feira no Rossio ser apenas um exemplo de quase tudo o resto: há algumas dezenas de anos que Évora parou e regrediu. Comparar Évora com Castelo Branco, Covilhã, Vila Real, etc., é chocante – “ri palhaço, chora homem, sofre cão.”

correr para quê?

Passados alguns anos, sete desde a última, e alguns mais depois da participação regular em provas, voltei a correr com um dorsal (correr uma prova): corri a Marginal à Noite. Uma velha pequena grande prova no melhor concelho do país, Oeiras. E se Portugal fosse todo como Oeiras?

A memória e o gosto da corrida mora em mim há 49 anos, por muito dura e angulosa que seja, não há pedra no ténis que resista. Esta identidade com a corrida tem muito peso, muita força, há um passado, não quantificado, de muitos quilómetros, de muita cabeça. A cabeça, também na corrida, é o músculo mais importante. “O passado não está morto”, escreveu Faulkner em “Requiem por uma monja”; e acrescentou: “Nem sequer é passado.” Impossível dizer melhor: o passado nunca termina de passar, sempre está aqui, operando sobre o presente, formando parte dele, habitando-nos. Viver um presente sem passado é viver um presente mutilado. É dizer: viver uma vida mutilada. (Javier Cercas, “La dictadura del presente”). Toca a correr. Este sempre foi o meu método, nada de planos, sistemas, séries, o que seja, tudo se resume a quilómetros nas pernas.

Porquê? A corrida faz parte de mim. Em mil novecentos e setenta e picos em Évora, muito parecida com a de hoje, se honestamente incluirmos o fator “tempo atual”, praticar desporto era muito difícil. A corrida foi o possível, barato, fácil e independente. Uns anos mais tarde a presença diária no Estádio Universitário, onde me cruzava amiúde com os atletas de nome mundial, animou e consolidou a coisa.  Décadas depois, a vida profissional em Lisboa e a pessoal e social em Cascais, amplificou e embelezou a prática.

Para quê? Esta é pergunta; andamos sempre atrás do “porquê” e na verdade o que importa é o “para quê”. Quem corre sabe a resposta, é simples e complexa. A corrida é como a música ou outra coisa, transforma e eleva. A corrida é como outra coisa qualquer, depende da forma como se faz. “Descasca uma laranja como se dirigisses uma orquestra”, diz um saber antigo, dá a melhor resposta. Para além de um treino para a vida, e para o corpo, a corrida, exigente e intensa leva-me ao mais profundo do que Sou. Quase uma meditação. Tantas vezes saio do lugar que os ténis pisam.

Para além do desafio, a Marginal à Noite’22 foi um teste a quase tudo o que este esqueleto agrega. Depois de, há uns anos, uma longa paragem por significativas limitações físicas, de outros tantos anos de uma lentíssima, mas persistente recuperação, quero saber como está o corpo. Esta é a resposta mais fácil e foi positiva, sobretudo no que diz respeito às canetas. Já no que respeita à parte respiratória a resposta não é “sim” e “não”; houve má gestão por falta de treino com o “peso” do dorsal. Quem corre sabe que fazer um treino ou um prova são coisas muito diferentes mesmo que distância e o percurso sejam os mesmos. A cabeça também não esteve sempre bem. Estamos entregues a nós próprios e, como sempre, o mal do Homem é pensar.

Quem pensa que há corridas com percursos planos engana-se, plano só de automóvel, ou em casa no PC ou sofá. Logo depois da partida em St. Amaro de Oeiras na direção a Caxias, onde se inverte o sentido, há cerca de um quilómetro a subir. Estes são os passos mais importantes. Mas antes há a caixa e partida e, entretanto, na minha ausência, o mundo mudou para pior. Em 3000 criaturas fui o único que não tinha um smartphone na mão. Foi uma muito má surpresa. Absurdo e, pior, estúpido. Velhos e novos, todos com o foco no ecrã. Ninguém está ali a viver a experiência. Apenas uns, ainda mais velhos que eu, da Lage, mandavam umas bocas uns aos outros, mesmo assim não resistiram e tiraram uma selfie. Aquele tempo, sempre excessivo, foi ainda mais longo. As boas conversas com quem não se conhece antes do tiro de partida estão agora proibidas. Pior, este tempo de espera serviu para me aborrecer, ainda me aborreço com a cretinice estúpida. O mais grave é que isto tornou a minha subida, o primeiro quilometro, abruptamente mais difícil. Para além da minha fraqueza de me deixar aborrecer com o absurdo, depois do sinal partida, pelo enorme Isaltino, não consegui começar a correr porque estavam todos de aparelho na mão, muitos de mão ao alto, como que a pedir clemência ao Céu. Inacreditável é que durante a prova muitos vão com o “bicho” na mão em atividade.

No fim, na verdade o Céu existe, a cabeça foi esquecendo o que não presta e o pensamento do coração prevaleceu; dei-lhe com alma.

Uma outra pergunta surgiu; vão haver mais dorsais na minha camisola?

bosque urbano

(cidade da Malagueira, Siza Vieira, Évora)

A Av. da Malagueira vem do antigo Casão (hoje Pingo Doce), desce até passar a ribeira da Torregela e sobe deixando a praça José Afonso à esquerda (junta de Freguesia) e o jardim dos Socalcos à direita. A rampa da rua do Arrife leva-nos às piscinas. Um final de tarde destes sentei-me num poial em mármore a fazer o que mais gosto, nada – a observar. Em frente, um imenso relvado bem tratado e aparado atravessado por uma ribeira maltratada, desprezada e ignorada. Este tempo, pré-eleitoral para o governo local, é o certo para sabermos quanto custa por ano em Euros este relvado? Aposto que ninguém sabe. Ou, se alguém sabe não tem a coragem de o dizer. Sei que é muito, mas muito dinheiro. No que respeita ao custo ambiental a coisa é de tal forma absurda e estúpida que fico por aqui. É por estas e outras que a 13 maio último, Portugal esgotou os seus recursos para 2021 e ficamos 7 meses a usar o que não nos pertence. Alguém está a sofrer, sem água e alimentos, por esta vergonhosa desfaçatez lusa. Neste dia, a notícia foi a Grécia e a Turquia, com temperaturas brutais, a arderem… Isto é, o que todos os candidatos à governação de Évora papagueiam como “alterações climáticas”. Inevitável, vi naquele relvado um magnífico bosque urbano, sem custos de manutenção e atravessado por uma ribeira viva e vivida. Um bosque com infinitas mais valias, destaco uma muito maior biodiversidade, a amenização da temperatura ambiente, e, em tempo de chuva, a maior infiltração e retensão de água e sedimentos. Há ainda, várias cerejas em cima do bolo; isto não necessita de nenhum estudo, se o fizerem, estão mais uma vez a estragar o dinheiro dos nossos impostos, e não tem custos; provavelmente o custo de um mês de relva dá para plantar o bosque. É irónico, mas a poucos metros há dois exemplos entram pelos os olhos de quem quer e pode ver; a jusante do lago há um pequeno bosque e as pimenteiras junto às escolas e Pingo Doce. Este último, provavelmente, o espaço verde mais sublime e verdadeiro de Évora. Por favor, por nós todos, não se perca a oportunidade da próxima época de plantação. Cada semana que passa é muito tempo e muito se perde, o bosque vai levar alguns anos a ter o seu efeito.

Entretanto um casal de velhos passeia na via alcatroada dedicada ao trânsito automóvel e desvia-me do tema. Um perigo. Na verdade, o largo passeio que esta avenida tem, num dos lados, não serve para um velho passear, tal o número de obstáculos, encabeçados pelos automóveis. Alguns destes automóveis têm donos mais espertos que utilizam o aqueduto como uma espécie de garagem.  O tal bosque possibilitaria, isto é, convidaria, sem dificuldade, a um passeio do outro lado da avenida. Tudo isto sem estudos.

Entretanto, chega a hora de centenas, milhares?, de morcegos saírem do aqueduto e irem à sua vida. Vejo-os em direção à quinta da Malagueira, será que é ali que encontram os insetos para o seu sustento? Pelo seu grande número, isto terá algum significado ecológico? Alguém que saiba da matéria já estudou o assunto? E o tal bosque, vai dificultar a vida a estas criaturas? Aqui sim, matéria para um estudo que já devia estar feito.

Caiu a noite, mudei o meu olhar, a avenida ficou com menos tráfego e a Malagueira ficou ainda melhor.

velhos e covid

Quando os amados velhos são desclassificados para idosos ficam logo a perder. Pior ainda é quando passam a “idosos e idosas”. Uma goleada sintetiza a coisa. Como se sabe, no norte morreram menos velhos com Covid do que no sul. Não é preciso gastar um cêntimo a fazer mais um estudo para sabermos porquê. É porque no norte há mais família e menos lar. Segundo o Público, em 2019, antes do vírus, a OCDE divulgou um relatório, sobre os cuidados aos velhos, que conclui “níveis de pessoal inadequados, má qualidade de trabalho e falta de qualificações, que põem em causa a qualidade dos cuidados e a segurança”.  Entretanto começa-se a saber, ou suspeitar se preferir, que em muitos lares morrem mais velhos de tristeza do que de Covid. Os ridículos de Covid que vivemos têm num velho um efeito devastador, na “linguagem” de velho resume-se no desinteresse pela vida. Como se explica a um velho que agora não pode assistir ao crescimento dos netos e que não pode ver a família? Se houve tempo em que isolamento teve alguma razão, neste tempo chamo-lhe estupidez. Estupidez que não resolve coisa nenhuma e cria outros problemas. Sobretudo quando as orientações de entidades competentes se alteram como um cata-vento. Antes que seja tarde demais é tempo para que tudo isto seja doseado com bom senso. A não compreensão do que nos pedem começa a ser inaceitável. A reacção e o ajuste de mediadas leva uma enormidade de tempo e muitas vezes, quando as decisões são implementas já estão desactualizadas. Nos lares é tudo ainda pior, a mais das vezes as sucessivas decisões são contraditórias, o medo é ainda maior e faz o resto.

Deixem os velhos estarem com as suas famílias, verem e respirarem as suas casas, apanhar ar puro e os resultados serão bons. 

todos iguais


todos iguais em tudo

mas, muitos só querem ser iguais no que lhes interessa.

será que, afinal, somos todos diferentes?

viva o 25 de Abril

Viva o 25 de abril? Obviamente. Ainda se questiona abril? Ou alguém nos continua a enganar e a subjugar?  Sinto-me incomodado, ao fim de 47 anos, por ainda haver a necessidade de publicitar a democracia e fazer com que não se esqueça. Será que o fascismo ainda por aí anda à espreita e é uma ameaça para abril? Se assim for, o meu incómodo passa a terror. Na verdade, em Évora, vejo um cartaz que diz “viva o 25 de abril, fascismo não”; 47 anos depois? Será esta uma preocupação dos portugueses que são livres ideologicamente e de interesses? Um cartaz destes leva-me a pensar que o mesmo povo que foi subjugado pela ditadura e preso pela PIDE, ainda está agora, 47 anos depois, preso por interesses que não os seus. Porque ouço, cada vez com mais insistência, que é preciso “aprofundar a democracia”? Ao fim de 47 anos ainda nos falta democracia? Quem são os responsáveis e o que andámos a fazer? Quem boicotou abril? A situação a que chegámos é culpa dos fascistas que ainda por aí andam? O que justifica esta suposta ameaça do fascismo? O que falta fazer?

Sabemos que estamos cada vez mais pobres (não se aceita a hipocrisia de nos compararmos com o 24 de abril de 74, a comparação só pode ser feita com os países da nossa geografia nos dias de hoje), que as desigualdades são cada vez maiores e que o “construam-me porra” do Alqueva se traduz, entre muita matéria questionável, em imigrantes a ganharem 400 €/mês e a viver sub-humanamente, à meia dúzia em cada “quarto”. Certamente que nada disto é abril. Tudo isto me envergonha e incomoda profundamente. Talvez seja tempo de verdade. De pensarmos por nós, acreditarmos na nossa terra, nas nossas capacidades e nos nossos recursos. Não é aceitável que cerca de 30% do nosso povo, os melhores e mais talentosos, tenha que sair do seu país para criar a riqueza que aqui não consegue. Por cá, a intensidade energética é altíssima, a produtividade ridícula e a carga fiscal absurda (a pesadíssima e ineficaz máquina do Estado não tem alternativa): o resultado final só pode ser um “mau”. Quarenta e sete anos depois isto satisfaz alguém? Isto chega-nos, ou é melhor arriscar por outros caminhos? Acreditamos que vem aí um saco de dinheiro, mais um, que vai resolver a coisa? Ou queremos aceitar a verdade e o caminho certo que nos dê alguma esperança de podermos construir um país mais justo, próspero e feliz? Vou continuar a ter esperança.

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan